Em reta final de campanha para o primeiro turno das eleições, quatro candidatos competitivos se revezam nas primeiras posições das pesquisas de intenção de voto para a prefeitura de Fortaleza. 

Com padrinhos políticos, trajetória prévia e partidos relevantes por trás das campanhas, nenhum deles pode ser descartado para ocupar o Palácio do Bispo a partir de janeiro de 2025.

– André Fernandes (PL);

– Evandro Leitão (PT);

– Capitão Wagner (União Brasil);

– José Sarto (PDT).

Ao site IstoÉ, Monalisa Torres, professora de teoria política da UECE (Universidade Estadual do Ceará), resumiu a corrida em uma metáfora futebolística: “São duas semifinais. Uma à esquerda, com a disputa entre duas máquinas, a do estado [com Leitão] e a da prefeitura [com Sarto]; e outra à direita, entre um veterano de eleições na cidade [Wagner] e um estreante [Fernandes]”.

+Lula escondido, apoio evangélico e segurança: a estratégia da candidata do PT para triunfar em Goiânia

O cenário

Em pesquisa Datafolha divulgada na quarta-feira, 25, André Fernandes (PL) cresceu e alcançou 27% das intenções de voto, em empate técnico com Evandro Leitão (PT), que avançou a 25%. Capitão Wagner (União Brasil), com 17%, e o prefeito José Sarto (PDT), 15%, recuaram, mas permanecem na órbita para protagonizar um novo embate após a votação de 6 de outubro.

A AtlasIntel de terça, 24, mostrou Fernandes com 25%, em empate técnico ainda mais próximo com Leitão, que teve 24,6%. Com margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos, o atual prefeito empatou com ambos ao registrar 22%, pouco mais do que Wagner, que teve 20,8%.

Um novo Lula versus Bolsonaro

Uma das apostas de uma “nova geração” do bolsonarismo, Fernandes é um deputado conhecido por discursos inflamados em defesa das pautas mais caras a seu campo político — como o impeachment do ministro do STF Alexandre de Moraes, que o investiga por suspeita de incitar os atos criminosos de 8 de janeiro.

Em sua primeira eleição majoritária, recebeu o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) para comícios e teve a campanha regada por R$ 11,7 milhões do fundo eleitoral de sua sigla, o que dá a dimensão da valorização do político — o próprio Valdemar Costa Neto, presidente do PL, reconheceu em entrevistas que candidaturas pouco competitivas não vão receber investimentos robustos da legenda.

“Parte do eleitorado de Fortaleza não conhece Fernandes. Ao se associar diretamente a Bolsonaro, ele garantiu um ‘piso’ de votos do ex-presidente na cidade. Em debates e agendas de campanha mais recentes, depois de assegurar esse eleitorado, passou a encarnar a figura de um político moderado e capaz de renovar a política da cidade. Tem investido muito em comícios na periferia, o que faz diferença”, afirmou Monalisa Torres.

Como relatou a professora, o bolsonarista tem apostado mais na oposição à gestão de Sarto do que na nacionalização da campanha, como fica claro por seu principal jingle, “A culpa é do Sarto”. Com isso, evita se associar além da conta a Bolsonaro, que em 2022 teve 41,82% dos votos no segundo turno na capital cearense.

Do outro lado, Leitão mira justamente nos 58,18% que Lula teve no mesmo pleito. Sua convenção partidária foi uma das poucas que contou com a presença do presidente, que também tem papel importante na propaganda eleitoral do apadrinhado. Do PT, recebeu R$ 3,35 milhões para fazer campanha — segundo maior repasse entre os postulantes petistas neste ano.

Para pedir votos, Leitão aposta ainda em Camilo Santana (PT), que governou o Ceará de 2015 a 2022. Hoje ministro da Educação, tirou férias da função para participar de campanhas no estado e, desde então, tem dado as caras com mais frequência em agendas na capital — período que se alinhou ao crescimento do aliado nas pesquisas. “O ex-governador é um cabo eleitoral ainda mais forte do que Lula em Fortaleza”, disse a professora.

Ao mesmo tempo, trava uma “luta interna” com o grupo político da deputada Luizianne Lins, prefeita de Fortaleza de 2005 a 2013. Preterida na indicação petista a disputar o pleito, Lins não participa de atos de Leitão, que é novo no ninho petista — de 2009 a 2023, foi filiado ao PDT do atual prefeito, o que é explorado por adversários. “Sua campanha tem sentido muito a ausência de Luizianne, que tem uma penetração muito boa na periferia devido ao legado de seus mandatos”, avaliou Torres.

Reedição de ringue local

Sem padrinhos nacionais, Capitão Wagner pisa em novo terreno desde que perdeu espaço no bolsonarismo — em pleitos anteriores, teve o apoio do ex-presidente e até de André Fernandes — e aposta na moderação. “Wagner sabia que, com a entrada do deputado na eleição, disputaria com ele a mesma parcela do eleitorado. Diante disso, passou a fazer elogios a Luizianne e participar de agendas ligadas à esquerda. Com uma trajetória política construída no campo da direita, o movimento se tornou uma armadilha”, afirmou a professora.

Depois de liderar com folga as pesquisas de intenção de voto no início da campanha, virou alvo prioritário dos oponentes e tem visto a estratégia de campanha ser contestada. Em vídeos publicados nas redes sociais, chegou a apelar para o discurso de que há um “sistema armado” para barrar sua ida ao segundo turno.

Em 2020, ele foi derrotado justamente por Sarto no segundo turno, em disputa apertada — o prefeito recebeu 51,69% dos votos válidos. O candidato eleito sucedia Roberto Cláudio (PDT), que completava o segundo mandato com altos índices de aprovação, e tinha longa trajetória na Assembleia Legislativa do Ceará — parte dela como colega de bancada de Evandro Leitão.

Eleição em Fortaleza tem 'semifinais' na direita e na esquerda por definição de segundo turno
Capitão Wagner e José Sarto disputaram segundo turno pelo cargo em 2020

Ainda tinha como cabos eleitorais o ex-governador Ciro Gomes e o senador Cid Gomes, na época seus colegas de PDT. De lá para cá, os irmãos romperam: Cid migrou para o PSB — que está na chapa petista — e Ciro foi de puxador de votos a um político rejeitado na cidade. Na falta de padrinhos, Sarto defende com dificuldades a própria gestão.

De acordo com Monalisa Torres, o prefeito fez “um mandato muito apagado, dos pontos de vista de gestão de imagem e obras entregues”. “O mandato tem um Calcanhar de Aquiles muito claro na taxa do lixo [citada no jingle de Fernandes], que onerou a população fortalezense sem uma transparência na aplicação dos recursos. Tem a pior avaliação popular entre os últimos prefeitos de Fortaleza”, afirmou.