Era uma vez uma republiqueta muito distante, cujo povo adorava um líder que bancasse o pai da tribo e prometesse resolver todos os problemas na marra. Essa mentalidade infantil já tinha levado ao poder muito caudilho populista no passado. Entulho Cargas, por exemplo, virou ditador e criou uma legislação trabalhista inspirada no fascismo, mas era adorado pelos socialistas. Nando Colo chegou ao poder se mostrando um jovem dinâmico que caçaria bandidos, mas, uma vez lá, roubou como os outros e ainda confiscou a poupança dos trabalhadores.

Mais recentemente, o barbudo conhecido como “Polvo” finalmente virou presidente, após diversas tentativas, e mostrou quantos tentáculos tinha: foi a maior roubalheira da história desse País! Sempre discursando em prol dos pobres, seu governo corrupto foi uma mãe para os empresários safados e as elites incrustadas no poder. Sua sucessora Vilma, apesar de mulher, também fazia o estilo mãezona do povo, e afundou de vez com a economia do País, levando milhões ao desemprego.

Mas um traço cultural não se apaga facilmente. Mesmo após as trágicas experiências, o povo continuava em busca de um pai para consertar todos os problemas. À direita tinha o Capitão Nióbio, um sujeito bronco, mas que realmente parecia honesto. Seu maior defeito era mesmo o desprezo pelas instituições republicanas, assim como sua visão nacionalista tacanha na economia. À esquerda tinha o Tiro Somes, assim conhecido pela fama de cangaceiro perigoso. O sujeito era o típico caudilho demagogo, tinha sido de inúmeros partidos, sempre em torno do poder, e defendera os últimos governos desastrosos. Sua política econômica era basicamente a mesma, um nacional-desenvolvimentismo ultrapassado, mas ele sabia vendê-lo com nova embalagem recheada de verborragia. Dizia até ter mestrado numa importante universidade estrangeira, mas seu guru era um professor obscuro, chamado Madureira Júnior.

Ambos vinham crescendo nas pesquisas para as próximas eleições, com seguidores fanáticos os apoiando, e prontos para atacar com virulência qualquer um que ousasse criticá-los. A adesão ao “pai da horda” tinha que ser completa e a submissão plena. Um era o “mito” que ia colocar ordem naquela bagunça toda, atropelando Congresso, Judiciário e quem mais ficasse em seu caminho. O outro era o coronel metido a sábio, que não dizia coisa com coisa, mas que transmitia aos órfãos desamparados a sensação de que estava lá para cuidar deles. Um economista sério, que já tinha “debatido” com o machão destemperado e truculento no passado, lamentava a falta de apreço pelas instituições e pelas boas teorias econômicas liberais. Mas quando tentava argumentar, o lado de lá apenas relinchava: dá trilhão?

Um economista sério lamentava a falta de apreço pelas instituições e pelas boas teorias econômicas liberais. Mas quando tentava argumentar, o lado de lá apenas relinchava: dá trilhão?