Em condições normais, o primeiro turno das eleições municipais teria ocorrido no início de outubro. Com a pandemia, porém, a data de escolher prefeitos e vereadores foi prorrogada para 15 de novembro. Se a alteração estivesse restrita ao componente temporal, pouco representaria. Contudo, a pandemia como razão da modificação acarretou a atipicidade do pleito. A crise sanitária tirou o foco das eleições, embora tenha iluminado outras questões políticas. Quem não se lembra dos embates entre o presidente da República e os governadores? O isolamento social manteve as pessoas em suas casas e as notícias da mídia impressa, televisiva e virtual tornaram-se monotemáticas. Os boletins diários com números de óbitos e contaminados, informações inegavelmente relevantes, dividiam espaço com medidas de combate à pandemia e com discursos que afirmavam ser a Covid-19 “uma gripezinha”.

Temas locais estão diretamente ligados ao cotidiano, e a forma como serão tratados costuma ser decisiva para melhorar ou piorar nossa qualidade de vida

Enquanto isso, prefeitos estavam — ou deveriam estar – diretamente envolvidos no cuidado com as pessoas, combatendo diariamente a pandemia. Os que se preocuparam em agir, pouco tempo tiveram para discussões voltadas à inoportuna capitalização política. Para além de todas as comuns atribuições do mandato, outras se impuseram. Dentre elas: construir rapidamente e gerir hospitais de campanha, acompanhar os números da pandemia, suspender aulas presenciais e viabilizar ensino remoto, garantir, mesmo fora do ambiente escolar, alimentação aos alunos da rede pública, distribuir alimentos aos mais necessitados, implementar medidas impopulares de isolamento social com impacto nos setores econômico e cultural.

O último ano dos mandatos de prefeitos e vereadores por todo o Brasil foi marcado por essa prova de fogo. Apesar da rivalidade entre União e Estados, a verdade é que a vida acontece nos municípios. Por mais que presidente e governadores delineiem estratégias de ação ou simplesmente se omitam, é nas cidades que ocorrem óbitos e contaminações. Por essas razões, ainda que muitos não tenham percebido que estamos em período eleitoral, à escolha consciente de vereadores e prefeitos segue essencial. Temas locais estão diretamente ligados ao cotidiano e a forma como serão tratados costuma ser decisiva para melhorar ou piorar nossa qualidade de vida. Nesse sentido, lembremos que é equivocado pensar-se fora da política. O convívio social exclui essa opção. Interessar-se por ela é escolher conduzir ao invés de ser conduzido. Assim, de forma racional e responsável, façamos nosso papel em 15 de novembro.