11/10/2017 - 8:06
A cidade de São Paulo registrou 559 casos de hepatite A de janeiro a 23 de setembro deste ano – 773% mais do que todos os registros de 2016, quando houve 64 infectados. O balanço é da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. Em 2017, quatro pessoas evoluíram para a forma grave da doença e duas morreram.
Transmitida por meio de água e alimentos contaminados pelo vírus, que costuma estar presente nas fezes das pessoas infectadas, a doença também pode ser contraída por contato sexual, principalmente oral e anal. Esse tipo de contágio é o que tem sido apontado pela secretaria como principal hipótese para o aumento no número de casos.
“A gente começou a ver esse registro no final de abril deste ano. Tivemos um pico no mês de julho e esse número veio declinando em agosto e setembro. A maior probabilidade é de que tenha relação com surtos que têm sido descritos na Europa, porque teve aumento em mais de 20 países, com o pico em março de 2017. A maioria desses casos é de infecção por contato sexual, principalmente sexo oral e anal. Muitas pessoas viajam e tem uma circulação do vírus”, explica Geraldine Madalosso, médica epidemiologista da Divisão de Vigilância Epidemiológica da Coordenação de Vigilância em Saúde (Covisa) da Secretaria Municipal Saúde de São Paulo.
Segundo a pasta, 45% dos casos registrados na capital têm como provável modo de transmissão o contato sexual desprotegido e a maioria é de homens que fazem sexo com homens. “Outros 10% estão relacionados a água e alimentos contaminados, casos de pessoas que viajaram para locais com precárias condições de saúde e 45% são de causas a serem investigadas. Tivemos quatro pacientes que precisaram de transplante de fígado e dois morreram.”
Geraldine diz que a secretaria tem trabalhado para evitar que a doença continue se espalhando na cidade. “Desde abril, temos feito a divulgação para os serviços de saúde e boletins para os profissionais de saúde e a população. A principal forma de prevenção é a vacina da hepatite A, que está disponível para crianças menores de 5 anos na rede pública e é gratuita. As demais pessoas podem se beneficiar da vacina na rede particular.”
Muitos jovens e adultos no País não estão imunizados para a doença. Isso porque a vacina foi incorporada em 2014 ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) para crianças de até 2 anos e, em março deste ano, passou a ser destinada para crianças de até 5 anos. A partir desta idade, só é possível tomar na rede privada. Mas a imunização está em falta na cidade.
Preocupação
Médica infectologista do Ambulatório de Hepatites do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, Umbeliana Barbosa diz que embora não evolua para a forma crônica, como as hepatites B e C, o tipo A costuma ser mais preocupante em adultos do que em crianças. “Antigamente, o contato acontecia na infância, quando aparece de forma leve e assintomática. Esses surtos em adultos mostram que ela é mais intensa na fase adulta. Muitos pacientes são hospitalizados por fraqueza, desidratação e isso está dentro da história natural da doença.”
Pele e olhos amarelados, dor abdominal, urina escura e fezes esbranquiçadas são sintomas. A doença já pode ser transmitida até 15 dias antes do início dos sintomas, mas há casos assintomáticos. “O vírus é transmitido nas fezes e a maior concentração ocorre antes de a icterícia (processo em que os tecidos ficam amarelados) aparecer”, explica.
Professor de infectologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Celso Granato diz que, apesar da alta de casos, é possível evitar a disseminação. “O ideal é se vacinar. Além disso, tomar as medidas de higiene e usar preservativo. O problema é que está se falando sobre HIV há 30 anos, mas as pessoas pensam que a situação está controlada e se esquecem que há sífilis, gonorreia e outras doenças transmitidas pelo sexo, incluindo a hepatite A.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.