A direção nacional do Partido dos Trabalhadores pode ter cometido, na semana passada, um dos maiores erros de sua história, ao tentar derrubar a candidatura da vereadora Marília Arraes, do Recife, ao governo de Pernambuco. No momento em que o PT sofre um ataque implacável e é alvo de um golpe institucional, Marília simboliza o que o partido tem de mais valioso: uma militância entusiasmada que ocupa as ruas e aposta nas bases para renovar a política. O que esses militantes receberam em troca? O veto da cúpula partidária, que preferiu se aliar ao impopular governador Paulo Câmara, do PSB, em nome de acordos regionais. Sim, porque nem o apoio nacional dos socialistas o PT conseguiu arrancar.

O argumento principal dos que costuraram a aliança é o de que, agora, Lula ou seu eventual substituto conseguirão “fechar o Nordeste”, com o apoio de praticamente todos os governadores. Além disso, com a saída de Márcio Lacerda, do PSB, em Minas Gerais, o caminho para a reeleição de Fernando Pimentel, do PT, ficaria facilitado. Será mesmo? Lacerda avisou que recebe com “desprezo” a oferta do PSB para disputar o Senado na coligação petista. E Marília também não deve fazer qualquer gesto em direção a Paulo Câmara.

Se os candidatos abatidos não se movem, o que dizer então dos eleitores? Nada indica que eles se comportarão como uma obediente boiada, tocada pelos dirigentes partidários. O que se viu nas redes sociais, entre os militantes do campo progressista, foi um misto do choque, perplexidade e decepção com a decisão dos partidos que selaram esse semi-acordo PT-PSB. Muitos jogaram a toalha. Afinal, por que sair às ruas e combater um golpe extremamente violento, se os próprios partidos são capazes de selar alianças com golpistas e também de golpear candidaturas que sinalizam uma promessa de renovação política?

Na decisão do PT, há também uma incompreensão com a natureza do golpe de 2016, que vem ocorrendo em sucessivas etapas. Primeiro, Dilma foi derrubada sem crime. Depois, direitos sociais foram suprimidos e riquezas nacionais foram entregues. No terceiro ato, Lula foi preso, num julgamento de exceção, para ser impedido de disputar as eleições e de reverter as medidas adotadas pela coalizão golpista. A única forma de retirá-lo dessa condição de preso político não é retomar a política de alianças, que é a raiz da crise atual, mas sim apostar na mobilização popular e no aumento da pressão internacional.

O semi-acordo entre PT-PSB pode ter sido um dos maiores erros da esquerda em toda a sua história

Pois bem: justamente no momento em que essas mobilizações ganhavam impulso, com o sucesso do Festival Lula Livre, por exemplo, vem a ducha de água fria que mostra ao povo que o pragmatismo continua imperando. Ao menos, a semana teve a boa notícia de que o Papa Francisco, que recebeu o chanceler Celso Amorim no Vaticano, está atento à degradação brasileira.

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