A Ferrari terá um duro desafio pela frente neste domingo, no GP da Toscana, às 10h10 (horário de Brasília). Correndo novamente em seu país, o time italiano estará mais do que nunca “em casa”, no Circuito de Mugello, de sua propriedade. E vai celebrar o seu 1000º GP na categoria. O problema é que a equipe vive uma de suas piores crises da história.

Sem faturar um título desde 2008, quando foi campeã no Mundial de Construtores, a Ferrari foi vice nas últimas três temporadas e, antes disso, oscilava entre o terceiro e o segundo lugar. Um troféu no Mundial de Pilotos não vem desde 2007, quando o finlandês Kimi Raikkonen faturou seu único título na F-1.

E este jejum não deve ser quebrado neste ano. Em sexto lugar no Mundial de Construtores, o time exibe sua pior classificação desde 1980. No fim de semana passado, completou a segunda corrida seguida com ambos os pilotos sem somar pontos. Foi ainda a primeira vez em 25 anos que os dois carros não terminaram a prova em Monza, um dos traçados mais tradicionais da F-1.

Em 2020, a Ferrari obteve apenas dois pódios em oito etapas já disputadas, ambas com Charles Leclerc, na Áustria e na Inglaterra. Mas a previsão é de que isso não se repita na estreia de Mugello na Fórmula 1, apesar da larga experiência do time nesta pista.

“Mugello tem uma reta longa e muitas curvas, que, com os carros atuais, são tratadas como se fossem retas. A Ferrari sofre muito neste sentido porque não tem potência”, opina Luciano Burti, ex-piloto de testes da Ferrari, entre 2002 e 2004. O brasileiro é um dos ex-pilotos de F-1 que melhor conhece o traçado italiano porque, na sua época, não havia limite para os testes, que duravam dias seguidos, com acompanhamento de toda a equipe.

“Não vejo a Ferrari conseguindo ter alguma vantagem em Mugello. Não tem como melhorar alguma coisa se não tem potência no motor. É uma pena ver a equipe com um desempenho tão abaixo do esperado”, diz Burti, atualmente comentarista da TV Globo.

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A própria Ferrari admite que não tem maior esperança para este domingo. “Esperamos que este final de semana seja um pouco melhor (que o anterior). Mas o carro não está no nível que gostaríamos”, afirma Mattia Binotto, chefe do time italiano.

A crise atual vem desde a adoção dos motores híbridos na F-1, em 2014. Mas há suspeita de que a falta de rendimento em 2020 tenha relação direta com uma investigação da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), realizada no fim da temporada passada. “Esse assunto é guardado a sete chaves. Mas vazou de certa forma. Ninguém sabe direito qual foi a extensão disso”, diz José Avallone Neto, ex-engenheiro da equipe Jordan, na F-1.

A investigação começou no GP do Brasil. A FIA detectou que o carro de Leclerc estava mais pesado do que deveria, o que levantou suspeitas porque o maior peso prejudica o rendimento na pista. “Suspeitam que a Ferrari burlava de certa forma a alimentação do motor ao driblar um contador do volume de combustível com softwares. O regulamento determina uma quantidade de combustível que você pode gastar. Mas a Ferrari usufruía de mais combustível”, afirma Avallone, atualmente consultor técnico da Stock Car. E quanto mais combustível um carro queima, mais potência ele tem.

No início deste ano, a FIA anunciou que chegou a um acordo sigiloso com a Ferrari, sem revelar qualquer detalhe da investigação, o que irritou as demais equipes. E, nesta temporada, o time italiano passou a sofrer justamente de falta de potência, gerando suspeita de que haveria uma punição implícita ao time após o acordo com a FIA.

“Essa história faz sentido. A impressão que tenho é que a punição para a Ferrari neste ano, ao invés de uma multa, por exemplo, acabou sendo a perda da potência no motor. Isso porque o regulamento e o motor não mudaram de um ano para o outro. Não existe como um motor ser bom antes e agora não é mais. Deve ter uma diferença de 50 a 80 cavalos, o que é muita coisa”, comenta Burti.


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