Política não é o melhor lugar para se buscar perfeição. É a arte do possível e, em nosso caso, um concurso de feiura em que se escolhe o menos pior por eliminação. Ainda assim, cabe uma reflexão de qual seria o perfil de um candidato ideal.

Creio que Fernando Henrique Cardoso acerta no diagnóstico, mas erra na receita. Ele tem dito que vivemos dias perigosos de um clima revolucionário, o que é verdade, mas acha que a saída é um acordo do “centro progressista”. A esquerda é parte do problema, não da solução. Os próprios tucanos foram pusilânimes demais com a ameaça totalitária petista e, portanto, cúmplices da desgraça que se abateu sobre o Brasil.

O grau de revolta e ressentimento é enorme, e nesse contexto é que surgem os nomes mais radicais como alternativa. Compreende-se o sentimento de revolta, entende-se o fenômeno: as emoções têm levado a esse ambiente de polarização contra o establishment, as elites, a classe política, “tudo isso que está aí”. Mas e o “day after”?

O voto de protesto pode servir para aliviar nossa tensão, mas não vai garantir a melhora da economia, o resgate da ordem e dos valores morais, o restabelecimento da rota do progresso. Para tanto é necessário um perfil aglutinador, com capacidade de articulação para aprovação de reformas estruturais, e uma referência moral, ou seja, alguém que não se curve diante da esquerda nem faça concessões indevidas ao politicamente correto.

As emoções têm levado a esse ambiente de polarização contra o establishment, as elites, a classe política, “tudo isso que está aí”. Mas e o “day after”?

O Brasil precisa de um presidente capaz de liderar e inspirar, que tenha uma trajetória ilibada, de preferência com experiência em gestão no setor privado. Alguém que não tenha medo de defender o capitalismo liberal, e ao mesmo tempo seja firme na defesa dos valores morais. Ou seja, um liberal com viés conservador nos costumes. E que saiba como se produz riqueza, em vez de pertencer ao grupo dos corporativistas que só consomem a riqueza que produzimos por meio de privilégios estatais.

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As pautas prioritárias são emprego, segurança e resgate dos valores morais. Mas não basta discurso: é preciso saber fazer. E por mais que a sensação seja de total repulsa ao “sistema”, na prática as mudanças deverão vir de dentro da própria democracia, com participação do Congresso. A alternativa de um Napoleão “esclarecido” é uma arriscada aventura, que pode acabar muito mal.

É nesse caldo cultural e político que vejo uma avenida aberta a alguém de centro-direita, que não esteja disposto a contemporizar com socialistas, mas que tenha um grau de moderação capaz de permitir alianças construtivas e programáticas em prol do País. Contra socialistas e reacionários, o liberalismo com viés conservador é o melhor antídoto. A alternativa é algum tipo de autoritarismo qualquer.


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