Enfrentar a velhice com saúde e bom humor – essa meta ambicionada por qualquer ser humano já inspirou espetáculos como o recente Barbaridade, musical com título esperto, escrito por um trio especialista no assunto: Luis Fernando Verissimo, Ziraldo e Zuenir Ventura. Agora, chega a versão nacional de um sucesso europeu, Forever Young, que estreia sexta-feira, 19, na sala Raul Cortez do Teatro Fecomércio.

A trama acompanha seis grandes atores que representam a si mesmos no futuro, em 2050, quando já são quase homens centenários. Passam seus dias em um teatro transformado em retiro para artistas, sempre sob a supervisão de uma enfermeira nada simpática, que é a bem-humorada versão da sádica profissional consagrada no filme Um Estranho no Ninho. Na ausência dela, os velhinhos desabrocham e mostram que sangue de roqueiro ainda pulsa em suas veias, revelando sua verdadeira personalidade. “É importante dizer que não se trata de um deboche, mas sim mostrar a alegria e a superação apesar das limitações”, comenta Jarbas Homem de Melo, que assina e direção e também integra o elenco. “Todos estaremos nessa situação um dia, é como rir de si mesmo no espelho do futuro, tudo é possível se separamos a dor do sofrimento e a vida deve ser uma festa até o fim.”

Escrito pelo suíço Erik Gedeon, Forever Young conta com hits de sucesso do rock/pop mundial dos anos 1970, 80 e 90, que se tornaram verdadeiros hinos, como I Love Rock and Roll, Smells Like a Teen Spirit, I Wil Survive, I GotYou Babe e, claro, a emblemática Forever Young. Haverá ainda um bloco apenas com canções nacionais. “A música é magia pura”, continua Jarbas. “É muito difícil dissociar uma época de uma canção, e isso pode nos trazer uma gama infinita de sentimentos. Algumas canções do espetáculo estão sim na ‘playlist da minha vida’ e tenho certeza que estarão até o fim.”

Um dos mais importantes atores de musical da atualidade, Jarbas divide o palco com elenco afiado: Claudia Ohana, Carmo Dalla Vecchia, Marcos Tumura, Paula Capovilla e Fafy Siqueira em participação especial, além de Miguel Briamonte ao piano. Todos com a missão de provocar riso a partir de um assunto delicado e nem sempre divertido. “Mas é como rir de alguém que leva um tombo: é inevitável, mesmo que a pessoa se machuque”, acredita Claudia Ohana. “Nesse espetáculo, a velhice inspira momentos tão patéticos que é impossível não rir, o humor um pouco negro. Como somos preocupados com a morte e a velhice, é uma forma de rirmos de nós mesmos, de nos autoironizarmos, o que ajuda a preservar nossa juventude. Esses velhinhos representam o nosso sonho de chegar lá com humor.”

Essa meta é prioritária. A destacar a humanidade dos personagens é mais importante que arrancar gargalhadas da plateia com caricaturas, recurso fácil muitas vezes adotado em certas produções. “A cultura ocidental nos ensinou a descartar a experiência dos mais velhos, diferentemente do Oriente que venera a sabedoria que o tempo traz”, raciocina Jarbas. “Acho que pouparíamos muito tempo e sofrimento se encontrássemos tempo para ouvir, mas é uma característica da juventude acreditar que o mundo começou com ela, que nada antes foi feito, dito ou sentido. Isso, felizmente, está mudando – a população dos países mais desenvolvidos está envelhecendo. Acho que haverá uma mudança de pensamento, e podemos chamar isso de evolução.”

Melhor idade

De fato, ainda que timidamente, surgem exemplos de produções, no teatro e no cinema, que valorizam a chamada (e contestada por alguns) “melhor idade”. Um dos primeiros na época recente foi o filme Cocoon, de 1985, clássico da cultura pop que mostra o rejuvenescimento de um punhado de velhinhos graças à água de uma piscina energizada por extraterrestres. Promover a força ainda existente na maturidade é o tema de O Exótico Hotel Marigold, longa sobre pessoas maduras que transformam sua vida ao deixar a Inglaterra.

Em Forever Young, a mensagem é passada por meio de recursos artísticos. Afinal, a trama mostra jovens interpretando a si mesmos em idade avançada, ou seja, a essência do teatro. Nada o que acontece no cenário é realista, mas a verdade se forma na cabeça de cada espectador. É quando a realidade se funde com a ficção.

“Os velhinhos do musical são pessoas abandonadas, dependentes, que sobrevivem graças às canções”, comenta Claudia Ohana. “Existem seres como eles, mas há ainda quem pinte, escreva, enfim, quem vive de um trabalho – Oscar Niemeyer, trabalhando com mais de 100 anos, não me deixa mentir. O mundo, e o Brasil em especial, está mudando e os velhinhos vêm ocupando seu espaço.”

Questionados pelo jornal O Estado de S. Paulo, os atores da versão nacional contam qual seria sua trilha sonora no futuro, quando estiverem com mais idade. Carmo Dalla Vecchia, por exemplo, alegou que sua vida já é “repleta de trilha sonora” (veja entrevista abaixo). Já Claudia Ohana não abre mão da MPB. “No espetáculo, a maioria das canções é dos anos 1980, época em que eu preferia ouvir Chico Buarque”, conta. “Na minha velhice, pretendo continuar longe do rock – ainda vou preferir Chico, Paulinho da Viola, além de jazz, ópera (com Puccini) e música clássica, com Mahler.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.