Garantir uma perspectiva para o futuro também de jovens que vivem na favela e nos bairros de periferia por meio do esporte é um dos desejos de Cyro Garcia. Candidato a prefeito do Rio de Janeiro pelo Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU), ele tem entre seus planos de governo a formação de um conselho popular formado por pessoas que atuam na área esportiva e o incentivo a clubes pequenos.

Terceiro entrevistado do LANCE! no especial de eleições municipais do Rio de Janeiro, o candidato faz críticas veementes ao planejamento de construção de um autódromo na Floresta do Camboatá e à gestão do legado olímpico.

Para realizar esta série, o L! enviou dez perguntas – iguais, para todos os concorrentes que vêm fazendo campanha – a respeito dos seus projetos e desafios com os quais se depararão no esporte na Cidade Maravilhosa.

A publicação será diária e em ordem alfabética. Nesta quinta-feira, será a vez do candidato Eduardo Bandeira de Mello (REDE) expor seus planos para o desporto na cidade.

LANCE!: Por que deseja se candidatar à Prefeitura do Rio de Janeiro?

Cyro Garcia: Nosso objetivo, do PSTU, é apresentar uma alternativa socialista para as eleições do Rio de Janeiro. Queremos fazer com que os ricos paguem pela crise. Defendemos a suspensão do pagamento da dívida pública, que nada mais é do que transferência de verbas públicas para encher o cofre dos banqueiros e dos grandes fornecedores da prefeitura; a implantação do IPTU progressivo, cobrando caro dos bairros nobres e isentando de IPTU os bairros de baixa renda; e acabando com a isenção fiscal para grandes empresários.

De posse desses recursos, nos apoiaremos em conselhos populares formados por locais e trabalho, locais de moradia e locais de estudo que estabelecerão as diretrizes a serem implementadas pela Prefeitura para garantir saúde e educação públicas, gratuitas e de qualidade, bem como os demais serviços essenciais necessários aos trabalhadores e trabalhadoras do município do Rio de Janeiro.

L!: Qual será a relevância do esporte em seu plano de governo? Haverá alguma preocupação com o desenvolvimento do setor nas categorias de base e de alto rendimento?

A prática esportiva, além da importância que tem para as questões de saúde, também representa um forte mecanismo de inclusão social. Sem dúvida alguma, o esporte na nossa cidade abre oportunidade para muitos jovens e adolescentes procurarem ter alguma perspectiva de futuro. Então, é uma obrigação da Prefeitura promover condições para que principalmente a juventude negra das favelas e dos bairros de periferia possa desenvolver a prática esportiva. Significa a construção de quadras e ginásios poliesportivos e incentivo da Prefeitura em relação aos trabalhos na base dos clubes que têm menor poder aquisitivo.

L!: Qual será o critério para a escolha do seu secretário de esportes, se houver?

Eu pretendo estabelecer um governo apoiado em conselhos populares. Nós do PSTU não vamos nos apoiar nos mecanismos institucionais normais, porque esses mecanismos têm levado a essa série de decepções e corrupção, a começar pelo poder legislativo, aquela Câmara Municipal, composta em sua maioria por representantes do empresariado. Queremos apoiar nosso governo nos conselhos populares, no caso nós vamos formar os conselhos populares a partir dos profissionais que atuam no esporte, nos departamentos de Educação Física das universidades, etc… Esses profissionais dos diversos segmentos do esporte é que vão indicar quais são as diretrizes, o que que nós vamos gastar, onde vamos gastar e como vamos gastar.

L!: Caso eleito, o senhor lidará com os impactos da pandemia de Covid-19. Qual é o seu planejamento para assegurar que a população possa gradativamente retomar suas atividades físicas com segurança em relação aos índices do vírus?

Nós ainda estamos no meio da pandemia e sem nenhuma perspectiva categórica de saída dela. É preciso que se comprove a eficácia e a segurança da vacina, e que haja vacinação em massa para as coisas voltarem ao normal. Estamos vendo o que está acontecendo na Europa, onde países que já tinham voltado à normalidade são novamente obrigados a tomar medidas de fechamento.

A verdade é que aqui nunca foi feita uma quarentena para valer, mesmo no início, quando o Bolsonaro (Jair Bolsonaro, presidente da República) a sabotava com aquela história de “gripezinha”, e que os governos estaduais e municipais implementaram essa quarentena fake, meia boca, porque, por exemplo, serviços industriais nunca paralisaram, gerando aglomeração nos transportes públicos e facilitando a circulação do vírus e a própria letalidade do vírus.

