Para tentar recuperar um ano letivo quase perdido para a pandemia, Bruno Covas (PSDB) aposta em avaliação e tablets e Guilherme Boulos (PSOL), em mutirão e mobilização. O coronavírus agravou mais ainda o grande problema da cidade na educação: fazer com que as crianças e adolescentes aprendam. Mesmo sendo a cidade mais rica do País, São Paulo já estava, antes mesmo da covid, na 10ª posição entre as capitais em aprendizagem do 9º ano do ensino fundamental.

São poucos os pontos em comum entre as duas candidaturas nos planos para a rede municipal de ensino, que tem 1 milhão de alunos e 60 mil professores. E cujas questões vão muito além da falta de vagas na creche.

Mesmo assim, o atendimento para bebês e crianças de 0 a 3 anos sempre volta como polêmica em toda eleição. A campanha de Covas acusou Boulos de querer acabar com a rede parceira de creches, que, por meio de convênios da Prefeitura com organizações sociais, atende hoje 300 mil crianças e tem cerca de 40 mil trabalhadores. O programa do PSOL menciona “reverter, gradativamente, o processo de privatização, terceirização e conveniamento da educação”.

“Não vamos tirar os que têm qualidade. Até zerar a fila provavelmente esses estabelecimentos permanecem”, afirmou o educador Daniel Cara, responsável pela área na campanha de Boulos. O investimento em creches diretas da Prefeitura é três vezes maior que o feito nas conveniadas, o que permitiu um aumento mais rápido das vagas. Como revelou o Estadão, por causa da pandemia muitas mães deixaram de buscar vagas e a fila deve ficar próxima do zero. Mas a demanda pode chegar a 50 mil em 2021.

O atual secretário municipal de Educação, Bruno Caetano, afirmou que Covas, se reeleito, vai continuar a apostar num modelo que inclui compra de vagas em creches filantrópicas ou privadas. Boulos é contra e promete construir 200 novas creches diretas em prazo não definido. O custo de manutenção anual seria de ao menos R$ 800 milhões em um orçamento para creches de R$ 4 bilhões. Fora a construção de cada uma, em torno de R$ 5 milhões.

Além disso, Cara é um dos defensores do chamado custo aluno qualidade (CAQ). O mecanismo indica o valor que deve ser investido nas escolas para que tenham elementos considerados essenciais como piso salarial dos professores, biblioteca, quadra, água, banda larga. Para os críticos, ele inviabiliza o maior atendimento e causa judicialização. “Em tempos de restrição orçamentária, é preciso ver como Boulos vai garantir a oferta já que os formuladores de seu plano são historicamente defensores do CAQ”, disse a presidente executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz. Entre as promessas do PSOL, está a destinação de 31% receitas arrecadadas à manutenção e desenvolvimento do ensino.

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Por outro lado, Priscila critica a forma como São Paulo reagiu à pandemia na gestão Covas. A Prefeitura preferiu enviar apostilas aos alunos em vez de oferecer aulas online, alegando que boa parte deles eram crianças pequenas. Agora, no fim do ano, vai entregar tablets com chips. “Foi uma reação lenta e deixou uma lacuna muito forte entre os mais pobres, que não têm internet. Não dá para saber como esses livros foram usados”, diz. “São Paulo vai viver momentos difíceis para recuperar o desenvolvimento integral, cognitivo, emocional, social, dos alunos.”

A Prefeitura pretende fazer uma avaliação diagnóstica em todos os estudantes e depois usar os tablets para recuperação online. “Vamos dividir as turmas conforme o desempenho na prova e oferecer o reforço escolar de forma personalizada, com programas para quem aprendeu mais e menos”, disse Caetano.

Apesar de não estar em seu plano de governo, Boulos tem declarado que sua estratégia em 2021 serão “mutirões”. “Quando ele diz mutirões é no sentido de mobilizar a cidade em torno da educação”, disse Cara. Segundo ele, a ideia é fazer uma “reordenação pedagógica construída junto com os professores”, e não grandes avaliações. O educador diz ainda que é preciso levar a “uma verdadeira inclusão digital dos alunos”.

Professores

Os docentes, de maneira geral, estão sempre na fala de Boulos, que promete fazer mais concursos e contratar quem já foi aprovado. A Prefeitura tem cerca de 10 mil aprovados para atuar em educação infantil que não foram chamados. O prazo de validade desse concurso, da gestão de Fernando Haddad (PT), vai vencer e Covas quer seleções menores. Os professores teriam de passar por estágio probatório de dois anos e cursos de formação antes de serem habilitados para atuar na rede. “Queremos só os melhores”, afirma o atual secretário.

“Os professores de São Paulo são os melhores do mundo, mas não têm condições de trabalho”, afirmou Cara. Para ele, os docentes foram abandonados pela gestão atual. “Toda nossa gestão pedagógica vai ser feita junto com eles”. A maioria dos servidores públicos diz em pesquisas que pretende votar em Boulos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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