Em crise, Cuba abre exploração de terras para empresa estrangeira

Em crise, Cuba abre exploração de terras para empresa estrangeira

"ComSofrendo com escassez de equipamentos e fertilizantes, regime de Havana concede exploração de terras para empresa agrícola do Vietnã, em medida inédita desde a revolução de 1959, quando estrangeiros foram expropriados.Há alguns meses, o regime cubano concedeu a exploração de terras agrícolas estatais para uma empresa estrangeira pela primeira vez – um passo sem precedentes desde a revolução de 1959, quando proprietários estrangeiros foram expropriados. Agora, a companhia vietnamita Agri VMA cultiva arroz em fazendas estatais próximas à cidade de Los Palacios, no sudeste da província de Pinar del Río, no extremo oeste de Cuba. As terras pertencem à fazenda Cubanacán, da estatal cubana Empresa Agroindustrial de Granos Los Palacios.

Agricultura em Crise

A medida pode ser atribuída à situação do setor agrícola cubano, particularmente afetado pela crise econômica que persiste há anos. Há escassez de fertilizantes, pesticidas, combustível e peças de reposição, e os equipamentos estão frequentemente obsoletos ou com defeito. O rígido sistema de cotas governamentais oferece pouco incentivo à produção. Fatores ambientais como salinização do solo, seca e furacões agravam o problema. A produção agrícola despencou.

"Nossa empresa, e Cuba em geral, não possui o pacote tecnológico para o cultivo de arroz hoje", diz Ariel García Pérez, diretor da Empresa Agroindustrial de Granos. "Quando digo pacote tecnológico, refiro-me não só a fertilizantes, herbicidas, fungicidas e inseticidas necessários para a produção de arroz, como também a sementes." Dos 23 mil hectares de arrozais de sua empresa, apenas 6 mil estão atualmente em cultivo, segundo o gestor.

O arroz é um dos alimentos básicos de Cuba. No ano passado, o país produziu apenas cerca de 80 mil toneladas do cereal – suficiente para cobrir pouco mais de 11% de suas necessidades internas. Há seis anos, a produção era mais de três vezes maior, segundo o jornal cubano Granma. As importações tiveram que ser ampliadas para atender ao consumo.

Empresa vietnamita otimiza cultivo

Com a ajuda vietnamita, o cultivo de arroz agora será impulsionado de forma sustentável. A cooperação entre os dois países já existe há vários anos, afirma García Pérez. Mas o projeto em Los Palacios tem uma nova característica. A Agri VMA está recebendo terras e administrando-as de forma independente. Para isso, a empresa trouxe para a ilha recursos operacionais, seus próprios especialistas e sementes de variedades híbridas de arroz cultivadas no Vietnã.

Cuba, que foi duramente atingida pelo colapso do turismo em decorrência da pandemia de covid-19 e das sanções americanas, carece de divisas para isso. A empresa agrícola cubana está fornecendo mão de obra e maquinário para os vietnamitas.

Quarenta trabalhadores cubanos foram contratados diretamente pela Agri VMA, segundo García Pérez. Esta também é uma novidade. Normalmente, isso é feito em Cuba por meio de uma agência estatal de empregos. "O restante dos trabalhadores vem do lado cubano", diz García Pérez. Cuba recebe pagamento por isso. "Nós, como empresa, prestamos serviços à empresa vietnamita. Ela nos paga para trabalhar a terra, colher, secar e moer o arroz", diz Pérez.

"A forma como os cubanos trabalham aqui é boa", afirma o agrônomo vietnamita Trán Trong Pai, um dos seis especialistas vietnamitas envolvidos no projeto. "Mas há falta de fertilizantes, então trouxemos tudo conosco".

Primeira colheita foi promissora

"O projeto começou com uma fase experimental em 16 hectares plantados com sementes vietnamitas", explica García Pérez. A Agri VMA já recebeu mil hectares de terra em usufruto. "Desses, mais de 900 hectares foram plantados."

Os resultados até agora são promissores. "Os primeiros 44 hectares renderam 296 toneladas de arroz irrigado", afirma García Pérez com satisfação. Isso corresponde a 6,75 toneladas por hectare, quase quatro vezes a 1,7 tonelada por hectare colhida em 2024 em área comparável em Cuba. "As expectativas para o programa foram atendidas", afirma García Pérez. O resultado se deve principalmente às sementes e fertilizantes vietnamitas utilizados.

O rendimento não está muito longe das oito toneladas de arroz por hectare que normalmente se obtém em grandes áreas no Vietnã, diz Trán Trong Pai. "Queremos um rendimento maior aqui em Cuba, mas esta é a primeira vez que plantamos aqui. Ainda estamos conhecendo o solo para saber a quantidade de fertilizante que precisamos usar."

Mais do que um projeto piloto

O arroz colhido pertence à Agri VMA, e Cuba o compra. "O objetivo é substituir as importações", diz García Pérez. "Não há necessidade de trazer o arroz do Vietnã para Cuba. O arroz fica aqui em Cuba, e Cuba o compra do Vietnã. Sai mais barato que importá-lo."

Só no ano passado, Cuba gastou mais de 300 milhões de dólares (quase R$ 1,7 bilhão) em importação de arroz, segundo o vice-presidente cubano Salvador Valdés Mesa, citado pelo jornal cubano Granma. O que é muito dinheiro para os notoriamente esvaziados cofres estatais cubanos.

Importar arroz não se resume apenas aos custos de compra e transporte. Devido à política de bloqueio dos EUA contra Cuba, às vezes é difícil encontrar empresas de transporte dispostas a levar os grãos aos portos cubanos, já que os navios que atracam em Cuba são sancionados por Washington.

As terras agrícolas serão inicialmente arrendadas à empresa vietnamita por três anos. Em Los Palacios, a área cultivada em breve será expandida de mil para 5 mil hectares. García Pérez já pensa no futuro. "A ideia é expandir o projeto para outras províncias: Granma, Camagüey, Sancti Spíritus."