Desde a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018, cinco pessoas de interesse da investigação – testemunhas ou suspeitos – foram assassinadas. Além da violência, um outro fato chama a atenção: nenhum dos crimes foi solucionado pela polícia.

O caso mais recente é o do ex-vereador Jair Barbosa Tavares, conhecido como Zico Bacana. Ele foi morto a tiros na segunda-feira, 7, no bairro do Guadalupe, zona norte do Rio, junto com seu irmão, Jorge Barbosa Tavares, e o garçom Marlon Correia dos Santos, que passava pela rua. A Polícia Militar informou que os disparos partiram de um veículo não identificado parado em frente à padaria onde estava Zico.

Nas redes sociais, Zico se apresentava como policial militar e paraquedista. Em relatório da CPI das Milícias da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, entretanto, ele foi citado como chefe de grupos de milicianos. Em 2018, depôs na investigação da morte de Marielle.

‘Apoio’

Com o depoimento do réu colaborador Elcio Queiroz, no mês passado, veio a público o nome de uma pessoa envolvida no caso, que também foi assassinada. Edmilson da Silva de Oliveira, conhecido como Macalé, era sargento reformado da PM fluminense e teria dado apoio operacional ao ex-PM Ronnie Lessa para matar Marielle. Além disso, Queiroz relatou que Macalé intermediou a contratação de Lessa.

Suspeito de ter ligação com a contravenção no Rio, o policial foi morto a tiros, aos 54 anos, em 2021, na zona oeste da capital fluminense. Ele também teria sido responsável por entregar o carro usado na execução, um Cobalt prata, a Lessa e ao ex-bombeiro Maxwell Simões, o Suel, preso em operação da Polícia Federal no dia 24 de julho. Segundo as investigações, o ex-bombeiro teria ajudado a ocultar armas um dia após as prisões de Lessa e Queiroz, denunciados como autores dos crimes.

Bahia

O ex-policial militar Adriano Magalhães da Nóbrega morreu durante uma operação policial que visava à captura dele no município de Esplanada, na Bahia, em 2020. Capitão Adriano, como era conhecido, foi apontado como chefe da milícia “Escritório do Crime”, do qual supostamente fazia parte Lessa, acusado de matar Marielle, e como envolvido no suposto esquema de rachadinha (desvio de salários de assessores) do hoje senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio.

Irmã do ex-policial militar, Daniela da Nóbrega afirmou, em um áudio, que o Palácio do Planalto ofereceu cargos comissionados em troca da morte do ex-capitão.

Dois dias após Adriano ser morto a tiros em confronto com PMs na Bahia, em fevereiro de 2020, Daniela da Nóbrega diz a uma mulher, a quem chama de tia, que o ex-policial já sabia da “ordem para que ele fosse um arquivo morto”. Segundo ela, “já tinham dado cargos comissionados no Planalto pela vida dele”.

Adriano era procurado pela Justiça por causa de outros crimes. Ele foi denunciado pelo Ministério Público por atuar com grilagem de terras; compra, venda e aluguel irregular de imóveis; cobrança irregular de taxas da população local; e extorsão e receptação de mercadoria roubada em Rio das Pedras. O Ministério Público do Rio e a Polícia Federal trabalharam com a hipótese de envolvimento de Adriano na morte de Marielle. O envolvimento, no entanto, ainda não ficou comprovado.

Hélio de Paulo Ferreira, miliciano que ficou conhecido como Senhor das Armas, foi morto em fevereiro deste ano, em uma área de disputa entre grupos paramilitares e traficantes na zona oeste do Rio. Ferreira foi ouvido pela Polícia Civil do Rio ainda na primeira fase da investigação da morte de Marielle. Ele foi citado como um dos comparsas do também miliciano Orlando Oliveira de Araujo, um ex-PM conhecido como Orlando de Curicica.

De acordo com Curicica, condenado a 25 anos por homicídio, Ferreira estaria presente em uma suposta reunião do “Escritório do Crime” em que teria sido tramada a morte de Marielle. As acusações contra Ferreira não foram adiante.

O quinto nome é o de Lucas do Prado Nascimento da Silva, conhecido como Todynho. Ele foi apontado pela Polícia Civil como o responsável pelas alterações feitas no documento do veículo utilizado no assassinato de Marielle e Anderson Gomes. Todynho foi morto em abril de 2018, menos de um mês depois da execução da ex-vereadora. De acordo com a Polícia Militar, ele foi alvo de uma emboscada na Avenida Brasil, via que liga zona oeste, zona norte e centro do Rio.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.