Acompanho de perto as eleições nacionais desde 1989, quando, depois de alguma mobilização e muita negociação, os brasileiros puderam voltar às urnas para escolher seu mandatário. Foram sete disputas, quatro presidentes eleitos, dois deles afastados por processos de impeachment. Agora, chegado o ano da oitava eleição presidencial pós-redemocratização, protagoniza o xadrez eleitoral um ex-presidente, tão amado quanto odiado, condenado por crime comum de corrupção, que se esperneia para ser tratado como perseguido político.

Trata-se de Luiz Inácio Lula da Silva. Nas disputas anteriores ele efetivamente foi ator principal. Agora, porém, o que se tem é um falso protagonismo. Tão falso quanto a narrativa de que Lula no banco dos réus seja sinônimo de democracia colocada em risco. Coloca em risco a democracia quem atenta contra legítimas decisões judiciais — ainda que nosso Judiciário não seja nenhum exemplo de correção. Coloca em risco a democracia quem ameaça fisicamente aqueles que ousam discordar de seus preceitos e chegam a propor atos de violência e de desobediência civil diante de sentenças proferidas por tribunais superiores que não sejam de seu agrado. Mas, é assim a democracia sugerida por grupos que ainda mantém o poder no PT de 2018: tudo aquilo que me agrada é democrático. O que não está no meu cardápio é golpe, resquício autoritário ou subserviência ao imperialismo ianque.

O pretenso protagonismo eleitoral de Lula nesse início de ano é falso porque o ex-presidente é apenas um espectro do líder sindical que empunhando a bandeira da ética e da inclusão social atraía multidões. Os índices de intenção de voto que lhe são atribuídos nessas primeiras pesquisas são recall de cinco campanhas e de um governo populista que por algum tempo melhorou a vida dos mais carentes. O que as pesquisas ainda não captaram é que vivemos um momento de sinais trocados. Nas sete eleições passadas, há nove meses do pleito, o que se constatava eram candidatos em busca de eleitores.

Programas de governo eram debatidos, promessas muitas vezes absurdas eram ecoadas e marqueteiros ganhavam espaço e fortunas transformando políticos em objetos de consumo imediato. Hoje o que se observa nas ruas são eleitores em busca de um candidato. Os brasileiros não estão interessados na polarização artificial armada por Lulistas e Bolsonaristas. Buscam um candidato que represente a efetiva retomada do emprego e da renda. Que tenha a experiência e a capacidade de aglutinar o País em busca de uma inclusão que venha pela educação e não apenas pelo consumo. Enfim, temos um País à procura de um candidato a presidente. Os que até agora se colocaram em campo parecem não ter entendido o recado que vem das ruas desde as manifestações de 2013.