Milú Villela

Em setembro deste ano, uma polêmica envolvendo o Museu de Arte de São Paulo (MAM-SP) ganhou contornos de censura. Pessoas indignadas pediram o fechamento do 35º Panorama de Arte Brasileira, do qual fazia parte a performance “La Bête”, em que o artista Wagner Schwartz, nu, interagia com o público, incluindo crianças. Apesar do tom radical dos protestos, a presidente do museu, Milú Villela, manteve a exposição em cartaz. Por sua liderança no museu e também no Itaú Cultural, que dirige desde 2001, ela é a brasileira que melhor representa os atuais desafios do País na área da cultura.

Neta de Alfredo Egydio de Souza Aranha (1894-1961), fundador do Banco Itaú, Milú, 74 anos, é uma das mulheres mais ricas do Brasil, mas nunca foi uma dondoca. Ela se formou em psicologia pela PUC de São Paulo e só abandonou a carreira para cuidar dos filhos. Quando eles cresceram, passou a se dedicar ao voluntariado. Depois de trabalhar em uma creche, fundou a Associação Comunitária Despertar, no Jardim Miriam, então um dos bairros mais violentos de São Paulo. Nessa época, metade dos anos 1990, ela assumiu também a presidência do MAM. Em apenas cinco meses, conseguiu levantar fundos para reestruturar o museu, a partir de doações de empresas e outros financiadores. O MAM adotou uma gestão profissionalizada e passou a contar com uma agenda de exposições capaz de refletir a pluralidade da produção contemporânea. Em 2017, foram oito mostras, incluindo uma sobre a obra de Anita Malfatti (1889-1964) e outra criada pela dupla Bompas & Parr, ingleses que mesclam arte e gastronomia.

Em 2017, o MAM exibiu oito mostras, incluindo uma sobre a obra de Anita Malfatti (1889-1964)

Demandas da sociedade

Essa variedade na programação também é uma característica do Itaú Cultural. Ao assumir a direção do instituto, em 2001, passou a adotar como mote a democratização de acesso. Antes, a instituição era considerada elitista, com exposições voltadas apenas aos conhecedores de arte. Uma reforma na sede do instituto e uma mudança na curadoria dos eventos deu dinâmica ao Itaú Cultural. Em 2016, a capacidade de ouvir as demandas da sociedade fez com que uma peça de teatro considerada racista por militantes do movimento negro desse início a uma série de eventos e debates. Em 2017, o Itaú Cultural completou 30 anos com uma intensa programação comemorativa.

O tempo ainda é de incerteza para a cultura. Ataques à liberdade de expressão vêm abalando diversas instituições. É nesse ambiente que tanto o MAM quanto o Itaú Cultural têm se mantido firmes no propósito de oferecer uma programação principalmente democrática, capaz de olhar para os anseios atuais sem esquecer de sua história.