SÃO PAULO, 21 FEV (ANSA) – Luis Roberto Lorenzato, empresário e advogado, disputa uma vaga na Câmara dos Deputados pelo partido de direita Liga Norte.   

Nascido em Orlândia, no interior de São Paulo, e descendente dos Ivrea, uma dinastia de nobres italianos, o candidato apresentou durante dois anos um programa de televisão chamado “Conexão Itália” Dono de uma vinícola chamada Marchese di Ivrea, Lorenzato também foi membro do conselho superior de responsabilidade social da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e do conselho de relações internacionais da Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo (OAB-SP).   

As trocas comerciais entre Brasil e Itália caíram mais de 30% desde 2013, ano das últimas eleições legislativas italianas. O que o senhor propõe para recuperar as relações entre os dois países no âmbito do comércio? Esses são dados genéricos, binacionais, mas o importante é que os mercados, as pequenas e médias empresas, os empresários, tenham acesso às informações. O Brasil não conhece a Itália, e a Itália não conhece o Brasil. Por isso é necessário um empenho do governo brasileiro e do governo italiano para que as duas partes se conheçam e promovam as relações comerciais. E também incentivos. Por exemplo, com linhas de crédito especiais para operadores italianos no Brasil e vice-versa, para o setor de equipamentos da Itália aqui no Brasil. Eu apoiaria um acordo com o Bndes, por exemplo, para as importações e exportações dos dois países.   

Qual é a proposta do senhor para aproximar Brasil e Itália na cultura e no turismo? O brasileiro, infelizmente, conhece superficialmente a Itália, acha que a Itália é só algumas coisas, algumas características, como pizza, que é maravilhosa. A Itália é muito mais que uma pizza. A Itália é uma potência industrial, uma potência intelectual, uma potência cultural. Eu acho que tem que ter um acordo de promoção cultural e turística dos municípios italianos com os municípios da América do Sul.   

Nos últimos anos, apenas um primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, veio ao Brasil, e por causa das Olimpíadas. A Itália negligenciou as relações com o Brasil e vice-versa? Eu percebo, de coração, que a esquerda italiana não tem interesse em fazer essa aproximação. É o mesmo fato de que tantos brasileiros investem na Flórida e atualmente estão investindo em Portugal. Não está na política do Estado italiano essa aproximação.   

As eleições de outubro no Brasil podem facilitar a retomada das relações com a Itália? Sem dúvida, e na certeza de que está ocorrendo uma mudança para a direita. Esperamos, na Itália e no Brasil, que seja melhorada sobremaneira as relações entre os dois países.   

O senhor é a favor da extradição de Cesare Battisti pelo governo brasileiro? Totalmente. Eu sou advogado, e a Itália é um país soberano, com uma Justiça exemplar. Houve um processo jurídico perfeito. O Supremo Tribunal Federal decidiu pela extradição. Foi um ato pessoal do presidente da República Lula, no qual nós estamos trabalhando, justamente com o senador Pastore [candidato ao Senado pela Liga Norte], para fazer uma sensibilização ao presidente Temer, para que ele possa revogar esse decreto e extraditar o Cesare Battisti, para que ele cumpra sua pena junto às autoridades italianas.   

Os defensores de Battisti acusam a Itália de tentar interferir nas instituições do Brasil ao pedir novamente sua extradição, mesmo depois das decisões tomadas pelo presidente da República (Lula) e pelo Supremo Tribunal Federal. O que o senhor pensa dessa visão? Eu acho que é ideologia, ideologia de esquerda. O único argumento que ele tem é jogar para o campo político. Nós estamos no campo jurídico, nós somos legalistas, a favor da lei.   

A comunidade de ítalo-descendentes no Brasil reclama bastante das filas para reconhecimento de cidadania nos consulados. O que o senhor propõe para melhorar essa situação? O mais importante é que o último governo, de esquerda – eu gostaria de deixar isso bem claro -, começou uma política de centralização dos processos. Para você ter uma ideia, o consulado de Ribeirão Preto foi aberto em 1885, de Franca, do interior de São Paulo, de Minas Gerais, enfim, do Brasil todo. E esses consulados eram notáveis, cônsules, vice-cônsules que tínhamos aqui no Brasil. Faziam as operações de documentação, a documentação toda para fazer a prática de cidadania. Ao fechar esses consulados? Ao fechar, não, ao não deixá-los operar, trabalhar, centralizou tudo e criou a dificuldade e a fila. A minha pauta é que esses consulados sejam ativados, com funcionários efetivos, locais – porque nós não somos pessoas sem capacidade -, para serem contratados por concurso público e prestar esse serviço localmente.   

O senhor é a favor da imposição de um limite de geração à concessão de cidadania jus sanguinis, como propôs um senador italiano no fim do ano passado? Eu gostaria que você registrasse que o senador Micheloni [autor da proposta] é da esquerda, do PD, do último governo, e, inclusive, a Renata Bueno votou a favor da lei do jus soli. Sou totalmente contra, porque o italiano se nasce. Se houvesse uma disputa entre minha nacionalidade no Tribunal de Haia, o fato de eu estar na barriga da minha mãe antes de nascer tem a precedência. Portanto, se nasce italiano. O consulado que tem que provar que a pessoa não é italiana. Isto é, através de uma renúncia expressa do requerente, ou do avô, bisavô, que tenha renunciado e interrompido a nacionalidade. Portanto, as pessoas nascem italianas. É um povo, é um conceito de sangue, um conceito de cultura, que não pode ser mudado em hipótese alguma. (Continua)