Em um último abraço, Mariam al-Ghandur aperta contra ela o corpo de sua filha Leila. “Os israelenses a mataram”, diz, chorando.

O bebê de oito meses faleceu após inalar gás lacrimogêneo durante os confrontos entre manifestantes palestinos e soldados israelenses na segunda-feira (14), perto da fronteira entre Gaza e Israel, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.

A família insiste na responsabilidade do Exército israelense, mas tem dificuldades de falar das circunstâncias que levaram o bebê a estar perto da fronteira com Israel, no dia mais violento do conflito israelense-palestinos nos últimos quatro anos.

Ao menos 60 palestinos morreram na segunda-feira por disparos de soldados israelenses, elevando para 114 o número de habitantes de Gaza mortos desde o início desta onda de protestos, em 30 de março.

Leila é um caso particular. A maioria das vítimas morreu por disparos de atiradores de elite, mas ela faleceu após inalar gás lacrimogêneo, temporariamente doloroso para os adultos e potencialmente letal para as crianças.

Sua mãe, Mariam, de 17 anos, explica que tinha consulta marcada no dentista. “Deixei Leila com meus irmãos, em casa”, conta à AFP da casa da família, a leste da Cidade de Gaza. “Meu irmão mais novo a levou com ele e foi até a fronteira”.

No fundo do quarto, Ammar, de 11 anos, soluça sem conseguir se conter, observando o corpo do bebê pouco antes de seu enterro.

Achava que sua irmã Mariam estava na fronteira com a mãe e outros parentes, assegura. “Eu a levei no ônibus (…) Me sinto responsável pela sua morte”, reconhece.

– ‘Mal conseguia respirar’ –

Ammar finalmente encontrou sua mãe, Heyam, perto da fronteira e entregou a menina. Só permaneceram ali alguns minutos, antes que os soldados israelenses começassem a jogar bombas de gás lacrimogêneo contra eles, detalha a avó do bebê.

“Mal conseguia respirar”, diz. “Nos afastamos, deixei Leila com a minha irmã e fomos buscar outras duas crianças para ir embora”.

“Bebeu suco, mas chorava muito”, lembra. “E de repente se calou. Achei que estava dormindo”, acrescenta.

Ao sair do ônibus, a família percebeu que a menina estava azul. “Fui ao hospital e me disseram que estava morta há uma hora”, conta.

Milhares de manifestantes se reuniram na segunda-feira na barreira que separa a Faixa de Gaza de Israel para protestar contra a inauguração da embaixada americana em Jerusalém nesse mesmo dia.

Somente alguns cidadãos de Gaza tentaram cruzar a barreira. Os soldados israelenses lançaram gás lacrimogêneo e atiradores de elite dispararam contra a multidão.

Diante das numerosas críticas internacionais, Israel afirma que agiu para se proteger diante de possíveis incursões de habitantes de Gaza em seu território.