04/10/2024 - 11:30
À medida que a disputada campanha presidencial nos Estados entra na reta final, os pesquisadores de desinformação alertam sobre as ameaças da IA e a influência estrangeira, mas os eleitores estão mais preocupados com as informações falsas vindas de uma fonte mais próxima: os políticos.
Os Estados Unidos enfrentam uma avalanche de desinformação antes da eleição de 5 de novembro, desde páginas de “notícias” falsas criadas, de acordo com pesquisadores, por agentes russos e iranianos, até imagens manipuladas com ferramentas de inteligência artificial (IA) que obscureceram as linhas entre fato e ficção.
No entanto, é mais preocupante para os eleitores a divulgações de informações falsas à moda antiga: políticos espalhando mentiras, que, segundo os pesquisadores, quase não enfrentam consequências legais por distorcerem a verdade.
“Acredito que se fizermos uma revisão de 2024, a informação falsa mais viral terá vindo de políticos ou terá sido amplificada por políticos”, disse o codiretor do Centro de Redes Sociais e Política da Universidade de Nova York.
Segundo uma pesquisa publicada por Axios na semana passada, 51% dos americanos disseram que sua principal preocupação na hora de falar de desinformação são os políticos difundindo mentiras.
Para 35% são “as empresas de redes sociais que não conseguem frear a desinformação” e a “IA usada para enganar as pessoas”, enquanto 30% se mostraram preocupados com governos estrangeiros que divulgam informações falsas.
Para John Gerzema, chefe da equipe que realizou a pesquisa, “nas eleições passadas sempre houve temores ante a desinformação e a interferência eleitoral do exterior”. “Mas aqui vemos que a maior fonte de preocupação são os próprios políticos americanos desinformando”, acrescentou.
A abundante difusão de imagens realistas falsas, geradas com IA nas redes sociais, desatou o que pesquisadores chamam de a era da “dúvida profunda”, uma nova época de ceticismo que diminui a confiança na internet.
Os crescentes temores ante o poder da IA generativa incentivaram os políticos a espalhar dúvidas sobre a autenticidade de conteúdos reais, uma estratégia conhecida como o “dividendo do mentiroso”.
Os americanos foram testemunhas dessa prática em agosto, quando o candidato republicano, Donald Trump, acusou falsamente sua rival democrata, a vice-presidente Kamala Harris, de usar IA para mostrar uma multidão muito maior durante um comício no Michigan.
A declaração foi verificada com fotos e vídeos de jornalistas da AFP que estiveram presentes no comício, assim como especialistas que disseram à equipe de verificação da AFP que a imagem em questão não tinha evidências de manipulação com IA.
“À medida que as pessoas começam a aceitar a onipresença da IA generativa, se torna mais fácil se convencer de que as coisas que um não quer que sejam certas não o são”, afirmou Tucker.
“Os políticos sabem disso, então têm a opção de tentar apresentar as coisas como tivessem sido criadas com IA”, acrescentou.
Nos meses anteriores à eleição, a equipe de verificação da AFP desacreditou sistematicamente uma série de afirmações falas dos candidatos a presidente e vice-presidente dos dois lados do espectro político.
Alguns exemplos são a amplificação de rumores sem provas por parte da campanha de Trump de que migrantes do Haiti roubam e comem os animais de estimações dos moradores de Ohio, enquanto Harris afirmou de maneira enganosa que o ex-presidente republicano deixou “o pior desemprego desde a Grande Depressão” quando saiu da Casa Branca.
Na pesquisa da Axios, 8 a cada 10 americanos estão preocupados, porque a desinformação pode afetar significativamente os resultados da votação e mais da metade afirmou que se desvinculou dos políticos, porque “não conseguem identificar o que é verdade”.
A pesquisa também revelou que os republicanos estão quase tão preocupados quanto os democratas e os independentes com o fato de os políticos ampliarem a desinformação.
Não há muito que os freie, segundo os especialistas, porque a liberdade de expressão é protegida pela Primeira Emenda nos Estados Unidos e no passado os tribunais impediram várias tentativas de regular o discurso político falso.
A moderação das mentiras políticas nas redes sociais emergiu como um para-raios, mas muitos conservadores a qualificam de “censura” sob a desculpa de combater a desinformação.
“Cada ciclo eleitoral nós somos confrontados com a mesma preocupação: se os candidatos estão dizendo a verdade”, disse à AFP o professor Roy Gutterman da Universidade de Syracuse.
“Além de não serem eleitos por suas declarações falsas, não há realmente nenhuma consequência para os candidatos que distorcem a verdade ou mentem sobre suas realizações ou usam críticas falsas contra seus rivais”.
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