Na cidade paraense de Ourilândia do Norte, que fica a 872,3 km de distância de Belém, alguns eleitores teriam vendido os seus votos e tiveram de ir às urnas com óculos-espião para comprovarem que votaram no vereador Edivaldo Borges Gomes, conhecido como Irmão Edivaldo (MDB).

Segundo o programa “Fantástico”, da TV Globo, os óculos, que continham uma microcâmera embutida, chamaram a atenção de uma mesária, porque mais de uma pessoa entrou com o objeto na mesma seção eleitoral.

À polícia, a mulher relatou que, “em um determinado momento, observou um eleitor portando óculos com espessura extensa. E, depois de alguns instantes, uma adolescente estava com o mesmo objeto no bolso”.

Então ela abordou a adolescente que disse que uma pessoa teria oferecido R$ 200 para que ela votasse no candidato a vereador Irmão Edivaldo, e só receberia o valor depois que comprovasse por meio das filmagens o voto nele.

O candidato foi preso em flagrante, mas acabou sendo solto após pagamento de fiança. Ele pode responder pelo crime de compra de votos e associação criminosa. Cinco dias depois de ter sido reeleito, o parlamentar se defendeu das acusações em uma sessão da Câmara Municipal.

Compra de votos em disputa à prefeitura

A disputa pela Prefeitura de Nova Olinda do Maranhão foi a mais acirrada de todo o país. O candidato Ary Menezes (PP) foi eleito no primeiro turno com 50,01% dos votos, enquanto Thaymara Amorim (PL) conseguiu 49,99%. A diferença entre os dois postulantes foi de apenas dois votos.

Thaymara chegou a comemorar a vitória quando 97% das urnas haviam sido apuradas e mostrava uma diferença de 100 votos a favor dela. Porém o resultado final mostrou que Ary foi o eleito.

Depois, alguns eleitores relataram que teriam vendido seus votos em favor de Ary Menezes e relataram que passaram a receber ameaças e represálias. Danilo Santos foi um dos que admitiu ter sido procurado antes da votação.

“Ary Menezes, com Ronildo, Cleo Barros, foram na minha casa, entendeu? Pra gente fechar um compromisso”, disse, citando Ronildo da Farmácia (MDB), vice de Ary Menezes, e Clecia Barros (Republicanos), aliada do candidato à prefeitura.

Danilo destacou que as três pessoas supostamente perguntaram o que ele queria em troca do seu voto. “Falei que era 1.500 telhas, 20 sacos de cimento e a madeira da minha casa. Eles falaram para mim que, se fosse só isso, já estava tudo comprado. Que no outro dia era para eu ir buscar lá no galpão”, completou. Porém, segundo ele, não recebeu o que teria sido prometido e mudou de ideia. Depois da eleição, um caminhão da prefeitura retirou as telhas da casa dele.

Já a pescadora Luciane Souza Costa afirmou que também foi ameaçada por ter decidido não votar em Ary nem na vereadora indicada por ele depois que seu marido ter recebido dinheiro pelo voto. Imagens gravadas por ela mostram as ameaças.

“Como eu não peguei o dinheiro, foi o meu marido que pegou, e eu postei nos meus ‘Status’ [em rede social] dando apoio para a minha vereadora, me ameaçaram de morte. [Ameaçaram] eu, meu marido e minhas filhas. Que se a gente não votasse neles, eles iam matar a gente”, disse.

Por meio de nota, Ary Menezes afirmou que “a compra e venda de votos compromete a democracia do pleito e deve ser apurada pela Justiça Eleitoral”, e se colocou à disposição para esclarecimentos.

Ronildo Farmácia negou as acusações. “Eu dou a garantia que da minha parte e da parte do Ary, 100% de certeza que não oferecemos dinheiro em troca de votos para ninguém. Fizemos uma campanha limpa, está entendendo?”, disse.

A defesa de Clélia Barros afirmou que ela “não tem conhecimento sobre a captação ilícita de votos apontada na reportagem” e que “a cliente tem a vida pública pautada pela honestidade, sempre respeitando os pilares da democracia”.