Cinquenta vezes mais potente que a heroína. Cem vezes mais forte que a cocaína. Esse é o Fentanil, o opioide responsável por grande letalidade nos EUA: em 2021 causou aproximadamente 100 mil óbitos. Trata-se de um fármaco bom e eficaz quando usado sob prescrição médica para analgesia e como anestésico. O problema é que vem sendo usado inadequadamente. A droga acaba de desembarcar no Brasil e, em fevereiro, 31 frascos do entorpecente sintético foram apreendidos com traficantes em Cariacica, região metropolitana de Vitória, no Espírito Santo. Ele vem saindo dos laboratórios para as ruas, causa picos de relaxamento, euforia e prazer, de forma rápida e a partir de pequenas doses — 2mg são suficientes para matar em poucos segundos.

“Os opioides podem causar intoxicação aguda com facilidade, causando morte por parada respiratória”, diz José Luiz da Costa, professor da Unicamp e coordenador executivo do Centro de Informação e Assistência Toxicológica, o CIATox. Apesar dos diversos formatos, é misturado na cocaína que o Fentanil (aspirado ou injetado) mais atinge usuários. Alguns estados norte-americanos têm orientado famílias a terem o antídoto naloxona em casa, para os casos de overdoses em adolescentes. “Trata-se de uma medida de redução de danos”, diz Gustavo Bigaton Lovadini, psiquiatra e médico da Faculdade de Medicina da Unesp de Botucatu. O suporte do tratamento dos que se valem do remédio para inibir dores crônicas ou agudas também merece atenção: a utilização prolongada pode ser nociva. “Não existe um limite entre o que é medicamento e droga de abuso. O que vai existir é o Fentanil de uso médico, vendido com receituário especial, cuja dispensação na farmácia do hospital é rigorosa, e isso não pode ser confundido com uso abusivo”, alerta Costa.

Opioide com ação até 100 vezes mais forte do que a morfina, o Fentanil pode matar
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Sua introdução entre o público jovem em busca de euforia preocupa tanto pela letalidade quanto pelo desenvolvimento da dependência. Seus receptores cerebrais são os mesmos da endorfina, opioide endógeno relacionado ao bem-estar e liberado com as atividades físicas. Enquanto uma quantidade ínfima é fatal, dosagens menores podem dominar o usuário de modo irreversível. “A dependência está ligada à adaptação do organismo à substância”, explica Lovadini.

Como age

Ele pode entrar no organismo até em um “selinho”. Mas é sobretudo aspirado e injetado

No cérebro: estímulo de receptores opioides leva ao bloqueio do impulso doloroso

Medicina: é sedativo em procedimentos invasivos e analgésico no tratamento do câncer

Por causar prazer, euforia e relaxamento começou a ser utilizado enquanto entorpecente

Sem controle médico, o Fentanil causa overdose com 2mg