Eleições/Pasquale Matafora, candidato à Câmara da Itália

SÃO PAULO, 21 FEV (ANSA) – Natural de Nápoles e residente no Brasil há 37 anos, Pasquale Matafora é candidato a deputado pelo Partido Democrático (PD), de centro-esquerda.   

O postulante à Câmara vive em Brasília e trabalha na Embaixada da Itália há mais de duas décadas. Sua vida profissional iniciou como perito técnico em informática, mas em solo brasileiro trabalhou no Plano Nacional de Saneamento (Planasa), como analista de sistemas e correspondente de jornais e rádios de seu país.   

Na Embaixada, atua hoje no setor de cooperação judiciária, função que o levou a participar de diversos processos de extradição, incluindo o de Cesare Battisti.   

As trocas comerciais entre Brasil e Itália caíram mais de 30% desde 2013, ano das últimas eleições legislativas italianas. O que o senhor propõe para recuperar as relações entre os dois países no âmbito do comércio? No âmbito do comércio, eu tenho uma proposta muito simples. Acho que a gente tem que procurar formas simples para aproximar os empresários brasileiros e os empresários italianos. Não apenas as grandes empresas, mas também as pequenas e as médias, com abertura de linhas de crédito. A abertura de linha de crédito é uma coisa muito simples. Eu visitei empresas de ítalo-brasileiros falando, “olha, quando vêm empresas comerciais da Alemanha, elas vêm junto os empresários, e do lado deles tem um cara do banco, para abrir linhas de crédito e para favorecer essa aproximação”.   

Qual é a proposta do senhor para aproximar Brasil e Itália na cultura e do turismo? Nós temos que introduzir novas formas para difundir a língua italiana. A língua italiana é também um veículo muito grande de comunicação na nossa comunidade. A cultura tem que passar por um programa sério de difusão da língua italiana, potencializando as associações, os entes gestores que recebem financiamentos, e também tentando fazer acordos nos governos estaduais para ter o ensino do italiano facultativo até na rede pública.   

Nos últimos anos, apenas um primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, veio ao Brasil, e por causa das Olimpíadas. A Itália negligenciou as relações com o Brasil e vice-versa? Eu acho que realmente houve, não digo uma negligência, mas um vazio político, que deriva de algumas controvérsias. Uma dessas controvérsias foi o caso Battisti. Mas a Itália nunca deixou, de uma certa maneira, e o Brasil também nunca deixou, de ter uma proximidade com a Itália. Foi apenas um momento político diferente dos dois países, que não estavam sincronizados politicamente.   

As eleições de outubro no Brasil podem facilitar a retomada das relações com a Itália? Eu acho que a política, de uma certa maneira, nunca foi determinante nas relações entre Brasil e Itália. Eu acho que a coisa que tem que se pensar é que a Itália e o Brasil sempre foram dois países muito próximos, independentemente dos governos, de quem ganharia as eleições, ou se o governo fosse de longo ou curto prazo. A Itália teve governos, na época, que caíam a cada seis meses, e não foi por isso que deixou de ter relações intensas com o Brasil. Acho que a política é bem diferente do que as históricas relações entre os dois países, que são de grande amizade e grande cooperação.   

O senhor é a favor da extradição de Cesare Battisti pelo governo brasileiro? Bom, eu vou dizer que trabalhei nessa extradição desde o começo, desde quando ele foi capturado. Eu sou a favor por uma simples questão de justiça, porque o Cesare Battisti, para a Itália, é apenas um foragido comum. Não tem nada de política nessa história. O Cesare Battisti cometeu atos de terrorismo na época em que a Itália era uma democracia, e não uma ditadura. Então quando o governo brasileiro não deu essa extradição, achava que podia ser comparado às pessoas que aqui lutaram contra uma ditadura. Não, o Cesare Battisti queria apenas, junto com aqueles que eram terroristas com ele, subverter uma democracia.   

Os defensores de Battisti acusam a Itália de tentar interferir nas instituições do Brasil ao pedir novamente sua extradição, mesmo depois das decisões tomadas pelo presidente da República (Lula) e pelo Supremo Tribunal Federal. O que o senhor pensa dessa visão? Eu penso que, se o STF simplesmente concedeu a extradição do Battisti e apenas acatou uma decisão política daquele momento do presidente Lula, eu acho que um outro governo, de um outro presidente, pode decidir politicamente de outra forma. É manter confirmada a decisão do Supremo. O que significa isso? O Brasil amanhã declara guerra para a Argentina, e aí um outro presidente que vem depois não pode declarar a paz? Ou seja, são decisões políticas, de momentos políticos, mas a Justiça não é uma decisão política. A Justiça é a Justiça.   

A comunidade de ítalo-descendentes no Brasil reclama bastante das filas para reconhecimento de cidadania nos consulados. O que o senhor propõe para melhorar essa situação? A minha não é apenas uma proposta, mas é um fato que está se realizando. Infelizmente, a burocracia às vezes tem tempos um pouco maiores do que as decisões políticas. Alguns anos atrás, instituímos a taxa da cidadania justamente para criar recursos para contratação de pessoal e reaparelhamento de toda a rede consular. Os recursos estão chegando agora. Eu vou dizer agora, e não é uma promessa falsa. Com a decisão do governo de estabelecer essa taxa, vão chegar recursos para contratar muito pessoal, reaparelhar os consulados, e essas filas, em pouco tempo, serão zeradas. Não é uma promessa, é uma realidade que está acontecendo. (Continua