O candidato democrata Joe Biden aparecerá em Delaware nesta quarta-feira, juntamente com sua recém-escolhida companheira de chapa Kamala Harris, marcando uma virada na campanha presidencial em que Harris busca entrar para a história como a primeira mulher a alcançar a vice-presidência dos Estados Unidos.

Na terça-feira, Biden pôs fim às expectativas ao anunciar que Harris, senadora negra que representa a Califórnia, será seu segundo no comando na disputa contra o presidente Donald Trump, decisão qualificada como histórica.

Antes de Harris, duas mulheres concorreram à vice-presidência, Geraldine Ferraro em 1984 e Sarah Palin em 2008, mas nunca antes houve uma candidata negra ou sul-asiática como Harris.

“Kamala Harris é filha de dois imigrantes orgulhosos, sua mãe da Índia e seu pai da Jamaica, que a educaram para agir. E é exatamente isso que este momento exige: ação”, disse Biden nesta quarta-feira no Twitter.

Aos 55 anos, Harris está em uma posição privilegiada para a campanha de 2024, já que Biden, de 77 anos, deu a entender que, se vencer, pode não concorrer a um segundo mandato.

A aparição desta quarta-feira é a primeira de ambos os políticos, que até para o anúncio aderiram ao formato virtual que tem marcado essa campanha pandêmica.

Na manhã desta quarta-feira, Biden postou um vídeo em que faz uma videochamada com Harris e pergunta se ela está pronta e ela responde: “Estou pronta para trabalhar”.

– O “oponente dos sonhos” –

A aparição desta quarta-feira antecede a Convenção Democrata que começa na próxima segunda-feira, onde Biden e Harris serão formalmente ungidos como candidatos.

No entanto, este evento não terá a pompa de outros anos, pois será em grande parte virtual devido à pandemia.

Uma semana depois, o presidente Donald Trump receberá a confirmação de seu partido e com isso a campanha entra na reta final com três debates marcados até 3 de novembro.

A escolha de Harris, um rosto conhecido que é uma aposta segura, tem o objetivo de incentivar o voto de comunidades negras que podem ser cruciais em vários estados-chave para chegar à Casa Branca e que foram fundamentais na campanha de Biden durante as primárias.

Com os protestos em massa contra o racismo após a morte de George Floyd, um negro americano assassinado por um policial branco em 25 de maio, aumentaram as expectativas de que Biden nomearia uma mulher afro-americana para acompanhá-lo.

No entanto, na questão da brutalidade policial, Harris foi criticada por não ter intervindo em muitos casos envolvendo policiais durante sua carreira.

Com a opção por Harris, caracterizada por sua eloquência e estilo discursivo polido quando era procuradora-geral da Califórnia e nas audiências como senadora, Biden obedeceu o principal critério na escolha de vice-presidente, que é “não gerar dano”.

Todas as suas habilidades serão postas à prova no debate sobre o candidato à vice-presidência, a ser realizado em 7 de outubro em Utah.

Trump reagiu ao anúncio na terça-feira chamando a senadora de “falsa” por seus confrontos com Biden durante as primárias e referindo-se ao seu “fraco” desempenho na disputa democrata, da qual Harris desistiu em dezembro, antes do início da votação.

Nesta quarta-feira, Trump continuou a afirmar que Harris “é o tipo de oponente dos sonhos”.

“Começou forte nas primárias democratas e terminou fraca, quase fugindo da corrida sem apoio”, disse Trump no Twitter.

Harris também poderia cobrir um flanco de gerações e gênero que poderá ser determinante em distritos suburbanos que se afastaram de Trump, de acordo com as pesquisas.

Trump falou a respeito na quarta-feira, insistindo que “donas de casa do subúrbio” votarão nele.

Por décadas, Biden representou as posições mais moderadas do Partido Democrata, enquanto Harris representa linhas mais progressistas em questões como cobertura de saúde e política climática.

Para a congressista democrata Lisa Blunt Rochester, tanto Biden quanto Harris são pragmáticos e progressistas. “Não são coisas excludentes”, indicou à rede MSNBC.