Principal patrocinador do vôlei do país há duas décadas, o Banco do Brasil não se manifestou sobre o comportamento do jogador Wallace, que publicou um post “brincando” no Instagram com um “Daria um tiro na cara do lula com essa 12” (sic). Brincar com um “Daria um tiro na cara” do vizinho, do filho do vizinho, do cachorro do vizinho, de quem quer que fosse — do próprio Wallace??! De ninguém! Isso simplesmente não existe. É preciso que uma Advocacia Geral da União (AGU) intime Comitê Olímpico do Brasil (COB) e Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) a se manifestar?

É igualmente absurdo que entidades se preocupem com “a repercussão” do tal post, quando o ponto central é bem outro: se alguém escreve isso para milhões de seguidores — “seguidores”, atente-se –, acha que está brincando, pede desculpas e “a vida segue”, a situação é bem mais grave. O Sada, clube, se manifestou (depois de patrocinadores cobrarem) afastando o jogador. Penso: um dono de loja que fosse faria o quê, se um funcionário se atrevesse a brincar de fazer enquete sobre dar tiros em um cliente?

O Conselho de Ética do COB suspendeu seu filiado por incitação à violência — exatamente as palavras que devem ser usadas. E a CBV? Nem menciona o caso no site oficial. Empurrou a questão para o STJD, para avaliações sobre “possíveis infrações cometidas com base no Código Brasileiro de Justiça Desportiva”. De novo: não é esse o ponto! Não se trata de analisar se um post desse está previsto no escopo esportivo. Vai muito além!

E o Banco do Brasil, que patrocina a CBV há mais de três décadas — desde 1991, dez anos antes de a recém-empossada presidente Tarciana Medeiros iniciar sua carreira –, não vai se manifestar? Está no mínimo atrasado. Vai continuar mudo? Nada de se manifestar sobre o Artigo 286 do Código Penal, sobre Incitação ao Crime, que consiste em “incentivar, estimular, publicamente, que alguém cometa um crime”, com pena prevista de detenção de três a seis meses ou multa”? Nem um repúdio, nem uma cobrança à CBV, sua patrocinada?

“Mas eu não sabia”, “Quem me conhece sabe que sou uma pessoa boa”, “Jamais quis dizer…” (o que disse)… Ouvimos isso há anos, o mesmo tanto de tempo que cobramos punições para bandidos de qualquer espécie — e devemos e vamos continuar cobrando.

Depois desses pensamentos distorcidos serem revelados por meio das redes, o que os autores e seus passadores de pano lamentam é “a repercussão”, quando o que se espera é que se reconheçam nos atingidos e, no mínimo, trabalhem para corrigir esse tipo de comportamento.

Vale lembrar que em 2021 foi o jogador Maurício que escancarou seu lado homofóbico nas redes e só resolveu dar satisfação ou algo semelhante depois da pressão que uma Fiat se viu obrigada a fazer sobre o Minas. No que resultou aquela situação? Simples: na eleição para deputado federal, apoiado pelo ex-presidente, como se poderia esperar.

Mas dois anos são séculos na velocidade da luz das redes sociais. E se é só o dinheiro que conta para muitos, que Wallace, Sada, COB, CBV e Banco do Brasil reflitam, porque é preciso mostrar muito mais firmeza contra essas “brincadeiras”, em vez de dar espaço a barbaridades, que assim continuam a ser encaradas como banais. Chega, não?