Com a vitória de Giorgia Meloni, a Itália pode liderar uma frente ultraconservadora na Europa, ao lado de Hungria e Polônia, mas essa aliança rapidamente encontrará seus limites, em especial sobre o conflito na Ucrânia e a relação com a Rússia.

O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, e seu homólogo polonês, Mateusz Morawiecki, foram os primeiros a celebrar a vitória da líder pós-fascista italiana nas eleições legislativas de domingo (25).

“Precisamos mais do que nunca de amigos que compartilhem uma visão e uma abordagem comuns de Europa”, declarou um porta-voz do líder húngaro, enquanto Varsóvia comemorava a “grande vitória” da extrema direita italiana.

A chegada da extrema direita ao poder em um dos países fundadores da União Europeia (UE) deve reduzir o isolamento de Budapeste e Varsóvia, ambas em conflito aberto com a Comissão Europeia em temas como o Estado de Direito.

“Hungria e Polônia estão mais do que felizes com esta eleição”, já que “permitirá reduzir a pressão sobre seus países na UE e abre caminho para uma frente mais unida”, disse à AFP Yordan Bozhilov, do “think tank” Sofia Security Forum.

Após a ascensão da extrema direita na Suécia nas eleições legislativas de setembro, o sucesso de Meloni na terceira maior economia da UE dá asas aos ultraconservadores, contrários ao Islã, aos imigrantes, ao aborto, ou aos direitos LGBT.

“A direita europeia está ficando mais forte (…) Vamos vencer os comunistas, o esquerdismo e o ‘lobby’ LGBT, todos os que arruínam nossa civilização”, tuitou o vice-ministro polonês da Agricultura, Janusz Kowalski, na segunda-feira (26).

A líder do partido italiano pós-fascista Fratelli d’Italia (Irmãos da Itália) e os líderes da Polônia e da Hungria também concordam em sua concepção de uma Europa cristã, branca e formada por nações soberanas.

“Hungria e Polônia são países que querem mudar a Europa de dentro e não escondem isso. Não conseguiram até agora, mas, certamente, vão tentar criar um eixo Roma/Budapeste/Varsóvia”, afirmou Tara Varma.

Para a especialista do “think tank” European Council on Foreign Relations (ECFR), esses três países não têm a intenção de sair da UE, na esteira do Brexit, mas podem “impedir que avance, aproveitando-se, por sua vez, dos fundos comunitários”.

A frente de “valores” pode ser posta em xeque, rapidamente, pela guerra na Ucrânia e pela política da UE em relação a Moscou.

A líder italiana expressou claramente suas posições pró-Ucrânia, favorável às sanções europeias contra a Rússia. Esta posição é próxima da de Varsóvia, mas se afasta do posicionamento de Orban, que estabeleceu, nos últimos anos, laços estreitos com o presidente russo, Vladimir Putin, e é bastante crítico das medidas punitivas contra Moscou.

Para Martin Quencez, do German Marshall Fund, Meloni “enviou as boas mensagens sobre a Ucrânia”, sobretudo, para os Estados Unidos, que têm na Itália um parceiro crucial na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

À possível futura premiê italiana “interessa manter boas relações com Bruxelas, e não entrar em um conflito frontal”, analisa Paolo Modugno, professor de Civilização Italiana na universidade francesa Sciences Po.

Para todos os analistas, o perfil dos futuros ministros das Finanças e das Relações Exteriores será um indicador crucial da atitude de Meloni em relação à Europa.