28/04/2020 - 6:53
Todos os dias, desde fevereiro, a médica árabe-israelense Khitam Hussein, diretora do serviço do novo coronavírus no maior hospital do norte de Israel, acorda às 5h30 e coloca sua vida em risco para salvar a dos demais.
“É um trabalho extremamente difícil”, afirma a epidemiologista à AFP. “Com a pandemia, nenhum dia se parece com outro, nossas vidas estão completamente abaladas”, completa.
A médica trata os pacientes protegida com uma máscara, mas isso não impede que se afeiçoe aos infectados, como aconteceu com um casal de idosos, aos quais permitiu um último momento juntos, quando o estado de saúde do marido se tornou extremamente grave.
“Permitimos que a mulher enferma (também com o novo coronavírus), apesar de seu estado, se despedisse dele”, explica Hussein, de 44 anos. O marido faleceu pouco depois, e a esposa sobreviveu à doença.
Israel registra oficialmente mais de 15.400 casos do coronavírus e 200 mortes. Os números sofreram uma desaceleração nos últimos dias, e as autoridades decidiram flexibilizar as medidas de confinamento, com a permissão de reabertura do comércio.
Com sua equipe, a doutora Hussein atendeu a quase 60 pessoas contaminadas que retornaram para suas casas. Seis pacientes continuam hospitalizados, e quatro faleceram.
A missão diária é salvar o máximo de vidas, sem distinção entre árabes e judeus, insiste a médica, que nasceu em Rameh, uma cidade árabe-israelense próxima de Acre (oeste).
Os árabes-israelenses, descendentes dos palestinos que permaneceram em suas terras após a criação de Israel em 1948, representam quase 20% da população de Israel.
Eles se consideram vítimas de discriminação social e criticam a lei do Estado-nação que consagra o caráter judaico de Israel.
A crise do novo coronavírus evidenciou a presença de árabes-israelenses na linha de frente do combate à pandemia ao lado de colegas judeus.
O papel de Khitam Hussein foi destacado pela imprensa de Israel, assim como o do hospital Rambam, onde ela trabalha, e que é elogiado como um exemplo de coexistência pacífica entre árabes e judeus, tanto médicos como pacientes.
Trabalhando 12 horas por dia há mais de dois meses, Hussein mal tem tempo para estar com sua família. Desde o início da crise, ela decidiu não visitar a mãe, pelo temor de transmitir o vírus.
Após a longa jornada de trabalho no hospital, quando chega em casa, a médica coloca as roupas na máquina de lavar e toma banho, antes de entrar em contato com as filhas de 8 e 10 anos.
Alguns colegas não voltam para suas casas após as muitas horas de trabalho no hospital e para evitar o risco de infectar os parentes.
“Deixei de ver meus pais, mas não consigo deixar de ver minhas filhas”, diz Hussein. “Não consigo descrever o quanto sinto falta delas”, desabafa.
Recentemente, a mais nova ligou para o hospital. “Ela não parava de chorar no telefone, disse que sentia minha falta e me perguntou quando eu voltaria para casa”, recorda.
“Durante um instante, pensei que iria desmoronar. Depois me recuperei e voltei ao trabalho”, explica.