23/11/2022 - 8:04
A Polícia Federal interrompeu a emissão de passaportes porque está sem dinheiro para confeccioná-los. A Polícia Rodoviária Federal avisou que a falta de verbas está impedindo a circulação de viaturas defeituosas. Desde de 2016 o governo federal não aumenta o valor relativo à merenda escolar, obrigando crianças a dividirem um ovo pela manhã. O rombo nas contas públicas a ser transferido para o próximo governo ultrapassa os 180 bilhões de reais, sem contar a falta de um orçamento que possa ser chamado por este nome.
Estes são apenas alguns dos graves problemas atuais – divulgados essa semana – por que passa o País. Enquanto isso, o presidente em exercício que não exerce absolutamente nada ou coisa alguma, mantém-se trancafiado em seu bunker de amargura e solidão, remoendo a derrota vexatória do último dia 30 de outubro, para um ex-presidiário odiado pela metade da população (lembrando que Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto, é o primeiro presidente da história após a redemocratização a não conseguir a reeleição).
Em um país minimamente razoável e racional, o governo de turno e o eleito estariam debruçados, em conjunto, sobre os inúmeros problemas a tratar, principalmente os de ordem social e econômica. Mas não. O governo atual “faz hora” até dia 31 de dezembro de 2022 enquanto o (ainda) presidente e seus aliados brincam de golpe de Estado. Já a equipe de transição do governo eleito, “bate cabeça” em torno da PEC da transição, de nomes duvidosos na elaboração de planos futuros e na indicação do ministro da economia.
O Brasil se parece com o filme “O Feitiço do Tempo” (Groundhog Day, de 1993), em que Phil, personagem magistralmente interpretado por Bill Murray, chova ou faça sol, pouco importa o que tenha feito no dia anterior, sempre acorda na mesma data e no mesmo horário, despertado pelo rádio-relógio (sim, garotada, havia algo assim. Nem só de Iphones viveu a humanidade, hehe), ao som de “I Got You Babe” (Cher, 1965). Ou então, como o trecho da música “O Tempo Não Para”, de Cazuza: “eu vejo o futuro repetir o passado”.
A não novidade do dia é o pedido do Partido Liberal (PL), feito ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para invalidar o resultado de centenas de milhares de urnas eletrônicas e, assim, declarar Jair Bolsonaro, o amigão do Queiroz, presidente eleito, e não Lula da Silva, o ex-meliante de São Bernardo, com 51% dos votos válidos contra 48% do chefão petista. O motivo? Sei lá. Pouco importa. Provas? Nenhuma, como sempre. O objetivo? Além de tumultuar, colocar o bode na sala para que um acordo qualquer saia mais à frente.
O ministro Alexandre de Moraes condicionou a aceitação de análise do pleito à apresentação das mesmas alegações – repito, seja quais forem, pois mero blá blá blá – relativas ao primeiro turno das eleições, e não somente ao segundo turno como quer o PL, já que a legenda elegeu quase uma centena de deputados federais. Veremos, então, se o ex-presidiário ao lado de José Dirceu, Valdemar da Costa Neto, presidente do partido, irá continuar com a fanfarronice golpista da ocasião.
Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, afirmou: “o resultado das urnas é incontestável”. Partidos historicamente antagônicos, PSOL e PSDB caminharam no mesmo sentido. OAB, organismos internacionais e observadores de todo o mundo atestaram a lisura do processo eleitoral no Brasil, e as Forças Armadas, em relatório recente, afirmaram não terem encontrado qualquer indício de fraude. Mas, sabem como é, né? A tia do Zap e os tiozões às portas dos quartéis, depois da cloroquina, encontraram nova ocupação na vida.
Pois é. Se os ETs de Varginha não estão atendendo ao clamor dos bolsonaristas em transe, o ilibado Costa Neto, ao que parece, mediante um bom pagamento, em espécie ou não, parece disposto, ao menos por ora, a servir de bucha de canhão para o patriarca do clã das rachadinhas e das mansões milionárias, compradas com panetones de chocolate e muito dinheiro vivo, em busca das tais “72 horas”, que já se transformaram em 3 semanas – e contando. Vamos ver até quando e onde seguirá mais essa alucinação coletiva. Haja saco.