Temos que tomar medidas ainda no sentido de combater a pandemia, e a ciência nos diz que o método mais eficaz para o combate dessa pandemia do Covid-19 é o isolamento social. Nós, do PSTU, continuamos defendendo que seja implementada uma quarentena geral, para valer, com a paralisação de absolutamente tudo, inclusive do setor industrial, que só funcione de fato o que for essencial. Mas as pessoas têm que ter condições de poder exercer essa quarentena, significa estabelecer licença remunerada com estabilidade no emprego, ampliação no valor e na extensão do auxílio emergencial para que as pessoas possam ficar em casa em condições dignas, tomar medidas no sentido de que as pessoas possam sair de residências insalubres.

O poder público tem que requisitar os hotéis que estão com baixíssima taxa de ocupação por conta da pandemia abrigar essas famílias que vivem em áreas insalubres, em casas onde não tem água encanada, não tem rede de esgoto. Ou seja, implementar um conjunto de medidas para de fato combater a pandemia e conseguir extirpar esse vírus do nosso meio. Especificamente com relação à questão da saúde, o que vamos fazer é romper imediatamente os contratos com as OS’s, que nada mais são do que transferência de verba pública para a iniciativa privada e um antro de corrupção.

Municipalizar a saúde inclusive estatizando os hospitais privados, porque é um absurdo que pessoas morram aguardando vaga de leite em UTI e esteja sobrando vagas de leito em UTI na rede privada, ou seja, as vidas importam desde que se tenha dinheiro para pagar? Não podemos compactuar com isso, então temos que municipalizar e colocar todos os leitos da cidade a serviço do SUS. A partir daí, reequipar o próprio SUS, as clínicas de família que foram destruídas pelo Marcelo Crivella, com a demissão de milhares de servidores da Saúde. Temos que recontratar esses profissionais através de concurso público e temos que também efetivar aqueles profissionais terceirizados que já estão trabalhando há anos na saúde e ficam à mercê dessas empresas de terceirização, que deixam as pessoas até quatro meses sem salários. Isso não se choca com o instituto do concurso público que serão realizados para fazer contratações para todos os segmentos: médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, asseio conservação, etc…

Vamos nos apoiar em conselhos populares, no caso específico da Saúde formado pelos servidores da saúde e usuários da saúde, e serão esses conselhos populares que estabelecerão as diretrizes de onde nós vamos gastar os recursos, quer seja através de reconstrução ou reconstrução de clínicas da família, de hospitais. Com essas medidas, a gente consegue preparar a população do Rio de Janeiro para de fato erradicarmos esse vírus da nossa sociedade.

L!: Pensa em promover campanhas de incentivo para que as pessoas do “grupo de risco” façam exercícios físicos em suas residências?

Sim, essas campanhas são importantes porque as pessoas que estão de quarentena acabam agudizando o sedentarismo. Por isto, incentivos no sentido de que essas pessoas que fazem parte do grupo de risco (inclusive do qual faço parte) sejam estimuladas efetivamente a fazer exercícios físicos tornam-se essenciais. E isso para além da pandemia.

L!: A pandemia afetou sensivelmente a rotina dos grandes clubes cariocas. Acredita que a Prefeitura possa contribuir de alguma forma para que as agremiações se recuperem economicamente? Como?

Acho que os grandes clubes têm patrocinadores e condições de fazer frente a esta realidade. A Prefeitura deve girar seus esforços para ajudar os clubes pequenos, e pressionar os grandes clubes para arcarem com as medidas necessárias.

L!: Como pretende traçar o planejamento para a volta de público aos estádios e ginásios na cidade?

A Prefeitura não pode ceder a essa pressão, que é uma verdadeira chantagem feita pelo empresariado no sentido de estabelecer um “novo normal”. Não. Enquanto não tiver de fato uma vacina, a Prefeitura tem que tomar todas as medidas no sentido de garantir ao máximo o isolamento social. Portanto, esta volta do público aos estádios e aos ginásios da cidade só ocorrerá quando nós tivemos as condições sanitárias adequadas para esse retorno.

L!: Qual é a opinião do senhor sobre a construção de um autódromo na Floresta do Camboatá, considerada o último remanescente de Mata Atlântica em terras planas na cidade, para receber grandes eventos do automobilismo, como a Fórmula 1?

Essa proposta é um verdadeiro crime contra a população da cidade do Rio de Janeiro, é um crime ambiental, não tem nenhuma razão de ser, uma vez que existem outros espaços na cidade do Rio de Janeiro onde até poderia ser construído esse autódromo, sem fazer uma agressão tamanha à natureza.

Construir o autódromo onde hoje está a reserva do Camboatá é um absurdo. Só pode passar pela cabeça de um prefeito irresponsável como esse Marcelo Crivella e por empresários que não visam efetivamente o bem da cidade e sim a sua possibilidade de ter lucro, de ganhar dinheiro independentemente de que isso possa significar um grande malefício para a cidade do Rio de Janeiro.

