Elton John repete por várias vezes que não pensava em fazer nenhuma gravação durante a pandemia de 2020. Não havia clima em tempos de mortes e isolamentos. Mas, aos poucos, pessoas começam a chegar a seu lado e foi como se um novo álbum se desenhasse naturalmente. Ele conheceu primeiro, em um restaurante de Los Angeles, o jovem cantor e compositor Charlie Puth.

Puth, 29 anos, cheio de charme e carisma, com parte de sua sobrancelha direita arrancada por uma mordida de cachorro na infância, ainda não parece ter algo que o diferencie do pop mediano. Mas ninguém, nem Elton John, se importa com isso. Puth falou de seu estúdio, declamou-se ao ídolo e o convenceu a fazerem algo juntos.

Dua Lipa veio em seguida, também em um jantar. Ali, eles falaram de colaborações, trocaram elogios e, meses depois, saiu Cold Heart, um remix feito pelo trio Pnau, o coletivo dos produtores Nick Littlemore, Peter Mayes e Sam Littlemore, para a voz de Dua e Elton. Sinal dos tempos: mais do que qualquer entrega de uma ou duas vozes, o que vale no império das feats (as colaborações) é a produção. O remix com trechos de Sacrifice (1989), Kiss The Bride (de 1983) e Rocket Man (de 1972) foi apresentado com um clipe que, até neste domingo, 17, no YouTube, tinha mais de 41 milhões de visualizações.

As outras costuras foram sendo feitas e o álbum despontou. The Lockdown Sessions, gravado com os artistas em isolamento, está previsto para sair no dia 22, em CD e plataformas digitais. São 16 músicas, dez delas surpreendentemente inéditas, pensadas como colaborações feitas por Elton John a artistas do naipe de, além de Charlie Puth e Dua Lipa, Brandi Carlile, Eddie Vedder, Gorillaz, Lil Nas X, Miley Cyrus, Nicki Minaj, Rina Sawayama, SG Lewis, Stevie Nicks, Stevie Wonder, Surfaces, Years & Years e Young Thug. Uma espécie de passado e presente, diversão e estratégia, pesquisa e reverência, ócio e posicionamento.

Elton John, 74 anos, falou em um vídeo aberto à imprensa sobre suas sessões de isolamento. Aberto, mas controlado. Dentro de um estúdio, ele respondeu a apenas três perguntas das milhares enviadas por profissionais do mundo em uma sala de Zoom, incluindo a reportagem do Estadão. Tudo extremamente pensado para evitar vazamentos. As músicas novas só puderam ser escutadas pelos jornalistas em partes e no dia da entrevista. Fora isso, só no dia 22.

The Lockdown Sessions foi gravado nos últimos 18 meses. Elton havia feito uma pausa na turnê Farewell Yellow Brick Road e se divertia apresentando o programa de rádio Apple Music Rocket Hour, discutindo música com o marido, David Furnish, ou com Eminem. “A última coisa que eu esperava durante o lockdown era fazer um álbum. Mas, à medida que a pandemia avançava, projetos pontuais continuavam surgindo. Todas as faixas em que trabalhei eram realmente interessantes e diversas, coisas diferentes de tudo pelo que sou conhecido e que me tiraram da zona de conforto para um território novo.

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E eu percebi que havia algo estranhamente familiar em trabalhar assim. No início da minha carreira, fui músico de estúdio. Trabalhar com diferentes artistas durante o lockdown me fez lembrar disso. Eu estava fechando um círculo: voltava a ser um músico de estúdio. E ainda era o máximo”, disse Elton antes da entrevista, em um comunicado enviado por sua gravadora.

Ao falar sobre o disco, repetiu o discurso. Questionado, falou sobre a força da cena queer, ou do pop LGBT+. Citou com empolgação especial o jovem Jake Wesley Rogers dizendo “procurem saber, ele logo será grande” e disse, tirando onda: “Nós somos muitos, mas não vamos machucar vocês”. Elton contou que ouve muita gente nova, que vai considerar o fim o dia em que acreditar que não precisa saber mais nada, lembrou que a primeira canção que o deixou tonto foi Secret Love, com Doris Day, e que não para de buscar pelo novo, por artistas desconhecidos. “Ainda faço minhas listas dos CDs e dos vinis que quero comprar e fico atento. O Spotify lança 30 mil músicas por semana.”

Elton falou ainda do prazer em gravar com Stevie Nicks, do Fleetwood Mac, e lembrou que colaborações não são novidade a um homem que já fez trabalhos com Ray Charles, Aretha Franklin e John Lennon e que só não fez nada ainda com Billie Eilish porque não está na hora: “Ela ainda está se descobrindo, encontrando seu caminho”.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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