Se algum político interessado em ser presidente da República, em 2022, pensa que terá vida fácil na eleição, por conta da fragilidade intelectual, dos rolos dos bolsokids, dos cheques do Queiroz, das mortes pela Covid e de todos os inúmeros pontos fracos de Jair Bolsonaro, pode ir tirando o cavalinho da chuva, porque se não enfrentar o “mito”, de igual para igual, no mesmo terreno das mentiras e grosserias, levará uma coça histórica. Sugiro, inclusive, que assista, na íntegra, ao debate entre Trump e Biden, desta última terça-feira (29).

O democrata foi massacrado pelo republicano. Donald Trump fez picadinho do opositor, e querem saber?, do mediador. Mentiu à beça, interrompeu praticamente todas as falas de Biden e as perguntas de Wallace, insultou, ironizou, desrespeitou as regras, enfim, foi um debatedor que usou e abusou do jogo sujo. O resultado: venceu de goleada! Quando um time de futebol ganha um jogo com a ajuda de um juíz ladrão, apesar da irritação da torcida adversária, leva os três pontos. Os perdedores que chorem na cama, que é lugar quente.

Exceto os eleitores democratas e os analistas políticos (os isentos e anti-Trump), ninguém se importará com o jogo baixo do bufão republicano. Pior. Mesmo entre estes, Biden ficará marcado como um fracote que deixou o “demônio alaranjado” deitar e rolar. Se eu, que tenho pelos democratas a mesma ojeriza que tenho pelos petistas, fiquei com raiva, imagine os “orelhudos” americanos. Trump mostrou que, para os EUA, é menos pior um presidente arrogante, mitômano, preconceituoso e xenófobo, que um cordeirinho politicamente correto.

E por aqui?

Bolsonaro não sabe pensar, não sabe falar, e é tão ou mais despreparado – intelectual e cognitivamente falando – que Dilma Rousseff. Com o agravante de ter como marqueteiro o filho Carlucho, e não o João Santana. Porém é um populista nato. Carismático como poucos e sem medo de mentir (como Lula e Dilma), é grosseiro e não pensa duas vezes antes de desferir golpes baixos. É uma arma eleitoral mortal! E terá a caneta e o dinheiro nas mãos. Será dificílimo batê-lo, numa campanha sanguinária, comportando-se como freira carmelita.

Se Luciano Huck e Sergio Moro – para ficarmos com dois prováveis e fortes competidores – forem para um embate eleitoral vestidos como “filhinhos da vovó”, falando bonitinho e baixinho, recusando-se a mentir, a difamar e a prometer o que não irão cumprir, e insistirem no blá blá blá “Bolsonaro é fascista; Bolsonaro é homofóbico; Bolsonaro é racista; Bolsonaro envergonha o Brasil; Bolsonaro está queimando a Amazônia; Bolsonaro fez rachadinha etc.”, correrão o sério risco de sequer prosseguirem a um provável segundo turno.

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As esquerdas, no quesito jogo baixo, sempre foram páreo duro – e por isso venceram os almofadinhas do PSDB. Serra dava aula de economia, Lula mentia. Venceu. Alckmin falava de mensalão, Lula, de Bolsa Família. Venceu. Serra apresentava-se como o melhor ministro da Saúde, Dilma, como a “muié” do Lula. Venceu. Aécio fez campanha propositiva, Dilma fez “o diabo”. Venceu. Haddad posou de petista limpinho, quase um tucano, e… perdeu! Bolsonaro mentiu, bateu e fugiu dos debates. Venceu.

Que ninguém duvide: Bolsonaro repetirá integralmente o modelo trumpista. Se lhe perguntarem sobre os “micheques”, lembrará do mensalão e do petrolão. Se lhe cobrarem os erros durante a pandemia, culpará os prefeitos e governadores. Se lhe responsabilizarem pela crise econômica, dirá que avisou e que foi contra o “fechamento” da economia. E não enrubescerá a cara (de pau!) para dizer que afastou Moro e Mandetta por serem traidores da pátria e estarem a serviço da China. Afora a enxurrada de fake news nas redes sociais.

No debate, jogará na cara de Luciano Huck: “Você é o candidato da Globo e dos comunistas”. Se o apresentador, ao invés de rebater, “você é pau mandado do Centrão”, se defender, se dará mal. Já Sergio Moro terá de acusar: “Você destruiu a Lava Jato e tudo o que eu e a Força Tarefa fizemos”. Não adiantará ficar se defendendo das mentiras e ofensas que virão. O único que saberá enfrentar adequadamente o amigão do Queiroz chama-se Ciro Gomes. Este, em matéria de mentiras e grosserias, é hors concours.


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