O deputado federal Eduardo Bolsonaro desistiu nesta terça-feira, 22, da indicação para assumir a embaixada do Brasil em Washington em meio à resistência de seu nome no Senado e à crise em seu partido. O filho do presidente e atual líder do PSL afirmou que “fica” no País para defender a pauta conservadora e o governo do pai. O anúncio de Eduardo foi feito no mesmo dia em que o presidente afirmou que poderia indicar o diplomata de carreira Nestor Forster para o cargo caso o deputado desistisse efetivamente do posto, destaca o jornal O Estado de S. Paulo.

A decisão de Eduardo, anunciada em pronunciamento no plenário da Câmara durante a aprovação do acordo entre o Brasil e os Estados Unidos para o uso comercial da base de Alcântara, já era esperada por auxiliares de Bolsonaro que afirmavam que, apesar da peregrinação, Eduardo não conseguiu convencer um número suficiente de senadores a apoiarem seu nome – o que poderia levar a uma derrota emblemática para o governo.

Há pouco mais de três meses, o presidente Jair Bolsonaro passou a defender a nomeação do filho para o principal cargo da diplomacia brasileira no exterior. No início de agosto, o governo dos Estados Unidos deu aval para a indicação de Eduardo como embaixador em Washington. Na prática, o governo de Donald Trump deu sinal verde para Eduardo ao responder positivamente ao pedido de “agrément” do Brasil.

No entanto, a indicação jamais foi oficializada no Brasil por meio de uma mensagem ao Senado. Levantamento do Estado entre os senadores mostra que a resistência ao filho do presidente era grande e Eduardo Bolsonaro não contava com os 41 votos necessários para ser aprovado no Senado.

Procurados pela reportagem, 27 senadores declararam ser contra a indicação, e apenas 17 se diziam a favor. Outros 28 não quiseram responder, seis se diziam indecisos e três não foram encontrados. Mesmo depois de ter realizado “campanha” entre senadores, o ‘filho 03’ ganhou apenas duas declarações favoráveis a mais desde agosto, quando foi feita a primeira edição do placar.

PSL

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O movimento do presidente Bolsonaro para colocar o seu filho na liderança do PSL também ajudou a inviabilizar a possibilidade do deputado de assumir a embaixada brasileira. “A liderança ainda está instável, mas, a princípio, só (fico) até o final do ano”, afirmou o deputado.

Na terça, Bolsonaro disse ainda que “no futuro” pode reconsiderar a indicação do filho para embaixada dos EUA. Cotado para a vaga, Forster é próximo ao chanceler Ernesto Araújo e ligado ao escritor Olavo de Carvalho. “Temos lá o Nestor Forster. Ele é um bom nome. Obviamente, o Eduardo desistindo que eu mande o nome dele ao Senado, tendo em vista a importância na política dentro do partido, o Forster é um bom nome para ser consolidado lá”, afirmou na terça Bolsonaro antes de seguir para a cerimônia de coroação do imperador japonês Naruhito, em Tóquio.

Forster era o favorito para assumir a embaixada dos EUA antes de Eduardo ser indicado. Para o presidente, seria mais estratégico o filho ajudar a “pacificar” o partido e a “catar os cacos” deixados pela crise interna do PSL.

Em junho, Forster foi promovido ao topo da carreira justamente para poder ocupar o posto. Um mês depois, no entanto, diplomatas foram surpreendidos pela possibilidade de Bolsonaro indicar Eduardo.

Perfil

A sala de Nestor Forster, no terceiro andar da chancelaria do Brasil em Washington, continua a mesma. Desde junho, quando foi promovido ao primeiro escalão da carreira e alçado ao comando da embaixada brasileira nos EUA, ele poderia ter cruzado o corredor rumo ao maior gabinete do prédio, com vista para a Avenida Massachusetts, mas decidiu continuar no seu escritório.

A promoção de Forster parecia o último passo formal antes de sua indicação a embaixador do Brasil na capital americana, até que o presidente Jair Bolsonaro anunciou a intenção de enviar o filho, Eduardo, para o posto.

Forster fizera, logo depois de sua promoção, um discurso de agradecimento aos servidores da embaixada em tom avaliado por alguns diplomatas como um “pronunciamento de futuro embaixador”. O nome dele foi o mais cotado para o posto nos bastidores desde os primeiros dias do governo Bolsonaro, conforme revelou o jornal, e sua possível indicação veio se fortalecendo mês a mês.

Mas, diante dos planos para Eduardo Bolsonaro, Forster passou a mudar de assunto quando era questionado sobre sua situação na embaixada.

Ele é reconhecido como um conservador, é católico, entusiasta da agenda de costumes do governo Bolsonaro e pratica canto gregoriano. A música nem sempre está ligada a religião. Na juventude em Porto Alegre, o gaúcho tocava chorinho com alguns integrantes do que veio a se tornar a banda Engenheiros do Hawaii.

Amigo de longa data de Olavo de Carvalho, ele foi o responsável por levar o hoje chanceler, Ernesto Araújo, para conhecer o escritor e espécie de guru do governo Bolsonaro, que vive em Virgínia. Forster conta a pessoas próximas que conheceu Olavo através de um amigo em comum dos dois: o jornalista Paulo Francis.


O diplomata costuma dizer que há coincidência de valores entre Brasil e EUA nos governos Trump e Bolsonaro.

AGU

Forster cita o “Manual de Redação da Presidência da República”, assinado pelo ministro do STF Gilmar Mendes, entre suas “obras publicadas” em seu currículo disponível na rede interna do Itamaraty.

Ele foi chefe de gabinete do ministro na Advocacia Geral da União (AGU) entre e 2000 e 2002, quando Gilmar assumiu uma vaga no STF indicado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Antes os dois haviam trabalhado juntos na Casa Civil durante o governo Fernando Collor de Mello (1990-1992). “É um profissional excelente; inteligente, disciplinado. Fomos colegas na Casa Civil durante o governo Collor e ele foi meu chefe de gabinete na AGU. É um grande quadro do serviço público brasileiro”, elogiou Gilmar Mendes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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