Nova Zelândia, Alemanha, Islândia, Dinamarca. Essas nações estão se destacando no combate à pandemia do novo coronavírus e não é coincidência o fato de todas serem governadas por mulheres. Enquanto o presidente Jair Bolsonaro classificou o novo coronavírus como “gripezinha” e líderes como Xi Jinping, da China, e Donald Trump, dos EUA, ignoraram a gravidade da pandemia para exaltarem as suas próprias figuras, líderes mulheres seguiram o caminho oposto. Entenderam o perigo do vírus, seu alto índice de contaminação e se anteciparam no enfrentamento à doença. Como resultado, as mortes em seus países foram controladas.

Katrín Jakobsdóttir, primeira-ministra da Islândia (Crédito: Jack Taylor/Getty Images)

Jacinda Ardern, primeira-ministra da Nova Zelândia, por exemplo, tomou medidas para conter o espalhamento do vírus assim que ele chegou ao país. Quando apenas seis casos tinham sido confirmados, no dia 19 de março, ela já havia fechado totalmente as fronteiras. Antes da primeira morte, decretou medidas rígidas de isolamento e fez uma “live” para comunicar a estratégia para conter a doença. Suas medidas levaram a um índice de letalidade baixo, de apenas 1,41%. Na terça-feira 5, nenhum novo caso havia sido reportado em 24 horas. Katrín Jakobsdóttir, premiê da Islândia, também colocou o país entre os que possuem o menor índice de letalidade: 0,56%. Seu mérito está na testagem gratuita em massa, mesmo dos que não possuíam nenhum sintoma. Os contaminados foram isolados. Quem esteve em contato com eles, também. Isso freou a disseminação.

“Alcançamos o objetivo de diminuir a velocidade de propagação do coronavírus e de impedir a sobrecarga do sistema de saúde”
Angela Merkel, primeira-ministra da Alemanha (Crédito: Pool )

Na Alemanha, comandada por Angela Merkel, não foi diferente. Apesar de estar entre os países com maior número de casos — 164.807 na quarta-feira 6 —, o país possui o menor índice de mortes: 4,24% dos infectados. O bom resultado se deve a medidas de isolamento e o alto número de testes realizados, cerca de 500 mil por semana. O eficiente sistema de saúde do país ajudou, mas a chanceler, que tem formação científica (é física), teve um papel importante. Em um raro discurso, foi à TV pedir o isolamento. Ela mesma se colocou em trabalho remoto, o que serviu de exemplo. Mette Frederiksen, primeira-ministra da Dinamarca, agiu antes da primeira morte. Ela fechou as escolas, proibiu eventos e recomendou que empresas colocassem seus funcionários em home office. Além disso, logo fechou as fronteiras e surpreendeu quando, no começo da pandemia, dedicou o tempo de uma coletiva de imprensa para responder perguntas de crianças.

Mette Frederiksen, primeira-ministra da Dinamarca (Crédito:Liselotte Sabroe / Ritzau Scanpix / AFP)

O sucesso nas ações durante a epidemia se deve, entre outras razões, a uma característica da liderança feminina apontada por especialistas: as mulheres se dedicam mais aos cuidados com seus próximos do que os homens. Isso, no entanto, nada tem a ver com o cromossomo X, e sim com uma construção social histórica. “No século XIX, a mulher foi reconstruída para ser disciplinadora dos corpos. Os discursos médicos falavam que ela deveria ficar dentro de casa por ser mais frágil fisicamente e, portanto, tornar-se responsável pela higiene e pela ordem”, diz Rosana Schwartz, pesquisadora de estudos de gênero na Universidade Mackenzie. Rosana está liderando estudos comportamentais sobre a Covid-19. Segundo ela, já é possível constatar que essa maneira de agir está se repetindo.

“A mulher é responsável por cuidar em todas as classes sociais, e nem percebe que faz isso. Como o cotidiano é politizado, isso se reflete na vida pública”, diz ela. Há outras razões que podem pesar nesse sucesso, segundo especialistas. As mulheres preferem assumir menos riscos. As líderes que se destacaram também representam democracias parlamentares, onde os governos propiciam uma resposta melhor no caso de crises. Seja qual for a razão, a constatação do sucesso feminino representa mais um aprendizado trazido pela pandemia.