Se vivêssemos num mundo melhor, já teríamos uma dúzia de comédias com Jennifer Lawrence. Quando os alienígenas chegarem, com certeza eles vão direto ao IMDB para pesquisar sua filmografia e aí vão ficar se perguntando por que uma das estrelas mais engraçadas e carismáticas de Hollywood passou a primeira década da carreira fazendo distopias, filmes de ação e… sei lá como você quer classificar Mãe!

Como se para compensar o tempo perdido, Lawrence fez em Que Horas Eu Te Pego? aquele tipo de comédia adolescente proibida para menores. Ela é Maddie, uma motorista de Uber de 32 anos que está desesperada por dinheiro, pois sua casa está ameaçada de execução hipotecária, e é contratada pelos pais ricos (Matthew Broderick, Laura Benanti) de um rapaz tímido e superprotegido de 19 anos (o recém-chegado Andrew Barth Feldman) para lhe tirar a virgindade antes de ele partir para Princeton. O filme está em cartaz nos cinemas.

É claro que já tivemos muitos filmes sobre adolescentes tentando transar pela primeira vez. Mas Que Horas Eu Te Pego?, dirigido e coescrito por Gene Stupnitsky, talvez seja o primeiro em que o adolescente em questão aparentemente não está muito a fim. Ele é heterossexual, os pais garantem – por causa de seu histórico de navegação.

Mas quando Maddie Barker (Lawrence) aparece de vestido justo e salto alto no abrigo de animais de Long Island onde Percy (Feldman) trabalha, ele reage basicamente com medo aos convites dela. O encontro termina com Percy jogando spray de pimenta em Maddie.

Agora, um jovem de 19 anos rejeitando Jennifer Lawrence desse jeito é uma boa maneira de cortar qualquer conexão que o público tenha com um dos protagonistas. Algumas coisas são imperdoáveis. Maddie e Percy vão a uma série de encontros cada vez mais íntimos, e Percy promete “ficar preparado”, em algum momento.

A base do longa é insustentável. Ainda menos crível do que a resposta de Percy a Maddie é o envolvimento dela nesse esquema. Ainda assim, Que Horas Eu Te Pego? funciona melhor do que deveria. O absurdo da premissa faz parte da piada, claro. Feldman traz sensibilidade ao papel com flashes de bom timing cômico. Ele fica tão desconfortável nos encontros que, ao som de um tacada de sinuca perto da mesa, pula da cadeira feito um gato assustado. E, mesmo que o papel empurre Lawrence para situações de baixo nível, o filme dá a ela muito espaço para mostrar seu talento em derrubar as ideias tradicionais do glamour hollywoodiano. Ela se delicia a minar a própria sensualidade e está mais em casa parodiando as gostosas do que sendo uma gostosa.

Mas, embora o longa finalmente dê a Lawrence (também produtora executiva) uma plataforma para fazer um pouco do humor pastelão em que ela é tão boa, também parece que ela foi inserida na estrutura de uma comédia romântica bastante masculina. As comédias de tela grande são poucas hoje, então é tentador aplaudir a mera existência do filme.

CLICHÊS. Que Horas Eu Te Pego? abre de forma inteligente uma lacuna geracional ao inverter os clichês do gênero. Percy e muitos de seus colegas de classe são retratados como delicados demais, viciados demais no celular. Em certa cena, Maddie passa pelo corredor do andar de cima de uma festa do colégio. Atrás de cada porta, os jovens não estão se agarrando, mas sim mandando mensagens de texto ou jogando videogame – um retrato da Geração Z. Incrédula, Maddie exclama: “Ninguém mais transa aqui?”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.