Em 2016, às vésperas de completar 80 anos, Ignácio de Loyola Brandão ganhou o Prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras a um escritor pelo conjunto da obra. Seu nome logo surgiu como um possível candidato a uma eventual vaga na ABL – mas ele não quis. De lá para cá, três escritores, um cineasta e um jurista foram eleitos imortais. A instituição tem 40 membros e uma nova eleição é convocada quando um deles morre.

“Eu nunca tinha pensado em me candidatar, achava que não era para mim. Mas é para mim, também. Quero abraçar o mundo com as mãos, com os pés. Não sei quanto tempo mais eu tenho, mas sinto uma vontade tão grande de chegar lá em cima e esse era mais um passo, mais um degrau subido. E se vierem outros eu vou subindo, nem que sejam os da Penha”, brincou o escritor em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo assim que soube que tinha sido eleito, por unanimidade, aos 82 anos, o novo imortal da Academia Brasileira de Letras.

A eleição foi realizada na tarde desta quinta-feira, 14, e Loyola Brandão concorreu com outros 11 candidatos – nenhum com sua trajetória reconhecida pela crítica e pelo público – à vaga do jurista Helio Jaguaribe, morto em setembro.

“Eu abri caminho para muita gente nova e chegou este momento em que pensei: por que não ser reconhecido pelo que fiz e pelo que estou fazendo?”, comentou o escritor que nasceu em Araraquara em 1936.

Jornalista com passagens pelas redações do jornal Última Hora e de diversas revistas, Loyola Brandão é também, desde 1993, cronista do jornal O Estado de S. Paulo – primeiro no então caderno Cidades e, a partir de 2000, no Caderno 2. Suas crônicas são publicadas quinzenalmente, às sextas.

Ele estreou na literatura em 1965 com o os contos de Depois do Sol, e seu livro preferido é Dentes ao Sol (1976), seu “maior fracasso”. O reconhecimento maior veio com os romances Zero (1975), censurado na ditadura militar e publicado primeiro na Itália – e que vendeu, aqui, cerca de 900 mil exemplares -, e Não Verás País Nenhum (1981), seu best-seller, com 1 milhão de cópias comercializadas. Ele é autor, ainda, de Bebel Que a Cidade Comeu (1968) e de Obscenidades Para Uma Dona de Casa (1981), entre outras obras.

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No ano passado, depois de uma década sem publicar ficção, o escritor voltou ao romance e lançou Desta Terra Nada Vai Sobrar a Não Ser o Vento Que Sopra Sobre Ela – uma obra que nasce de sua observação do “momento confuso atual do Brasil”. O livro, apocalíptico, é ambientado num tempo incerto e retrata, por meio de viagens de Felipe e Clara, os protagonistas, um Brasil caótico, com 1.080 partidos políticos. A obra acaba de ganhar sua primeira reimpressão.

“Este é um livro que mais do que nunca está representando esse Brasil de hoje”, ressaltou. “Já me perguntaram: onde está o livro realista? É impossível ser realista diante de uma atitude tão absurda como essa que estamos vivendo. O único caminho que vejo é o da chamada distopia. No meu livro tem um presidente que não tem mais coração, outro que não tem mais sangue e outro que nem existe.”

Além do reconhecimento e prestígio, Ignácio de Loyola Brandão tem outro motivo para comemorar sua entrada na Academia Brasileira de Letras. “Estou muito feliz porque a minha geração chegou aqui: João Ubaldo Ribeiro, Moacyr Scliar, Nélida Piñon, Antonio Torres e agora eu. Uma geração 1960-1970 que batalhou muito pelo País, e que batalhou numa época muito difícil – e que estamos entrando em outra igual”, disse.

“Nosso papel, aqui, vai ser o de defender a liberdade – a liberdade para a arte, a liberdade de imprensa – e continuar a retratar, como eu fiz até hoje, esse Brasil. Eu nunca deixei de acreditar, nunca deixei de fazer. Sou pequeno e magrinho, mas nunca perdi a força”, completou.

Ignácio de Loyola Brandão também é autor de uma série de coletânea de crônicas – a maioria publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo . Os volumes mais recentes são Se For Para Chorar, Que Seja de Alegria (2016) e O Mel de Ocara – Ler, Viajar, Comer (2015). Toda sua obra é publicada pela Global, com exceção de alguns infantis, como O Menino Que Vendia Palavras (Companhia das Letras), vencedor do Prêmio Jabuti), e Os Olhos Cegos dos Cavalos Loucos (Moderna), um pedido de desculpas tardio ao avô por causa de uma arte feita na infância.

“Imagina: sair de Araraquara e chegar aonde cheguei. Estou muito feliz. Nem acredito”, disse o novo escritor imortal.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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