Encerradas no domingo, 27, as eleições municipais abriram caminho para as disputas pelos governos estaduais, que ocorrerão em dois anos.
Neste texto, o site IstoÉ explica quais foram os sinais que as urnas e as movimentações políticas de 2024 deram aos pleitos de 2026 em Minas Gerais e Pernambuco.
+Confira o resultado das eleições nas 51 cidades que tiveram segundo turno
Espólio difuso em Minas
No domingo em que conquistou uma virada sobre Bruno Engler (PL) em Belo Horizonte, o prefeito Fuad Noman (PSD) foi votar acompanhado do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), que publicou uma “selfie” ao lado do correligionário usando um boné do presidente Lula (PT) ao lado do aliado após a apuração dos votos.
Ver essa foto no Instagram
Embora tenha evitado se associar ao petismo no segundo turno, Fuad agradeceu a Lula após a vitória e traz consigo na reeleição um crédito importante para o campo governista, que tem em Silveira um líder político, em Minas Gerais. Com uma trajetória política associada à direita — chegou a ser líder do governo de Jair Bolsonaro (PL) no Senado –, Silveira se tornou um ministro da “alta conta” do chefe do Planalto.
Além de atuar pelo movimento que levou o PT e o campo da esquerda a abraçarem Fuad no segundo turno, Silveira mergulhou na campanha municipal e faturou ainda com a vitória de Elisa Araújo (PSD) em Uberaba, no domingo. Entre as possibilidades mencionadas para o pessedista, estão uma nova candidatura ao Senado e mesmo ao Palácio da Liberdade, que tem como favorito a concorrer pelo campo governista o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), que é braço direito do ministro.
Outra conquista importante para o fortalecimento do campo foi a reeleição da petista Marília Campos no primeiro turno em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, que será a segunda cidade mais populosa governada pelo PT a partir de janeiro de 2025 — atrás apenas de Fortaleza.
Por outro lado, a eleição de Fuad fragilizou o papel de Bruno Engler como possível cabo eleitoral do bolsonarismo no estado e, ainda, do deputado federal Nikolas Ferreira (PL), liderança do campo que mais se engajou na campanha do aliado, de acordo com o jornal “O Globo”.
Tanto Engler, de 27 anos, quanto Nikolas, de 28, terão a idade mínima para serem candidatos ao governo em 2026, mas o político da direita radical que se colocou à disposição para concorrer ao Palácio da Liberdade foi o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos), conforme revelou o jornal “O Tempo”. A derrota de Engler chamusca menos o parlamentar porque ele conseguiu reeleger seu irmão, Gleidson Azevedo (Novo), em Divinópolis, e viu a ala mais ao centro de sua sigla sofrer com derrota de Mauro Tramonte (Republicanos), terceiro colocado na disputa pela capital.
Com o naufrágio da candidatura do apresentador, perdeu também o ex-prefeito Alexandre Kalil, que endossou Tramonte e pretendia se filiar ao Republicanos para concorrer novamente a governador em 2026 — no pleito passado, ele foi derrotado por Romeu Zema (Novo). Agora, até mesmo a filiação de Kalil ficou em dúvida.
Outro a perder com o apoio a Tramonte foi justamente Zema, que optou por um apoio tímido a Engler no segundo turno — além de evitar um novo revés, o PSD está na base de seu governo na ALEMG (Assembleia Legislativa de Minas Gerais) — e pretende lançar o vice Matheus Simões (Novo) para sua sucessão, já que não tem direito a um novo mandato. Em entrevistas, chegou a dizer que pode ocupar a vice numa chapa presidencial da direita em 2026.
Duelo anunciado em Pernambuco
No estado do Nordeste, um embate pelo Palácio Campo das Princesas se desenha mais claramente entre o prefeito João Campos (PSB), reeleito com votação histórica no Recife, e a atual governadora Raquel Lyra (PSDB), que desponta como uma das raras novas lideranças de sua legenda.
Embora tenha sido derrotada com a candidatura de Daniel Coelho (PSD) na capital, a tucana teve ganhos importantes no domingo em Olinda e Paulista — quinto e sexto municípios mais populosos do estado –, com as vitórias de Mirella Almeida (PSD) e Ramos Santana (PSDB) sobre Vinicius Castello (PT) e Júnior Matuto (PSB), que tiveram o apoio de Campos.
QUE VITÓRIA, PAULISTA!
O povo quer mudança e as urnas mostraram isso! Vamos juntos, @ramospaulista45! Paulista vai crescer sem deixar ninguem pra trás!
Simbooooora! 👏🏻💜#Ramos #Paulista # #RaquelLyra pic.twitter.com/pRZ9x7jKfi
— Raquel Lyra (@raquellyra) October 27, 2024
Ao todo, o PSDB fez 32 prefeituras no estado e se tornou líder no quesito, o que foi classificado pelo comando nacional da legenda como “fruto da articulação” de Lyra. Na região metropolitana do Recife, onde prefeitos tucanos não foram eleitos em 2020 — Paulo Câmara (PSB) era governador –, houve triunfos em Igarassu, Itamaracá e Itapissuma.
Em que pesem as duas derrotas diretas para aliados da governadora — sobretudo em Paulista, onde se engajou fortemente na campanha –, Campos abraçou no segundo turno à estratégia de fortalecer sua imagem além das fronteiras do estado, em um esforço que o projeta como liderança nacional da esquerda.
O pessebista fez campanha para Evandro Leitão (PT) e Igor Normando (MDB), eleitos em Fortaleza e Belém, e Natália Bonavides (PT), derrotada em Natal. No caso da capital cearense, participou de um comício no bairro do Benfica, zona onde o aliado obteve sua vantagem mais numerosa no segundo turno — crucial para uma vantagem de apenas 10.838 votos sobre André Fernandes (PL).
Embora o movimento pareça distanciá-lo do embate previsto para 2026, também fortalece sua relação com o Planalto e a presença de Lula, político popular no estado, em seu futuro palanque. “Não é segredo que o PSB quer João no governo de Pernambuco para, futuramente, lançá-lo à Presidência. Se aproximar e fortalecer aliados é um passo neste sentido”, disse ao site IstoÉ Leon Victor de Queiroz Barbosa, vice-coordenador do mestrado em políticas públicas da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).