Os salvadorenhos votaram neste domingo (3) em clima de tranquilidade para eleger um novo presidente, com o ex-prefeito da capital Nayib Bukele como favorito, diante do desgaste dos partidos tradicionais e em meio à persistente violência das gangues e o alto custo de vida.

Após o fechamento das seções, os membros das juntas receptoras dos votos iniciaram a apuração.

Enquanto nas seções eleitorais de San Salvador, a afluência se aproximava de 50% faltando duas horas para o encerramento da votação, às 17h locais (21h de Brasília), alguns partidos em disputa começaram a efetuar suas próprias avaliações.

Em rápida declaração à imprensa em um hotel de San Salvador, Bukele afirmou, sem revelar nenhuma cifra, que suas primeiras análises da votação indicam que sua candidatura está “com bons números”, e disse esperar que “não haja segundo turno (das eleições), todos queremos poupar ao país este segundo turno”.

Vestindo camisetas azuis, vermelhas ou tricolores dos partidos em disputa, centenas de eleitores fizeram longas filas para entrar nos centros de votação em diferentes pontos da capital.

O presidente, Salvador Sánchez Cerén, declarou à imprensa que “não há nenhum informe de dificuldades em nenhum centro”, após votar no colégio salesiano Domingo Savio, no leste da capital.

De fato, houve poucos incidentes registrados pelas autoridades.

O ministro da Justiça e Segurança, Mauricio Ramírez, informou à imprensa que por enquanto só se registraram seis pessoas detidas por tentativa de fraude eleitoral e outros delitos.

Pouco mais de 5,2 milhões de eleitores foram convocados a votar em 1.600 seções. Segundo o presidente do TSE, os resultados devem ser anunciados ainda esta noite.

“Viemos votar confiando em que haja uma mudança”, declarou à AFP Aracely Bonilla, que foi votar na escola paroquial de San Agustín, em Mejicanos, periferia norte de San Salvador.

O chefe da missão de observação eleitoral da União Europeia, Carlos Iturgaiz, comentou que, “salvo mínimos atrasos por questões de organização”, o processo transcorre em um clima de tranquilidade.

Trata-se da sexta eleição presidencial desde o fim da guerra civil de 12 anos em 1992, mediante a assinatura de acordos de paz entre o governo e a guerrilha.

As pesquisas apontam como favorito Bukele, de 37 anos, candidato do conservador partido Grande Aliança pela Unidade Nacional (Gana), seguido do empresário do ramo dos supermercados Carlos Calleja (42), de uma coalizão de quatro partidos da direita liderada pela Aliança Republicana Nacionalista (Arena).

Na hipótese de vitória de Bukele, ele precisará pactuar uma aliança para poder governar com a direita que controla o Congresso atual, em funções até 2021.

Também participam da disputa neste domingo a governista Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN, ex-guerrilha esquerdista), que apresenta o ex-chanceler Hugo Martínez, terceiro colocado nas pesquisas, e o empresário Josué Alvarado, do minoritário partido Vamos, com poucas chances.

Se nenhum candidato conseguir a metade mais um dos votos, haverá um segundo turno em 10 de março.

Repetindo o lema “O povo unido jamais será vencido”, o candidato Martínez votou em uma escola pública do oeste da capital, enquanto Calleja o fez na Feira Internacional, onde seus seguidores gritavam “Calleja presidente”.

– Insegurança, a prioridade –

Quem vencer estas eleições precisará enfrentar o já antigo problema das gangues violentas, que extorquem a população e foram responsáveis pela maioria dos 3.400 homicídios cometidos em 2018 em El Salvador, um país com 51 mortes por cem mil habitantes.

“O novo presidente deve apresentar soluções arrojadas para o tema da segurança”, declarou à AFP o analista e professor da Escola Superior de Economia e Negócios (ESEN), Carlos Carcach.

No passado, governos de direita apostaram na repressão ou negociaram em sigilo com as gangues.

A esquerda, enquanto isso, com o ex-presidente Mauricio Funes (2009-2014), incentivou uma trégua entre as duas principais gangues que reduziu temporariamente os homicídios.

A cada ano, milhares de salvadorenhos deixam o país por causa da violência e o desemprego.

Entre outro e novembro do ano passado, mais de 3.000 salvadorenhos deixaram o país em caravanas com a intenção de chegar aos Estados Unidos.

– Estagnação econômica –

O futuro presidente também terá que enfrentar o lento crescimento de uma economia dolarizada que, nos últimos cinco anos, não conseguiu chegar a 3% do crescimento anual.

“A fragilidade da economia salvadorenha está associada às reformas que se implementaram depois da guerra (1980-1992); reformas cujo centro foi a liberalização”, destacou em um editorial a Universidade Centro-americana (UCA).

A UCA lembrou que os governos de direita implantaram uma reforma fiscal que reduziu o imposto de renda e criou o imposto sobre valor agregado (13,5%), venderam bancos estatais, privatizaram empresas e dolarizaram a economia para “acelerar o crescimento através do livre mercado”.

Segundo a universidade, “o único êxito do modelo foi a concentração da riqueza em poucas mãos” e o país vive as consequências com “a violência, o deslocamento, a migração forçada e as maras [gangues] que são um subproduto do modelo implementado”.

“El Salvador precisa de mais fontes de trabalho e mais segurança em cada esquina”, exigiu neste domingo Daniel Morales, estudante universitário de 24 anos, prestes a votar.