O resultado do terceiro levantamento feito pela Aliança Global para Atividade Física de Crianças — entidade internacional dedicada ao estímulo da adoção de hábitos saudáveis pelos jovens — foi decepcionante. Realizado em 49 países de seis continentes com o objetivo de aferir o quanto crianças e adolescentes estão fazendo exercícios físicos, o estudo mostrou que elas estão muito sedentárias. Em 75% das nações participantes, o nível de atividade física praticado por essa faixa etária está muito abaixo do recomendado para garantir um crescimento saudável e um envelhecimento de qualidade — com bom condicionamento físico, músculos e esqueletos fortes e funções cognitivas preservadas. De “A” a “F”, a maioria dos países tirou nota “D”.

O resultado apresenta praticamente os mesmos índices registrados nos dois levantamentos anteriores, em 2014, em 15 países, e em 2016, com a participação de 38 nações. Significa que nesses quatro anos nada mudou. A principal causa do sedentarismo infantil está associada ao estilo de vida contemporâneo, baseado no uso de carros para ir de um lugar ao outro, em poucos espaços ao ar livre para brincar e no tempo excessivo passado online, em redes sociais e jogos. “Tudo isso coloca as novas gerações em um caminho perigoso”, disse Mark Tremblay, presidente da Aliança e professor da Universidade de Ottawa, no Canadá.

Desafios pela frente

O sedentarismo é fator de risco para diversas doenças, a começar pela obesidade e diabetes. Sem tratamento, a combinação das três condições leva a desfechos como o infarto e o acidente vascular cerebral. Mais recentemente, a falta ou pouca atividade física também foi vinculada ao desenvolvimento do câncer, mesmo que de forma indireta, ao facilitar o ganho de peso. A obesidade figura entre os gatilhos para o desenvolvimento de vários tumores, entre eles o de mama. Em seu alerta, feito durante o anúncio dos resultados, na segunda-feira 26, Tremblay lembrou os desafios que os jovens terão pela frente em um mundo que passa por mudanças climáticas importantes e rápidas transformações tecnológicas. “Eles precisarão estar fisicamente bem e se tornarem adultos resilientes, que sobrevivam a isso tudo e ajudem a mudar o mundo”, ressaltou o médico.

As conclusões deixam claro que enfrentar a inatividade física infantil exige uma abordagem ampla que envolva aplicação de políticas públicas, incentivo familiar e escolar e mudança de cultura. Na Eslovênia, que obteve algumas das melhores notas, o esporte é um item da identidade nacional. No Japão, desde 1953 vigora uma lei determinando a “prática da caminhada para a escola”. Ela estabelece que escolas do ensino fundamental sejam localizadas a não mais do que quatro quilômetros da residência do estudante e que as de ensino médio não podem ficar a mais de seis quilômetros da casa do aluno.

“As crianças têm poucas chances de fazer exercício dentro e fora da escola” Diego Silva, professor da Universidade Federal de Santa Catarina

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As médias brasileiras seguem os níveis pífios encontrados na maioria dos outros países. O país não tirou nenhuma nota “A” nos itens analisados — de atividade física em geral a estímulo familiar e na escola. A melhor avaliação foi no quesito “esporte organizado”, no qual o País tirou nota “C+”. O coordenador da parte brasileira foi Diego Augusto Santos Silva, professor de educação física da Universidade Federal de Santa Catarina. “A situação do Brasil é preocupante. As crianças e adolescentes têm poucas oportunidades de prática de atividade física dentro e fora da escola”, afirma. O documento aponta três prioridades para o Brasil: implantar políticas de estímulo em todo o território (muitas regiões não contam com nada nesse sentido), tornar a educação física prioridade nas escolas e melhorar a estrutura das cidades assegurando às crianças parques e ruas seguras onde possam brincar ao ar livre.


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