Mônica é de direita.

Eduardo é de esquerda.

Mônica estudou com Janaina Paschoal, a quem respeita, mas nunca mais se falaram.

Eduardo teve aula com Aloizio Mercadante, a quem respeita, mas não sabe o paradeiro.

Mônica votou no FHC e no Collor. Lula nunca a enganou.

Eduardo votou no Lula ou em branco. Lula era um símbolo.

Mônica acha que foi impeachment.

Eduardo acha que foi golpe.

Domingo passado, Mônica foi às ruas.

Eduardo foi ao jogo.

Mônica acha que Bolsonaro precisa de apoio popular.

Eduardo acha que não existe mais oposição no Brasil.

Mônica gosta da humildade de Bolsonaro.

Eduardo acha Bolsonaro um tosco.

Mônica acha que existe um complô contra Bolsonaro.

Eduardo acha que Bolsonaro é um complô das elites.

Mônica acha que Bolsonaro não consegue governar por causa das intrigas da oposição.

Eduardo acha que as intrigas dos filhos atrapalham o próprio Bolsonaro.

Mônica gosta de como Bolsonaro só fala sobre o que entende.

Eduardo acha que Bolsonaro não entende nada de nada.

Mônica acha Mourão um perigo e está só esperando Bolsonaro tropeçar para assumir.

Eduardo também acha.

Mônica não acha que Mourão traria de volta a ditadura, porque o país mudou muito.

Eduardo acha que militar não gosta de democracia e teme a volta da ditadura.

Mônica acha que todo cidadão deve ter o direito de se defender com armas de fogo.

Eduardo acha que as armas de fogo deveriam ser banidas do planeta, não só do Brasil.

Mônica gostava do Obama, mas Trump é empresário: “E olha só os EUA bombando!”

Eduardo achava Obama um hipócrita, mas pelo amor de Deus: “Trump é uma piada!”

Mônica tem orgulho de um filósofo participando do governo, mesmo morando nos EUA.

Eduardo tem vergonha de um governo onde um astrólogo, morando nos EUA, dá palpite.

Mônica acha Moro um herói porque, no fundo, foi ele quem enterrou o PT.

Eduardo tem nojo do Moro porque, no fundo, foi ele quem enterrou o PT.

Mônica acha que o lugar de Moro é no STF.

Eduardo acha que o lugar que Moro quer é a presidência.

Mônica tem vergonha das bobagens proferidas pela ministra Damares.

Eduardo também tem.

Mônica acha que Ernesto Araujo vai nos colocar numa posição de destaque no mundo.

Eduardo acha que Ernesto Araujo vai confirmar que somos um anão diplomático.

Mônica acha que só falta aprovar a Reforma da Previdência para o País voltar a crescer.

Eduardo acha que essa história de Reforma da Previdência é só uma cortina de fumaça.

Mônica acha que o Congresso quer Bolsonaro refém.

Eduardo acha que o Congresso mantém o País refém.

Mônica acha que Bolsonaro sabe lidar com o Congresso.

Eduardo acha que o presidente não sabe lidar com o Congresso, pois foi só baixo-clero.

Mônica não bota a mão no fogo pelo Rodrigo Maia.

Eduardo não bota a mão no fogo pela Câmara dos Deputados.

Mônica nunca tinha ouvido falar em Davi Alcolumbre.

Eduardo também não.

Mônica acha que não dá para mudar treze anos de corrupção em apenas cinco meses.

Eduardo acha que o caso Queiroz é a prova que nada mudou.


Quando Mônica chegou em casa, Eduardo estava assistindo à uma mesa-redonda de futebol.

– Oi, amor! Tudo bem? Tinha muita gente? — Edu perguntou para provocar, pois já sabia que não havia sido um tsunami.

– Nossa, estava lotado — Mônica respondeu para provocar, porque o presidente avisou no Twitter que a manifestação foi um sucesso. Foi só o que falaram.

Eduardo e Mônica não falam de política em casa para não dar confusão. E pediram uma pizza. Porque é assim que sempre acaba.