A senadora e franco-atiradora Soraya Thronicke, nos debates em que participou, usou e abusou de inúmeras formas populares de comunicação: pegadinhas, ironias, provocações, frases de efeito e até brincou de “o que é, o que é?”. Na Band, por exemplo, enquadrou Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto. No SBT, tendo o mesmo alvo, pregou-lhe a pecha de “vara curta”. Ontem, na Globo, mirou a metralhadora no Padre Kelmon, a quem, de propósito, chamou de Kevin, Kalvin e Kelvin até que, finalmente, de “candidato padre”.

Pois bem. O tiro sai pela culatra! Ao fazer picadinho do padre de araque durante quase todo o debate, a sedizente “onça” jogou a luz de todos os holofotes do belíssimo estúdio global sobre o falsário. Padre Kelmon teve não apenas 3 minutos de fama, mas 3 blocos inteiros, e tornou-se, assim, o protagonista da noite. Ciro e Tebet foram, segundo medição em tempo real da Quaest, os melhores na opinião dos eleitores. Lula e Bolsonaro, por óbvio, os mais comentados. Mas a nota de 7 reais de batina foi a grande, digamos, sensação.

A nova sub-sub-sub celebridade política não irá além do que já foi; pelo menos nessas eleições, pois nas próximas, seguramente será eleito vereador, e depois, deputado, quem sabe, senador, e até mesmo, um dia, presidente da República, haja vista os dois principais favoritos ao cargo. Exagero meu? Ora, por quê? Lula construiu uma imagem, percorreu um caminho e deu no que deu. Bolsonaro, idem. Por que o Padre Quevedo, digo Kelmon, não pode repetir o passado? O Brasil, por acaso, aprendeu a lição ou qualificou seu voto?

Além do mais, convenhamos, em termos de conteúdo, cultura geral, postura e até mesmo (i)moralidade – o padre surrupiou dinheiro público, recebendo indevidamente o Auxílio Brasil durante a pandemia de coronavírus -, os três se equivalem. Ah! Nenhum deles é capaz, também, de produzir uma frase com sujeito, verbo e predicado, que signifique algo concreto ou expresse adequadamente um pensamento ou fato. E neste quesito específico, ainda que sofrível, o religioso do Paraguai fala melhor, quero dizer, menos pior que Lula e Bolsonaro.

Eis aí o tamanho da nossa encrenca política atual. Estamos prestes a empossar no Planalto o maior ladrão de dinheiro público já visto na história do ocidente democráritco. Se não for ele, será o sociopata, negacionista e golpista que chefia o clã das rachadinhas e das mansões milionárias, compradas com panetones e dinheiro vivo. E ao lado destes, como novo destaque da política tupiniquim – como já foi, um dia, Enéas Carneiro, Levi Fidelix, Eymael e o Cabo Daciolo (onde está ele, hein?) – Padre Kelmon.

Dos assuntos mais pesquisados na internet, hoje, está o candidato padre, ou padre de festa junina. Se na Bíblia Deus é onipresente, nas redes é o (conto) do vigário. Repito: o operário agitador, após décadas, tornou-se presidente. O ex-militar medíocre, após décadas, tornou- se presidente. Palhaços, jogadores de futebol, artistas, habitam a Câmara e o Senado. Nos EUA, atores chegaram à Presidência e ao governo do estado mais rico do país, a Califórnia. Severino Cavalcanti já foi o presidente do Congresso Nacional. Jamais subestimem o eleitor brasileiro e sua capacidade ímpar de manter o País no buraco.