Na manhã de quinta-feira 26, o empresário Eike Batista estava nos Estados Unidos quando a Polícia Federal invadiu sua mansão no Jardim Botânico, zona sul do Rio. Os 80 agentes que participaram da operação estavam em busca de evidências que ajudassem a comprovar um suposto esquema de propina promovido por aquele que já foi o homem mais rico do Brasil em conjunto com o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB). De acordo com o Ministério Público, os crimes envolveram quantidades “surreais” em subornos, que alcançaram a casa dos US$ 100 milhões (R$ 320 milhões). Segundo os procuradores, Eike era o autor intelectual do crime. Só dos bolsos dele teriam saído US$ 16,5 milhões, como propina para um contrato falso sobre a venda de uma mina de ouro.

Pivô de novo escândalo

Há poucos anos, o magnata era uma das dez pessoas mais ricas do mundo e um dos “campeões nacionais” em negócios patrocinados junto ao BNDES pelo PT. Hoje, perdeu a fortuna e se tornou presença permanente nas páginas policiais. Teve bens sequestrados, aparece em dezenas de processos e, agora, está sendo considerado “pivô” do novo esquema. Foragido, seu advogado afirma que ele viajou para Nova York dois dias antes da operação, mas que não fugiu e que se entregará em breve. A polícia investiga se ele usou um passaporte alemão para sair do país e colocou seu nome na lista de procurados da Interpol. “É forte a presunção de que Eike Batista participa ativamente da complexa organização criminosa que vem sendo perscrutada”, escreveu o juiz Marcelo da Costa Bretas na decisão da prisão.

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PF EM AÇÃO Policiais saíram às ruas em nova operação recolhendo documentos contra Eike

O empresário é suspeito de integrar uma rede destinada ao pagamento de propinas a Cabral, que está na cadeia desde novembro do ano passado. Segundo o Ministério Público, o esquema funcionou desde 2002. Para esconder a origem ilícita, o dinheiro teria partido de várias fontes, inclusive Eike, e passado por uma complexa engenharia financeira em países como Panamá e Uruguai. A acusação é que os repasses foram feitos como forma de retribuição de favores concedidos pelo então senador pelo Rio. De acordo com os promotores, a ascensão de Cabral ao comando do estado em 2007 deixou os volumes de propina tão grandes que os suspeitos não conseguiam mais encontrar pessoas no Brasil para fazer as operações. “As cifras são indubitavelmente astronômicas”, diz Bretas.

Na mesma semana em que o escândalo foi revelado, uma juíza das Ilhas Cayman bloqueou US$ 63 milhões de Eike. O pedido foi feito por dois grupos de investimento americanos, que financiaram o projeto de exploração de petróleo do empresário e se disseram enganados. As empresas afirmam que perderam milhões após ele fraudar prospecções e transferir ativos às vésperas do colapso. O advogado do ex-bilionário, inclusive, justificou que a viagem de seu cliente ao exterior se deu justamente para resolver esse problema. Se for preso, Eike terá mais um problema para resolver. Sem curso superior, pode ir para uma cadeia comum.

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