A maconha ainda é uma gota no oceano da indústria farmacêutica, mas já é perceptível. Para se ter uma ideia, dos cerca de 500 mil médicos do Brasil, apenas quatro mil receitam o produto, menos de 1%, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Há, porém, um movimento consistente de expansão do uso de derivados da planta. Até 2018, o número de profissionais que dava atenção a substâncias como o canabidiol mal chegava a mil e o que se vê em 2021 é um grande salto nas suas prescrições em vários tipos de tratamento, apesar da reduzida oferta no mercado interno e das dificuldades legais para conseguir bancá-lo pelo SUS. Segundo a Anvisa, nos quatro primeiros meses deste ano houve aumento de 127% no total de autorizações emitidas pela agência para a importação de canabidiol.

Um dos grandes problemas que existe hoje é fazer o produto chegar ao paciente, já que o processo de importação é complexo e cheio de minúcias. Há todo tipo de barreira burocrática e sanitária e nem todos os médicos sabem como conseguir a liberação pela Anvisa. Por conta disso, empresas que trabalham com os derivados da maconha têm feito um trabalho de esclarecimento para promover o canabidiol. É o caso HempMeds, uma das primeiras marcas a atuar no setor no Brasil, que tem investido na formação de médicos e já ministrou aulas gratuitas para mais de 500 profissionais que receberam informações sobre como importar e receitar o canabidiol. “Diria que as dificuldades estão associadas como preconceito contra a planta e também com a falta de competência técnica para prescrever o produto”, afirma Matheus Patelli, diretor-geral da HempMeds no Brasil.

Queda de preços

Há somente dois remédios com canabidiol autorizados pela Anvisa que podem ser comprados nas farmácias. Um deles é produzido localmente pelo laboratório Prati-Donaduzzi, do Paraná, e outro é o Mevatyl, fabricado e importado pelo britânico GW Pharma. Na terça-feira, 27, o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) anulou a patente do produto da Prati, que mantinha uma espécie de monopólio para seu produto. A medida permitirá que outras farmacêuticas produzam novas versões do medicamento. Isso deve ter repercussão no preço, outro grande impeditivo para a expansão do uso da substância, que custava mais de R$ 2 mil e agora menos de R$ 300. O canabidiol tem sido indicado para doenças como epilepsia, autismo, dor crônica ou esclerose múltipla com resultados promissores.