Na convenção do PL (Partido Liberal), cujo ‘dono’ é ninguém menos do que Valdemar Costa Neto, preso no Mensalão e sócio de primeira hora de José Dirceu, o todo-poderoso ladrão do PT (Partido dos Trabalhadores), que definiu a candidatura do patriarca do clã das rachadinhas à reeleição ao Planalto em outubro próximo, uma senhora tomou o microfone e proferiu um acalorado discurso de cunho político-religioso, o que, por si só, já revela o caráter de quem empresta em vão o nome de Deus, para projetos pessoais de poder e riqueza. Durante a fala messiânica, a oradora revelou aos presentes que seu marido, o ‘mito’, se trata de ‘um escolhido’, ou seja, uma figura que carrega a divindade nestas terras mundanas, impuras e imperfeitas.

Quando o miliciano Fabrício Queiroz, amigão de décadas de Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto, e operador confesso das rachadinhas do gabinete do, à época, deputado Flávio Bolsonaro, vulgo Flavinho Wonka, em alusão ao personagem Willy Wonka, do clássico ‘A Fantástica Fábrica de Chocolates’ (1971), interpretado magistralmente por Gene Wilder, por causa de sua loja de chocolates que vendia panetones – sempre em dinheiro vivo!! – como ninguém, inclusive fora de temporada, entupiu a conta corrente da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, com 90 mil reais em ‘micheques’, o presidente da República, então mero deputado do fundão do centrão, deve ter se sentido um homem especial, um, como é mesmo, Dona Michelle?, ‘escolhido de Deus’.

Sim, porque ninguém ganha um presentão desses, caído do céu, se não for ou um político historicamente envolvido com funcionários fantasmas, uso indevido de verbas parlamentares – por exemplo: comer gente – e ‘otras cositas más’, ou um enviado do Senhor, para salvar nossa pátria dos comunistas e da cleptocracia do lulopetismo. Portanto, tem razão a primeira-dama quando diz que seu marido (imorrível, imbrochável e incomível) é um ‘escolhido de Deus’ que chegou para nos salvar, nos redimir, em um movimento a que chamou de, pasmem!, Projeto de Libertação da Nação, que se encontra, segunda a profeta que fala ’em línguas’, diante de uma verdadeira ‘luta entre o bem e o mal’. Eu me pergunto: seriam os Bolsonaros o bem e, euzinho aqui, o mal?

Pois, para a glória do Pai, o ‘escolhido’ está entregando um País faminto (recorde em décadas), desempregado e atolado em uma inflação de dois dígitos há quase um ano. Deus deve estar muito satisfeito, também, com as mais de 700 mil almas novas que alçaram o Reino dos Céus após serem abandonadas pelo devoto da cloroquina durante o auge da pandemia do novo coronavírus. E o Senhor não cabe em si de orgulho ao ver e ouvir tão ilustre filho, comparando negros a gado de corte (pesados em arrobas), incentivando violência física e moral contra quem pensa diferente, e desejando a morte de um filho para não vê-lo, se isso ocorrese um dia, envolvido com um rapaz, pois homossexuais são simplemente abomináveis aos olhos do dileto ilumidado.

Se Bolsonaro é mesmo ‘escolhido por Deus’, eu não sei. Mas que o inimigo do Senhor, o Coisa Ruim, o Capiroto, o Canheta, o Pé de Cabra está feliz, eu tenho a mais absoluta certeza. Nem o próprio demônio faria um trabalho melhor – tão amplo, eficaz e abrangente.