Com a proximidade do segundo turno das eleições na França, realizado neste domingo, 7, há dúvida se a extrema direita irá conseguir formar maioria no parlamento e, assim, dificultar a governabilidade de Emmanuel Macron. Isso se deve ao fato de mais de 200 candidatos terem desistido das legislativas para tentar barrar a ascensão dos conservadores.

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O partido ultradireitista RN (Reagrupamento Nacional), liderado por Marine Le Pen, e seus aliados venceram o primeiro turno das eleições em 30 de junho. Havia projeções de que a sigla conseguisse maioria absoluta de 289 deputados, elegesse o candidato a primeiro-ministro, Jordan Bardella, e assim complicasse a governabilidade do presidente.

Para conquistar o eleitorado, o RN passou a considerar com mais atenção algumas pautas sociais. No entanto, ao longo do percurso, abandonou alguns pontos, resultando em um plano de governo pouco claro e sem uma direção definida para seguir.

Fato é que a questão da imigração ainda é bem explorada pelos conservadores. Para o especialista Thomás Zirmac de Barros da Universidade do Minho, em Portugal, e da Sciences Po, em Paris (França) a pauta serve para criar um pânico moral em relação a uma suposta invasão de imigrantes, mesmo nos locais do país onde a sigla tem mais votos, que são justamente os que têm menos imigrantes. “A população teme algo que não afeta diretamente suas vidas”, explica o pesquisador.

Diante desse cenário, uma aliança foi formada entre o partido de esquerda NFP (Nova Frente Popular) e o Renascimento, liderado por Emmanuel Macron, reativando assim a chamada “frente republicana” para isolar a extrema direita. Jordan Bardella classificou esse movimento como “alianças de desonra”.

Anteriormente, o RN afirmava que só estabeleceria um governo se conseguisse a maioria absoluta com 289 membros. No entanto, com a nova conjuntura, Marine Le Pen afirmou em entrevista a uma rádio que pretende eleger 270 membros e depois negociar com os outros parlamentares.

“Se a extrema-direita não conseguir a maioria, vamos ter uma situação de incerteza, porque as outras siglas políticas não possuem forças sozinhas. A França não tem uma tradição parlamentarista de composição de maioria após as eleições, diferentemente do que acontece no Brasil, onde há o centrão com o qual é possível negociar independentemente do governo. Isso pode ser algo novo na política francesa”, explicou Thomás.

Extrema-direita ainda está viva

Mesmo com a retirada de candidatos, o que enfraqueceu de certa forma a extrema direita, ela ainda se mantém influente e capaz de causar impacto significativo. Segundo o especialista, para bloquear as iniciativas do governo de Macron, os conservadores precisam conquistar a maioria absoluta. Com as retiradas de candidaturas, agora é necessário que eles conquistem 50% dos votos mais um em cada distrito eleitoral.

“Com a conquista dos 270 membros, por exemplo, o RN pode tentar convencer políticas da direita tradicional de apoiá-lo com o famoso ‘toma lá da cá’ com a oferta de ministérios etc. Caso isso não aconteça, o máximo que a extrema direita vai conseguir é causar dor de cabeça”, concluiu Thomás.