A exploração de petróleo na Margem Equatorial pode deixar de ser um problema para quem se preocupa com o meio ambiente e passar a ser uma “ponte para uma transição energética justa”. A tese é defendida pela diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciana da Costa, em artigo publicado na edição desta terça-feira, 20, no Estadão.

O texto tem como pano de fundo a negativa de uma licença do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) à Petrobras no final da maio para pesquisar petróleo na Margem Equatorial, faixa de mar que se estende do Rio Grande do Norte ao Amapá, a cerca de 500 quilômetros da foz do Rio Amazonas.

Para a executiva, há questões mais relevantes que a “comoção” deflagrada neste debate, considerando que a exploração da Margem Equatorial deve ser capaz, a partir de 2030, quando os campos do pré-sal devem começar a declinar, de elevar a produção brasileira, gerando receitas sob baixo risco de inviabilização dos investimentos.

“Estimativas preliminares apontam uma riqueza de US$ 770 bilhões a US$ 2,3 trilhões”, calcula Luciana, admitindo, que a área é “ambientalmente sensível” e que “serão crescentes as restrições aos combustíveis fósseis”, o que deve fazer seu preço cair em certa medida nas próximas décadas, afirma Luciana, tendo em vista a costa da vizinha Guiana, que descobriu reservas em 2015.

Em 2022 a extração de petróleo atingiu 360 mil barris por dia, e a expectativa é a Guiana se tornar o segundo maior produtor na América do Sul, com 1,7 milhão de barris por dia em 2035, atrás só do Brasil, segundo a Rystad Energy. O preço de equilíbrio por barril da produção na Guiana é de US$ 28 a US$ 30, competitivo mundialmente, afirma.

Segundo ela, a Petrobras precisa ainda mostrar em seu planejamento como vai usar as receitas do óleo para transformar a petroleira numa empresa de energia do século 21, e como tal futuro se articula com o desenvolvimento de cadeias produtivas em que o País aproveite suas vantagens naturais (vento, luz, solo etc.) para promover uma indústria competitiva.

Segundo ela, “o BNDES pode colaborar”, citando para isso a criação de um grupo de trabalho com a Petrobras para também impulsionar atividades que beneficiem as pessoas da região e avaliar a criação de fundos para desenvolver cadeias.