Titular absoluto do Santos, considerado o “novo Neymar” e esperança de renovação para o ataque da seleção brasileira, Gabriel Barbosa, o “Gabigol”, parecia a um passo de explodir para o futebol mundial quando a Internazionale desembolsou quase 30 milhões de euros para levá-lo em 2016. Mas depois de uma temporada na Europa e de colecionar muito mais polêmicas do que oportunidades em campo, tudo mudou. Agora, o ainda jovem jogador tenta se reerguer no Benfica.

Gabriel chegou à Internazionale com moral, afinal havia acabado de conquistar o ouro olímpico no Rio-2016 e de ser convocado pelo técnico Tite para as Eliminatórias da Copa do Mundo de 2018 pela seleção principal. O desempenho recente pelo Santos o credenciava a ser uma das principais esperanças do futebol nacional e tudo isso aos 19 anos de idade.

Mas, na Internazionale, Gabriel teve poucas oportunidades em campo, atuou em somente 10 partidas oficiais – uma como titular – e marcou apenas um gol. Não raramente, era criticado pelos três técnicos com quem trabalhou no clube e viu o auge deste descontentamento acontecer quando abandonou o banco da equipe em um jogo do Campeonato Italiano. Taxativo, o treinador Stefano Vecchi disparou: “É um jogador que se acha”.

A falta de maturidade parece ser uma justificativa unânime para o momento de Gabriel, até por aqueles mais próximos ao atacante. “Ele tem 21 anos, é muito novo. Está amadurecendo”, disse seu agente, Wagner Ribeiro. “Na Inter, foi contratado como grande estrela. Pagaram 30 milhões de euros pelo campeão olímpico, titular do Santos e convocado pelo Tite. Chegou com essa bagagem”.

O ex-meia Elano, atual auxiliar-técnico de Levir Culpi no Santos, acompanhou o crescimento do jovem quando ainda vestia a camisa do clube paulista e sabe das qualidades de Gabriel. “É um menino novo, que teve uma evolução muito grande durante um ano, a cada jogo. Mas precisa ter um pouco de paciência. Na Europa é diferente, os treinadores às vezes gostam de esperar um pouco mais para te dar uma chance e isso vai irritando o brasileiro. Pela idade, pela qualidade que tem, ele precisa ter um pouco mais de paciência para encaixar direitinho e ter sucesso também na Europa”.

Sem espaço na Internazionale, Gabriel agora tenta se provar no Benfica. Emprestado pelo clube italiano, porém, o brasileiro também não vem tendo vida fácil em Portugal. Logo em sua chegada, viu o técnico da equipe, Rui Vitória, vetar o apelido “Gabigol”. “Isto é coisa de artista”, justificou. “O Gabriel não gostava do apelido ‘Gabigol’, não é o camisa 9”, minimizou Wagner Ribeiro.

Com ou sem apelido, o fato é que o atacante continua sofrendo com a falta de espaço. Até este domingo, quando o Benfica encara o Marítimo pelo Campeonato Português, Gabriel disputou apenas três partidas oficiais, sendo uma como titular, e ficou em campo por 89 minutos. Nos dois últimos compromissos da equipe, sequer saiu do banco de reservas.

Mesmo assim, a expectativa é de que a mudança para um lugar onde os brasileiros costumam ter sucesso faça bem a Gabriel. “Ele chegou agora no Benfica, está se adaptando. É natural que leve um tempo para ganhar espaço. Mas vai conseguir se firmar logo. Vai ter chances e mostrar seu futebol, mais do que na Inter”, afirmou o seu agente.

Esta é aposta também de quem viveu situação semelhante à do jogador. Depois de se destacar por Coritiba e Palmeiras, o atacante Keirrison chegou ainda jovem à Europa para atuar pelo gigante Barcelona, aos 21 anos. Como Gabriel, não teve o espaço esperado e foi rapidamente emprestado ao mesmo Benfica. No caso do atual centroavante do Coritiba, a falta de oportunidades continuou e ele nunca voltou a desempenhar o futebol do início de carreira. Mas, hoje, acredita que o ex-santista possa fazer diferente.

“O Gabriel é um grande atleta. O importante é focar no futebol, manter o profissionalismo. Acredito nisso para que ele possa se desenvolver e a cada dia melhorar seu futebol. É isso que o jogador busca. Meu conselho é que se foque nisso, concentre-se, porque está em um grande clube”, sugeriu.

Se Keirrison nunca se reergueu da primeira experiência frustrada na Europa, Geovanni viveu história diferente após traçar o mesmo caminho do atacante. Também aos 21 anos, deixou o Cruzeiro e foi para o Barcelona, mas sofreu com a falta de espaço e foi emprestado ao Benfica. No clube português, o meia se firmou, atuou por três temporadas e foi fundamental na conquista do título nacional de 2004/2005, após 11 anos de jejum. Ele próprio, porém, admite que a transição foi bastante complicada.

“O Gabriel fez mais ou menos o que aconteceu comigo, foi direto para um grande clube ainda jovem. O Benfica também é gigante, mas Portugal é um país mais fácil de se adaptar pelo idioma, por ter muito brasileiro, a cultura muito parecida. Também é complicado porque o jogador sai do Brasil como ídolo, muito importante, vai para a Europa e se torna só mais um. Isso afeta. Dava desespero não jogar”, lembrou.

O que todos parecem concordar é sobre a qualidade de Gabriel. E a aposta é de que o atacante só depende de si para se recuperar e deslanchar. “É um garoto de muito talento, tem muito a evoluir. Se jogar intensamente, brigar, tem tudo para virar ídolo”, avaliou Geovanni. “Tendo uma sequência, acredito muito que ele possa evoluir e ter sucesso como teve aqui”, considerou Elano. “É um grande jogador, tem condições de fazer uma boa trajetória na Europa”, encerrou Keirrison.