L!: Como o senhor avalia a gestão do legado olímpico? Se eleito, quais os planos para uso das instalações olímpicas que estão sob gestão da prefeitura, como a Arena Carioca 3 e o Parque Radical de Deodoro?

O tão propalado legado olímpico acabou sendo um grande abandono desses equipamentos que custaram caro ao contribuinte da cidade do Rio de Janeiro. Hoje estão fechados e se deteriorando. Então o que temos de fazer é abrir esses espaços colocá-los à disposição da comunidade, fazer sua manutenção dando condições para que a população possa utilizá-los para prática de esportes e para prática práticas culturais.

L!: Qual deve ser o modelo de gestão do Maracanã e dos equipamentos esportivos no seu entorno?

O Maracanã tem que ser reestatizado, essa questão da privatização do Maracanã é um crime contra a população trabalhadora, a população mais pobre e mais humilde. Você vê as tomadas de público na televisão quando os jogos são no Maracanã e você não vê os negros que a são maioria da nossa cidade.

A privatização do Maracanã implicou em uma elitização do futebol na nossa cidade, então eu defendo reestatização do Maracanã, que pode ser inclusive assumido pela Prefeitura, dando condições de cobrança de ingressos a preços populares para que as pessoas tenham acesso aos jogos. Eu frequentei tanto a arquibancada quanto a geral quando era criança, quando era adolescente e até depois de adulto.

BATE-BOLA

Pratica ou praticou algum esporte?

O esporte com o qual eu mais me identifico é o futebol, mas nunca pratiquei com regularidade. Praticava de forma recreativa e hoje não tenho mais jogado futebol. O esporte que pratico de vez em quando é a natação, principalmente nos dias mais quentes.

Time de coração:

Eu me orgulho de torcer pelo Glorioso Botafogo de Futebol e Regatas. Cheguei ao Rio de Janeiro com seis anos em 1960 e acompanhei o bicampeonato 61/62, vendo Garrincha jogar nos diversos estádios da cidade do Rio de Janeiro. Ver Garrincha jogar era algo inigualável, então não tinha como você não ser torcedor do Glorioso Botafogo de Futebol e Regatas.

Qual é o seu ídolo no esporte?

Meu maior ídolo no esporte foi Mané Garrincha. Para mim foi o maior jogador de todos os tempos. Ele não tinha a racionalidade do Pelé, mas ele tinha a arte e a poesia. O time do Botafogo era melhor que o do Santos, apesar de o Santos ter ganhado mais títulos que o Botafogo. A diferença era o Pelé, jogador inquestionável, mas tinha aquela coisa da racionalidade. Já o Garrincha era um poeta, o Garrincha tinha uma outra concepção de vida, de mundo e ele era fenomenal. Pelé foi o rei do futebol na terra, Garrincha está num outro patamar, ele foi um Deus do futebol.

Qual é sua lembrança mais forte ligada ao esporte?

Como adulto, o título brasileiro de 1995, que foi uma campanha apoteótica do Botafogo. Mas eu não consigo me esquecer de maneira nenhuma da exibição de gala que o Garrincha fez contra o Flamengo na decisão do campeonato vencido pelo Botafogo em 1962. Essa exibição do Garrincha não sai da minha cabeça.

Qual legado pretende deixar à cidade do Rio de Janeiro na área do esporte?

Primeiramente, pretendo democratizar o acesso aos espetáculos de futebol acabando com essa elitização que existe hoje, municipalizando o Maracanã e cobrando preços acessíveis para que todos os trabalhadores e trabalhadoras, e a juventude possam ter acesso aos espetáculos de futebol. Uma outra questão fundamental é criar as condições para a prática dos esportes de uma forma geral e do futebol, inclusive com a criação de quadras, de ginásios de campos de futebol.

Existem vários campos abandonados, que se deve ter políticas públicas para recuperá-los para que a prática do futebol possa ser feita de uma maneira que dê vazão à criatividade enorme do jogador de futebol brasileiro e que possam surgir diversos craques, diversos Garrinchas, diversos Pelés, pelos campos do Rio de Janeiro, mas sem esquecer também da importância do desempenho das pessoas em outras modalidades esportivas. Para a juventude, a prática do esporte não é só uma questão importante do ponto de vista da saúde.

A prática do esporte está intimamente ligada à questão de se ter uma vida saudável, mas também oportunidade de emprego, de futuro para muitos jovens pobres, que têm habilidades e que podem se desenvolver e alcançar uma carreira e um futuro. Para tudo isto, é fundamental a contratação de profissionais qualificados para desenvolverem estes projetos.

QUEM É ELE

Nome completo:
Cyro Garcia (PSTU)
Data e local de nascimento: 26/10/1954 – Manhumirim-MG
Vice: Maria Elisa Wildhagen Guimarães (PSTU)
Ocupação declarada: Professor de Ensino Superior
Valor total em bens declarados: R$ 565.000,00