SÃO PAULO E ROMA, 5 MAR (ANSA) – Vários países perfilaram um governo populista de direita nos últimos anos na Europa, como França, Alemanha e Holanda, mas em nenhum o movimento vingou, de fato. Ontem, no entanto, o cenário mudou. A União Europeia (UE) amanheceu nesta segunda-feira (5) preocupada com o efeito das eleições legislativas na Itália, nas quais os partidos mais votados são considerados populistas, antissistema, anti-imigração e eurocéticos.   

A terceira maior economia da União Europeia (UE), a Itália pode ter como primeiro-ministro Luigi Di Maio, do Movimento 5 Estrelas (M5S), ou Matteo Salvini, da Liga Norte. O M5S foi o partido mais votado, obtendo cerca de 33% dos votos, graças a um discurso crítico ao establishment e fazendo promessas de crescimento econômico e retomada de emprego. Mas o partido não conquistou a maioria absoluta no Parlamento e se nega a fazer grande coalizões para governar.   

Nesse contexto, surge Salvini, da Liga Norte. A coalizão de centro-direita, formada antes das eleições por Força Itália (FI), Liga, Irmãos da Itália (FDI) e Nós da Itália (NCI), conseguiu 37% dos votos – sendo 17% somente da Liga, partido contrário à política imigratória da Itália, país que lidera o ranking europeu de chegada de refugiados do norte da África e do Oriente Médio. Em seu primeiro discurso oficial após as eleições, Salvini já sinalizou que discorda do euro como moeda única europeia, em uma crítica ao projeto do bloco regional. Por sua vez, Comissão Europeia decidiu não comentar a declaração de Salvini. O presidente da Comissão, Jean Claude Juncker, alegou que confia “no presidente Sergio Mattarella, que será capaz de facilitar a formação de um governo estável”. “Serão feitos contatos ao longo do dia com o governo italiano sobre o pós-eleições”, disse, por sua vez, o porta-voz do Executivo, Margaritis Schinas.   

“O resultado definitivo das eleições ainda não chegou. Mas a Itália é um país profundamente amigo e parceiro. Esperamos um governo estável, pelo bem-estar do país e da Europa”, disse o porta-voz da chanceler alemã, Angela Merkel, Steffen Seibert. Por sua vez, o presidente francês, Emmanuel Macron, disse que prefere manter uma “posição prudente” em relação às eleições, “esperando as decisões de Mattarella de ordenar a formação de um governo”. “Vejo que, no mundo em que vivemos, podem ser defendidas belas ideias, mas elas não se podem ser defendidas pela abstração do contexto. Hoje, a Itália, sem dúvida, sofreu com a pressão de quem vive meses e meses dentro de um contexto forte de crime migratória. Devemos ter isso em mente”, comentou Macron, que nas eleições francesas enfrentou Marine Le Pen, da Frente Nacional, também eurocética e contrária à imigração. “Em relação à França, nós continuaremos a defender a Europa que protege todos, a Europa da ambição”. No Twitter, o ex-dirigente da Frente Nacional e fundador do novo Movimento Les Patriotes, Florian Philippot, falou em “Italexit”, uma referência à saída da Itália da União Europeia, assim como o “Brexit”, termo usado para a saída do Reino Unido do bloco. “O enorme resultado do M5S e o ‘boom’ da Liga Norte mostram que os italianos tentam escapar das políticas devastadoras da UE. A verdadeira libertação virá do ‘Italexit'”, escreveu. (ANSA)