19/06/2024 - 14:01
ROMA, 19 JUN (ANSA) – O governo do Egito tentou obstruir um julgamento em Roma, à revelia, de quatro oficiais de inteligência egípcios acusados de torturar até a morte o estudante italiano Giulio Regeni, em 2016, informaram fontes judiciais nesta quarta-feira (19).
Segundo relatos, as quatro principais testemunhas de acusação foram proibidas de responderem a intimação para participar do julgamento na capital italiana.
O Ministério das Relações Exteriores da Itália transmitiu ao procuradores de Roma uma nota da Procuradoria-Geral do Egito afirmando que “é impossível executar pedidos de assistência judicial” para que as quatro testemunhas egípcias sejam ouvidas na audiência no tribunal do bunker de Rebibbia. O documento diz respeito principalmente ao sindicalista Said Abdallah, que supostamente apontou Regeni como espião; o coordenador de um centro para os direitos econômicos e sociais, Hoda Kamel Hussein; e Rabab Ai-Mahdi, tutor de Regeni no Cairo.
Diante disso, o procurador-adjunto Sergio Colaiocco solicitou ao juiz de Primeira Instância que pudesse obter os depoimentos das testemunhas ausentes recolhidos durante a investigação.
“Estamos na presença de testemunhas que não escolheram livremente não estar aqui. Tentamos de tudo para trazer as testemunhas para cá”, declarou o promotor.
Segundo a advogada dos pais de Regeni, Alessandra Ballerini, “apesar de todos os esforços do Ministério Público e dos pedidos formais apresentados pela Farnesina, é inegável o obstrucionismo egípcio que neste momento parece intransponível, mas que também devido ao argumentos que ouvimos do procurador são completamente ilegítimos”.
O general Tariq Sabir e os coronéis Athar Kamel Mohamed Ibrahim, Uhsam Helmi e Magdi Ibrahim Abdelal Sharif são acusados de sequestro qualificado, homicídio qualificado e lesões corporais qualificadas.
O pesquisador vivia na capital do Egito para preparar uma tese sobre sindicatos independentes para a Universidade de Cambridge, mas desapareceu em janeiro de 2016. Ele havia sido visto pela última vez em uma linha de metrô, e seu corpo só foi encontrado mais de uma semana depois, com evidentes sinais de tortura.
De acordo com o legista Vittorio Finceschi, que realizou a autópsia no corpo de Regeni, o estudante sofreu várias formas de tortura no Cairo, como socos, chutes, queimaduras, espancamentos nas solas dos pés e algemas dolorosas nos pulsos e tornozelos.
O italiano frequentava organizações sindicais clandestinas e contrárias ao presidente autocrata Abdel Fattah al-Sisi, o que levantou a hipótese de crime político.
A acusação diz que os agentes seguiam os passos de Regeni desde o fim de 2015 e o abordaram na noite de 25 de janeiro de 2016, no metrô do Cairo. Em seguida, teriam conduzido o italiano contra sua vontade para uma delegacia e, depois, para um edifício onde ele ficaria nove dias em cativeiro. (ANSA).