SÃO PAULO, 21 FEV (ANSA) – Empresário do Espírito Santo, Thiago Roldi, da União Tricolor América Latina (Unital), é candidato a uma vaga na Câmara dos Deputados. Atual presidente da Libera Unione Italiani Sud America (Luisa), associação voltada a atividades sociais e de suporte a cidadãos em serviços consulares, ele também foi diretor artístico e cultural do Circolo Trentino. Roldi vive em Santa Teresa, cidade reconhecida recentemente como “pioneira da imigração italiana no Brasil”, graças a uma lei federal assinada pelo presidente Michel Temer.   

As trocas comerciais entre Brasil e Itália caíram mais de 30% desde 2013, ano das últimas eleições legislativas italianas. O que o senhor propõe para recuperar as relações entre os dois países no âmbito do comércio? Eu acho que a gente, entrando com uma lista independente, talvez a visão que essa lista traga é que você não tem nenhum atrelamento com qualquer partido italiano. E eu entendo que, de repente, quando os governos não têm, talvez, uma boa relação – não que não tenha, entre o governo que está aqui e o governo italiano tem oportunidade, às vezes, de ter uma semelhança maior -, entrando com esse grupo parlamentar, com essa lista cívica, tendo essa independência, talvez esses acordos sejam mais fáceis, porque não tem nenhum vínculo político. Qual é a proposta do senhor para aproximar Brasil e Itália na cultura e no turismo? Eu, como sempre participei de associações, vejo que há bastante tempo tem tido muito pouco investimento do governo italiano. A ideia realmente é de resgate. Eu penso que seja criada uma federação que possa unir as comunidades italianas. Eu participei por vários anos de comunidades, sou descendente de trentinos, friulanos e lombardos, pude participar por vários anos de associações e vejo que a dificuldade é muito grande, até porque você não tem nenhum incentivo, não existe nenhum incentivo do governo. A minha proposta é de ter atenção para que essas associações possam continuar se mantendo. Nos últimos anos, apenas um primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, veio ao Brasil, e por causa das Olimpíadas. A Itália negligenciou as relações com o Brasil e vice-versa? Olha, não só no mandato do PD, mas no mandato anterior, da direita italiana, eu vejo que talvez não tenha tido boas relações com a atual administração nossa. Quem tem que fazer isso são os próprios políticos eleitos no exterior. O problema é que, nos últimos cinco anos, dos seis, três eram do governo. E para eles, vindo ou não, não sei se era conivente. Acredito que, com essa independência política, mostrando uma sobriedade política, no sentido de não ter atrelamento com nenhum partido, talvez esse viés tenha um novo sentido. As eleições de outubro no Brasil podem facilitar a retomada das relações com a Itália? Acredito que sim. Muito vai depender porque… Até se confunde um pouco a política brasileira com a italiana, muito vai depender de como vão ficar as eleições na Itália, as eleições no Brasil, mas acredito que tem sim, com certeza. O senhor é a favor da extradição de Cesare Battisti pelo governo brasileiro? Olha, eu prefiro não me manifestar sobre esse caso, prefiro não responder sobre essa pergunta. Os defensores de Battisti acusam a Itália de tentar interferir nas instituições do Brasil ao pedir novamente sua extradição, mesmo depois das decisões tomadas pelo presidente da República (Lula) e pelo Supremo Tribunal Federal. O que o senhor pensa dessa visão? Eu prefiro não responder sobre esse assunto.   

A comunidade de ítalo-descendentes no Brasil reclama bastante das filas para reconhecimento de cidadania nos consulados. O que o senhor propõe para melhorar essa situação? Em curto prazo, de uma maneira geral, a gente vê que a única forma é você ter funcionários de carreira ou a contrato, como era antes de 2008.   

Depois de 2008 até hoje, quase mil funcionários foram mandados embora em todos os consulados do mundo. A curto prazo, que cada consulado, cada vice-consulado, tenha mais funcionários ou funcionárias de carreira. Por exemplo, o sistema “prenota online” eu acho que não funciona. No nosso entendimento, o sistema ideal seria que o pedido de cidadania seria feito por um bloco familiar, a documentação seria entregue ao consulado ou representação consular, e o deferimento da cidadania por blocos familiares seria muito mais eficiente, pois economiza tempo, na medida em que não teria o atendimento individual. O senhor é a favor da imposição de um limite de geração à concessão de cidadania jus sanguinis, como propôs um senador italiano no fim do ano passado? Não, de forma alguma. É um princípio conseguido por nós. Eu vejo da seguinte forma: se a Itália limitar a cidadania, visto que ela já tem um déficit de natalidade, a Itália, entre 50 e 60 anos, pode perder toda a sua identidade, que hoje ainda mantém através dos italianos que estão lá, mas também dos italianos que estão no exterior, que mantêm ainda a cultura entre seus descendentes. Um dos projetos que ficaram pendentes na última legislatura italiana foi o do jus soli. Se eleito, o senhor defenderá a aprovação dessa lei? Não, não, sou totalmente contra o jus soli. Somente isso que tenho que responder. Sou completamente contra o jus soli. Nos últimos anos, a Itália foi destino de um dos maiores deslocamentos em massa desde a Segunda Guerra Mundial. Qual, na visão do senhor, deve ser a postura do governo para lidar com a crise migratória e de refugiados no Mediterrâneo? Com certeza com ações que façam com que não seja da forma como foi nos últimos cinco anos, que foi a pior, acredito eu. Essa imigração descontrolada. É lógico que a Itália, assim como qualquer país da União Europeia, vem recebendo os imigrantes. É lógico que pela costa italiana ser maior, recebe um número maior. Você tem a influência também de um Estado dentro da Itália, que é o Vaticano. Eu acho que receber, sim, mas de forma limitada, que a Itália saiba quem são os imigrantes que estão chegando, se realmente estão chegando por necessidade ou por outros motivos. Quem é o candidato ou candidata do senhor a primeiro-ministro nas eleições de março? Eu, hoje, não tenho um candidato ainda definido. (ANSA)