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Apesar da intensa campanha midiática conduzida pelo atual diretor do Louvre, Jean-Luc Martinez, por um novo mandato, quem assumirá a direção de um dos lugares mais visitados do mundo será a historiadora Laurence de Cars, atual diretora de outro museu parisiense, o D’Orsay. O anúncio da troca foi feito pelo próprio presidente do país, Emmanuel Macron. É uma notícia para se comemorar. De Cars assume seu mandato de cinco anos no dia 1 de setembro, quando começa o ano letivo na Europa, após as férias de verão. E sua nomeação está alinhada com uma tendência geral nos grandes museus do mundo, na qual o Louvre estava atrasado: a escolha de mulheres para comandá-los. Com um mundo cada vez mais aberto à diversidade e a novos pontos de vista, até os museus do Vaticano, que inclui em seu acervo os famosos afrescos de Michelangelo, têm hoje uma liderança feminina, a especialista em história das artes Barbara Jatta. As quatro galerias Tate, na Inglaterra, também são comandadas por uma mulher, Maria Jane Balshaw, que assumiu o cargo há três anos. E o Mosteiro dos Jerônimos, em Lisboa, conta com Dalila Rodrigues no comando.

BARBARA JATTA / MUSEUS DO VATICANO O Papa Francisco nomeou a especialista em história da Arte para o cargo em 2017 (Crédito: Guglielmo Mangiapane)

A chegada de Laurence de Cars ao Louvre dá visibilidade a um movimento que vem acontecendo desde o final da década de 1980, quando a mulher passou a ter maior presença no mundo das artes, tanto na gestão de grandes espaços de exposição, como no campo da produção artística. E assumir o controle de Louvre, que pertence ao estado francês e tem um orçamento anual de cerca de 240 milhões de euros, ou R$ 1,5 bilhão, durante uma pandemia, será desafiador e uma prova de competência. Com isolamento e fronteiras fechadas, o turismo internacional que até então representava 70% dos visitantes do local, será posto à prova. Até 2019, o Louvre recebia em média 10 milhões de turistas, sendo o museu mais visitado do mundo. O desafio de De Cars de reativar a casa da Monalisa parece promissor, principalmente por seu currículo invejável. Estudou na própria escola do Louvre, dirigiu com sucesso o Museu D’Orsay e quando apresentou a sua candidatura, prometeu modernizar o acervo do prédio histórico, tornando-o mais inclusivo para os jovens. Especialista em pintura dos séculos 19 e 20, ela descende de uma família nobre de escritores franceses. “É uma conservadora reconhecida, de projeção internacional, que se destacou no D’Orsay e tem um grande conhecimento do Louvre desde que trabalhou no projeto de Abu Dhabi, entre 2007 e 2014”, destacou o Palácio do Eliseu em seu pronunciamento oficial.

MARIANA BERENGUER / MAM-SP A empresária e colecionadora assumiu no ano passado, substituindo outra mulher, a banqueira Milú Villela (Crédito:Divulgação)

No Brasil há diversas instituições artísticas que além de darem destaque para obras e exposições produzidas por minorias, também se preocupam com as posições de liderança de suas instituições. O Museu de Arte de São Paulo (MASP) teve sua primeira diretora em 2013, quando a colecionadora Beatriz Camargo assumiu a instituição. Outro exemplo é o Museu de Arte Moderna (MAM), de São Paulo, que tem em sua direção atual a empresária Mariana Berenguer. Ela assumiu o posto em 2019, e, antes dela, esteve no cargo, por 24 anos, a filantropa e empresária Milú Villela. Mariana disse à ISTOÉ que o museu tem uma tradição feminina muito forte. “Minha passagem pela direção da organização reafirma o desafio de unir sensibilidade e determinação que nós mulheres temos de forma genuína.

MARIA BALSHAW / GALERIAS TATE A primeira mulher a comandar as quatro galerias e museus Tate , na Inglaterra (Crédito:GARETH CATTERMOLE)

Algo tão necessário para uma instituição cultural que luta pela diversidade, a educação e a sustentabilidade”, disse
Todo esse cenário diverso que se vê na palavra “inclusão” indica uma transformação na maneira como os museus são vistos e interpretados e a presença de mulheres no comando é um dado alentador. Além de posições de liderança, as minorias também ocupam cargos de curadoria e principalmente colocam seus trabalhos nas paredes dos locais mais importantes do mundo. Para não “virar peça de museu” e ficar no passado, é preciso acompanhar a sociedade e suas mudanças. Quem não o fizer pagará o preço da obsolescência.

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