Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto, caminha a passos largos e ligeiros rumo a uma sova eleitoral vexatória. Por que vexatória? Ora, porque se dará para um ex-presidiário, execrado quatro anos atrás por 70% ou mais da população, cuja rejeição só não é maior do que a sua própria. Entendam: não é o meliante de São Bernardo que está vencendo; é o amigão do Queiroz que está perdendo. E para si mesmo, literalmente.

O momento econômico do Brasil é péssimo, dos piores do mundo, mas, a bem da verdade, já foi ainda mais terrível para seu povo, principalmente o mais pobre, e há alguns meses vem ensaiando uma ligeira melhora. Além disso, o saco de bondades estatal foi aberto com vigor, haja vista a PEC Kamikase, a isenção de impostos, o aumento do Auxílio Brasil, enfim, as medidas eleitoreiras, endossadas pelo liberal de araque, Paulo Guedes.

Ainda assim, o patriarca do clã das rachadinhas e das mansões milionárias, compradas com panetones e muito dinheiro vivo, não sai do patamar de 30% a 35% das intenções de voto. Seu desgoverno também não é de todo mal em outros setores, bem como sua pregação ideológica e o uso desavergonhado da religião – e dos cofres públicos -, juntos e somados, deveriam ser capazes de alçá-lo a uma condição melhor na disputa.

É pra lá de conhecida a frase, que se tornou chavão, e a história de James Carville, assessor próximo e estrategista de campanha de Bill Clinton, que disputava a eleição americana de 1992 contra George H. W. Bush: “It’s the economy, stupid”. Ou: é a economia, estúpido! Trocando em miúdos, a chave para a vitória eleitoral está na economia. Ora, por que diabos, então, o amigão do Queiroz não decola ou ao menos não sobe um pouco?

Bem, porque há uma outra variável, talvez muito mais importante, que, no caso, chama-se Jair Bolsonaro. O devoto da cloroquina é o maior cabo eleitoral do chefão petista. Ninguém, no Brasil, atrai mais ódio e rejeição que o “mito”. Suas falas abjetas, seu comportamento asqueroso, sua existência miserável em todos os aspectos fazem dele um ser odiento e odiado, pouco importa os resultados que apresente – que também não são grande coisa.

O Auxílio Brasil de 600 reais não apaga o “e daí?, não sou coveiro”. A queda do desemprego não apaga suas agressões contra as mulheres. O preço mais baixo dos combustíveis não apaga seu autoritarismo golpista. Se para uma gigante parcela da população Bolsonaro é o Messias, para outra, ainda maior, ele é o Anticristo em pessoa. Se o salário mínimo dobrasse amanhã, ainda assim Lula venceria entre os mais pobres.

O excelente Eduardo Oinegue, da Band, formulou um brilhante comentário neste sentido, e deu como exemplo o ex-governador de São Paulo João Doria que, a despeito de um governo muito bom e de ter trazido as vacinas, foi defenestrado não apenas pelo eleitorado, mas pelos companheiros de partido. JD, a pessoa física, destruiu JD, o político. Eis a sorte e o maior ativo do ex-tudo (ex-condenado, ex-presidiário, ex-corrupto, ex-lavador de dinheiro) Lula da Silva: por pior que faça, sua imagem não se deteriora como a dos demais.