Em 1ª exortação, Leão XIV critica ‘elites ricas’ e cita Brasil

VATICANO, 9 OUT (ANSA) – O Papa Leão XIV emitiu nesta quinta-feira (9) seu primeiro documento dogmático oficial, a exortação apostólica “Dilexi te” (“Ele te amou”), projeto iniciado por Francisco e que faz um amplo chamado para enfrentar a pobreza em todas as suas formas, com críticas às “bolhas das elites ricas” e uma menção ao Brasil.   

Segundo o pontífice americano, Jorge Bergoglio preparava, “nos últimos meses de sua vida”, uma exortação apostólica “sobre o cuidado da Igreja com os pobres”. “Ao receber como herança este projeto, sinto-me feliz ao assumi-lo como meu – acrescentando algumas reflexões – e ao apresentá-lo no início do meu pontificado”, diz.   

No documento, o Leão XIV afirma que o clamor dos pobres desafia a todos e ressalta que as respostas da humanidade para combater a desigualdade continuam insuficientes.   

“No rosto ferido dos pobres, encontramos impresso o sofrimento dos inocentes e, portanto, o próprio sofrimento de Cristo”, acrescenta o Papa, elencando as diversas formas de uma pobreza “multifacetada”: “a daqueles que não têm meios de subsistência material, a pobreza de quem é marginalizado socialmente, a pobreza moral e espiritual, a pobreza cultural, aquela de quem se encontra em condições de fraqueza ou fragilidade seja pessoal seja social, a pobreza de quem não tem direitos, nem lugar, nem liberdade”.   

Além disso, o pontífice cobra uma “mudança de mentalidade” no mundo e alerta para a “ilusão de uma felicidade que deriva de uma vida confortável e leva muitas pessoas a ter uma visão da existência centrada na acumulação de riquezas e no sucesso social a todo o custo, a ser alcançado mesmo explorando os outros e aproveitando ideais sociais e sistemas político-econômicos injustos, favoráveis aos mais fortes”.   

“Assim, em um mundo onde os pobres são cada vez mais numerosos, vemos paradoxalmente crescer algumas elites ricas, que vivem numa bolha de condições demasiado confortáveis e luxuosas, quase em um mundo à parte em relação às pessoas comuns”, ressalta.   

Segundo Leão XIV, isso é símbolo de uma “cultura que descarta os outros”, ao mesmo tempo em que tolera que “milhões de pessoas morram de fome ou sobrevivam em condições indignas do ser humano”. “Alguns anos atrás, a foto de uma criança de bruços, sem vida, numa praia do Mediterrâneo provocou grande choque; infelizmente, à parte de alguma momentânea comoção, acontecimentos semelhantes estão se tornando cada vez mais irrelevantes, como se fossem notícias secundárias”, afirma, em referência à morte do menino sírio Alan Kurdi em um barco de refugiados naufragado na Turquia, em setembro de 2015.   

Brasil – Leão XIV ainda faz uma referência ao Brasil na exortação apostólica, ao prestar uma homenagem a Irmã Dulce, primeira santa nascida no país e canonizada como “Santa Dulce dos Pobres” pelo papa Francisco em outubro de 2019.   

Segundo Prevost, o “anjo bom da Bahia” encarnou o “espírito evangélico” da atenção aos mais necessitados, porém com “feições brasileiras”.   

“Irmã Dulce enfrentou a precariedade com criatividade, os obstáculos com ternura, a carência com fé inabalável. Começou acolhendo doentes num galinheiro e dali fundou uma das maiores obras sociais do país. Atendia milhares de pessoas por dia, sem jamais perder a doçura. Fez-se pobre com os pobres. Vivia com pouco, rezava com fervor e servia com alegria. A sua fé não a retirava do mundo, mas lançava-a ainda mais profundamente nas dores dos últimos”, diz o pontífice. (ANSA).