O orgulho era tradicional e recíproco – as venezuelanas amavam representar o seu país em concursos internacionais de beleza; a Venezuela, igualmente, orgulhava-se de sair-se inúmeras vezes vencedora em tais desfiles. Até isso, quem diria, o regime bolivariano iniciado por Hugo Chávez e tocado de forma autoritária pelo presidente Nicolás Maduro conseguiu matar. Enquanto a miséria e a doença lá se alastram — e a sua população parte em busca de outro chão para sobreviver -, diversas jovens também emigram com um sonho que governante algum conseguiu desinflar: seguir fazendo parte dos concursos de miss, já que sabem que, especialistas em todo o mundo, sempre as colocaram entre as mais bonitas do planeta. Mas há, claro, uma diferença: agora elas concorrem com as cores das bandeiras de outras nações. Somente em 2018, doze venezuelanas se inscreveram em tais certames, valendo-se de dupla nacionalidade. Só como exemplo: a coroa de Miss Chile foi disputada entre duas jovens venezuelanas — Andrea Díaz e Sabina Ahumada. Andrea venceu e, assim, representou o Chile no concurso de Miss Universo. Outra venezuelana, Jéssica Russo, conquistou a coroa do Miss Terra desfilando pelo Peru — e no mês que vem, nas Filipinas, ela pisará a passarela na fase final. É franca favorita ao lado de uma conterrânea: Carolina Jane, que desfilará pela Espanha. A beleza dessas mulheres, mas somente a beleza dessas mulheres, é a única beleza que se salva na hoje feia Venezuela.

Fernando Albán, “Clarices e Marias”

Juan Barreto / AFP

O mundo civilizado já não acredita em nada que declara Nicolás Maduro. Ele afirmava, até a quarta-feira 10, que a morte do político Fernando Albán, seu opositor que estava preso no Serviço de Inteligência, fora suicídio. Teria se jogado do décimo andar do prédio. O Brasil que já sofreu com a dor de “Clarices e Marias”, e com os “suicídios” de seus maridos, sabe que a fala de Maduro é suspeita. A ONU e a União Europeia cobraram uma “investigação transparente”. A exigência despencará no ar. A verdade virá à luz quando Maduro for tirado do poder.

COMPORTAMENTO
A apavorante história do homem que sumiu

OZAN KOSE / AFP

O jornalista Jamal Khashoggi sempre criticou o governo de seu país, a Arábia Saudita, e por isso mudou-se para a Turquia. Na semana passada uma notícia gelou o mundo. Jamal foi ao consulado saudita em Istambul, no início desse mês, e câmaras de lojas vizinhas provam que ele entrou no edifício. Só que, de lá, Jamal nunca mais saiu. Segundo o jornal “The New York Times”, ele foi esquartejado no próprio consulado por ordem do príncipe saudita, Mohamed bin Salman — a operação envolvera agentes e médicos legistas, e as partes do corpo teriam sido transportadas para fora do local. O jornal “Washington Post” diz que Jamal foi preso no consulado e enviado para a Arábia. Até a quinta-feira 11 o governo saudita negava tais versões e autorizara a Turquia a fazer buscas no consulado.

Última imagem

Demiroren News Agency / AFP

Vídeo divulgado na semana passada mostra Jamal Khashoggi entrando no consulado saudita em Istambul no dia 2 de outubro. Desde então, ele jamais foi visto saindo do prédio

POLÍCIA FEDERAL
No rastro do tesouro ilegal

É inesquecível a cena de auditores da Receita Federal barrando, no Aeroporto Internacional de Viracopos, na cidade paulista de Campinas, a bagagem do vice-presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Mang. Aconteceu no mês passado e nas malas Teodoro escondia em dinheiro e relógios cerca de US$ 17 milhões. Na semana passada a PF cumpriu mandados de busca e apreensão em sete de seus imóveis em São Paulo — incluindo a cobrtura duplex de mil metros quadrados, avaliada em R$ 70 milhões (foto). Além disso, a Justiça ordenou o bloqueio de seis carros de luxo importados por Teodoro. O que a PF investiga são as suspeitas de crime de lavagem de dinheiro.

VATICANO
Papa culpa o diabo por pedofilia na Igreja

Andreas SOLARO / AFP

O papa Francisco atribuiu ao diabo parte da culpa pela crise que a Igreja Católia atravessa devido aos casos de pedofilia. A outra parte da responsabilidade, segundo o papa, é da própria Igreja: “Precisamos ser salvos dos ataques de Satã. Achar que o diabo é só um símbolo ou uma figura de linguagem nos leva a baixar a guarda e nos deixa vulneráveis”.

SOCIEDADE
Falta ginga à política brasileira

São diversos os países anuviados pela incomplacência política, e o Brasil não está imune a isso. Em meio à campanha eleitoral, Jair Bolsonaro sofreu uma tentativa de homicídio: mais dois milímetros de perfuração do intestino, e ele estaria morto pela faca que um maluco lhe cravou no ventre. Terminado o primeiro turno, a intolerância seguiu sua inflexível jornada: na madrugada da segunda-feira 8, Romualdo Rosário da Costa, o popular capoeirista “mestre Moa do Katendê”, foi assassinado com doze facadas. “Mandingueiro” (significa excelente) na ginga, jamais o pegariam pela frente. Foi morto pelas costas. Motivo: ele e um eleitor de Bolsonaro se desentenderam, em Salvador.