O alvo do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), ao cumprir agenda de visita oficial a Washington, na última semana, seria o de exibir bom trânsito no circuito internacional, como um dos pontos fortes de sua pré-candidatura à Presidência. Curiosamente, porém, assim que pisou em solo americano, Rodrigo disse que não será candidato. Afirmou que “não está na hora de debater” o assunto. Por coincidência, outro pré-candidato, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, também pisou no freio depois que a agência Standard & Poor’s rebaixou o rating do Brasil. Explicou que, até abril, vai se concentrar na economia e na aprovação da reforma da Previdência.

Diante dos recuos de Rodrigo e de Meirelles, fica a seguinte dúvida no ar: as duas pré-candidaturas a presidente são mesmo para valer? Gente que é do ramo garante que a resposta é não. Acreditam que são apenas balões de ensaio. O deputado federal Miro Teixeira, do alto do 11° mandato, afirma que Rodrigo Maia “é candidato a deputado e à presidência da Câmara”. Por sinal, é a mesma opinião do ex-prefeito César Maia, pai de Rodrigo, que, em seu blog na internet, tem dito que o filho quer se manter no comando da Câmara na próxima legislatura.

Ao justificar o desafio eleitoral, o presidente da Câmara traça um cenário risonho. Ele projeta que até abril pode chegar a 10% nas pesquisas e, se isso acontecer, sua candidatura se tornará viável. Trata-se, contudo, de uma meta que beira à fantasia. Em sua primeira tentativa de ocupar um cargo executivo, Rodrigo fracassou. Concorreu à prefeitura do Rio, em 2012, e chegou em quinto lugar com apenas 3% dos votos. Mesmo na eleição para deputado em 2014, teve um desempenho mediano, com 53.167 votos, o que lhe deu o 29º lugar. Pelo que mostrou em Washington, ele indica estar prestes a abandonar a pré-campanha. A ver.

O rebaixamento como freio

Por enquanto, tudo mostra que o destino de Henrique Meirelles, filiado ao PSD, não será diferente. Desde que lançou a si mesmo na corrida sucessória, o ministro da Fazenda enfrentou ostensiva oposição do Palácio do Planalto. Na avaliação do presidente Michel Temer, a candidatura de Meirelles prejudica o trabalho de aglutinação da base aliada, necessária para a aprovação da reforma da Previdência e demais projetos estratégicos do governo. Muitos parlamentares podem se mostrar refratários na hora de votar, se concluírem que a aprovação dos projetos vai servir de munição para a campanha de Meirelles.
Em recente entrevista, o presidente confirmou seu desagrado e disse que Meirelles até seria um grande presidente: Mas, para mim, é claro que é muito melhor que ele fique na Fazenda”. No Planalto, a declaração soou como um recado. Na tarde do dia seguinte, sexta-feira 12, a agência de rating Standard & Poor’s anunciou o rebaixou a nota de crédito do Brasil de “BB” para “BB-”, ou seja nível especulativo.

Meirelles havia feito um enorme esforço para convencer os técnicos da S&P a manterem o rating do País. Acenou, principalmente com os bons resultados da política econômica. Com o Brasil correndo o risco de ser rebaixado por outras agências de rating como a Moody’s, ficou mais complicada a possibilidade de Meirelles repetir a trajetória de Fernando Henrique em 1994. Na sucessão de Itamar Franco, FHC foi facilmente eleito no bojo do sucesso do Plano Real. Meirelles confiava em ganhar votos com base no desempenho da economia. O rebaixamento do Brasil, portanto, não veio em boa hora. Com a candidatura do chamado centro do espectro político ainda em aberto, nada impede que Meirelles recupere o fôlego nos próximos meses e volte a se firmar como uma opção no tabuleiro do xadrez. O recuo, nesse caso, seria encarado como estratégico. O mesmo raciocínio vale para Rodrigo Maia. Quem sabe.